Muitos de vocês estão sentados no sofá insatisfeitos com a forma com que vivem, com seu corpo e sua saúde. Provavelmente adiando, dia após dia, aquela tão prometida dieta. “Próxima segunda-feira eu começo”, é o que você diz todos os dias, inclusive nas segundas-feiras. Certamente possuem um grande conhecimento em entretenimento e cultura popular. Conhece todos os seriados, já viu todos os memes que saíram na internet e se refere a ele em conversas casuais com seus amigos. Você sonha em ter uma vida mais agitada e diferente, você sabe exatamente o que precisa fazer, mas nunca faz.

Isso aqui, amigão, é trabalho recompensado

Julia era assim, exatamente como você: viciada em séries de televisão e bem acima do peso que gostaria de estar. Tinha um amigo de escritório que treinava Judô e acabou combinando de experimentar uma aula. Morando na Coréia, seu amigo não queria que ela fosse sem ele. O professor não falava inglês e ele estava frequentemente adiando a visita dela por problemas pessoais. Foi então que ele recomendou uma escola onde tinham vários estrangeiros, mas era para ela treinar Jiu-Jitsu.

Naquele momento, ela tinha muito preconceito e vergonha. A única coisa que ela sabia sobre jiu-jitsu era que Royce Gracie ganhou o UFC em 1993. Imaginava aquela academia cheia de testosterona, um lugar agressivo e sem garotas. E falando de UFC, não é isso que vem à sua cabeça?

Mas correu tudo bem. Ela conheceu algumas garotas nas aulas, os caras eram engraçados e gentis. Ela resolveu continuar. Havia dado o primeiro passo para mudança.

Não foi simples

O caminho não foi fácil. Inicialmente o único objetivo dela era perder peso. Tirar a bunda do sofá e fazer alguma coisa. Nesse ponto, absolutamente qualquer coisa que acontecesse era uma melhora, ela estava satisfeita com qualquer pequena mudança. Mas ela acabou melhorando muito mais do que poderia imaginar.

Quando começou, mal conseguia fazer todo o aquecimento porque não conseguia mexer o próprio corpo direito. Então ela começou a curtir as pequenas vitórias, usando-as de motivação. E qualquer dia ruim que ela tivesse, ela mudaria o foco para o objetivo principal. “Hoje foi um sucesso, eu levantei do sofá e movimentei meu corpo”, dessa forma, cada vez que ela treinava era uma vitória.

Uma das coisas interessantes é ver como ela virou seu lado nerd para os treinos. Como todo bom jogador de RPG, seu objetivo era simplesmente subir de nível. Impressionante o formato usado para se motivar. Como ela mesma coloca:

“Assim como nos jogos, você tem X pontos por nível. Estou atualmente no nível 8, com 815 pontos de experiência, dos 1750 necessários para alcançar o nível 9. Ganhei 489 pontos por fazer 500 agachamentos. Subir 3 lances de escadas, e fazer meus exercícios de fisioterapia. Ah! Mencionei que fiz 500 agachamentos? Há! Boo-Yah!”

Um Ano depois

Antes e agora: 2009/2011

Agora, pouco mais de um ano depois que começou a treinar, ela é uma pessoa completamente diferente. Ela nunca se imaginou fazendo exercícios em casa, por conta própria. Agora fazia flexões para aumentar sua força nos treinos. Perder peso virou secundário perto de fazer algo que realmente gosta. Os resultados agora eram consequência de uma paixão.

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Hoje em dia não parece mais aquela pessoa tímida no tatame, envergonhada com a sexualidade das posições do jiu-jitsu. Agora fala da academia como sua segunda casa. Recentemente viajou para os Estados Unidos e visitou as mais famosas academias de jiu-jitsu que existem por lá.  Uma paixão que cresce e vira um estilo de vida. Tudo muito distante da realidade que ficou perdida no espaço de um ano.

Nesse intervalo ela perdeu 22 kg. Usou o jiu-jitsu brasileiro como principal atividade física e refez sua conduta alimentar. Basicamente diminuindo a quantidade de carboidratos, e parando de comer toda a comida. Deixou de assistir tanta televisão e passou a ter uma vida muito mais ativa. Julia está longe de ser a melhor faixa azul (agora) de jiu-jitsu que existe, mas ela não está nem aí pra isso. Ela aprendeu o valor da dedicação, da motivação, e de se juntar com outras que entendem o seu objetivo. Hoje ela é parte de uma enorme comunidade de lutadores de Jiu-Jitsu, aonde você nunca imaginou que encontraria uma gordinha tímida e nerd.

A mudança inspira

Há pouco mais de um ano, enquanto eu passeava buscando informações sobre artes marciais, mais especificamente jiu-jitsu, encontrei um blog simples, mas com muita informação diferente sobre a prática da arte marcial. A dona do blog não estava apenas dizendo que treinava e como eram os treinos, mas fazendo análises sobre o processo de aprendizado e fazendo relação com seu emprego, professora de inglês como segunda língua (ESL) na Coréia do Sul. Julia estava fazendo análises sobre sua nova vida dentro dos tatames e aprendendo uma nova linguagem corporal, o Brazilian Jiu-Jitsu.

Li imediatamente todos os posts que existiam no blog, alguns mais engraçados, outros apenas desabafos de suas dificuldades. Tudo isso vindo de uma faixa-branca com poucos meses de jiu-jitsu. Eu, com quase cinco anos treinando, estava admirado com toda aquela informação. Começamos a conversar sobre tudo. A página de comentários do blog virou um verdadeiro fórum de discussão. Eu aprendia e era motivado a cada dia.

Mudança e evolução: Acho que a Julia iria gostar desse comparativo

Julia representa, para o mundo, a mudança. A coragem que a maioria das pessoas não tem. Ela me mostra todos os dias que qualquer pessoa pode encontrar uma atividade que gosta, e mudar sua vida. Mostra que qualquer coisa que não seja se mexer, é uma grande desculpa para se manter na zona de conforto. Julia mostra pra todos os marmanjos ai fora, que fez o que vocês não fizeram. Tomou uma atitude.

Mudanças como essas acontecem todos os dias com pessoas a nossa volta, nos inspiramos, mas deixamos o sentimento passar. Como insisto em dizer, devemos procurar algo que traga paixão, que dê um motivo extra para levantar e se mexer, e isso é importantíssimo em todo processo radical de mudança física.  Se envolver com o objetivo é importante, mas seu comprometimento deve ser com caminho, curtindo as mudanças e vivendo sua nova realidade.

sitepdh

Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.