Poucas coisas impactam nossas vidas como as redes das quais fazemos parte. Por meio das influências certas, ou erradas, há muito mais do que imaginamos a nosso alcance.

Às vezes olhamos para pessoas que admiramos e fica difícil entender como chegaram onde estão. Além do próprio mérito e esforço, aposto meu mindinho que, sejam elas quem forem, souberam se inserir em redes que catapultaram seus sonhos. O mesmo valendo para aqueles em posições consideradas vis ou desprezíveis (corruptos, bandidos, picaretas…) – aposto meu outro mindinho que chegaram lá também por meio de redes, apenas escolheram mal.

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Semana passada estive na FIAP para assistir Tom Rielly apresentar o TED Fellows, iniciativa da qual é diretor. Trata-se de um programa que seleciona 40 pessoas para se integrarem a uma rede exclusiva apoiada pelo TED para avançarem mais rápido em suas explorações. Eles estão em busca de pessoas que estejam fazendo a diferença em seus respectivos campos de atuação – de preferência fundadores, inventores, ativistas e exploradores –, em qualquer idade entre 21 e 45.

Nós temos falado do TED no PdH desde 2009 e fomos apoiadores oficiais do TEDx Amazônia. Vários de nossos artigos carregam suas palestras. E, em pleno ano no qual a conferência global deles será realizada no Rio de Janeiro, é um prazer divulgar esse fellowship.

Enviei nove perguntas bastante diretas para o Tom, buscando o mapa da mina para acessar uma das redes de inovação mais poderosas de nosso tempo. As inscrições se encerram dia 16, amanhã.

A entrevista

Tom Rielly (lembra o Louie C. K.,não?)
Tom Rielly (lembra o Louie C. K.,não?)

1. O que faz do TED Fellows único em relação a programas similares ao redor do mundo?

Tom: Nos sentimos privilegiados em estar entre os principais programas do tipo. O nosso tem várias diferenças, mas cinco das mais importantes são:

  • você tem acesso presencial às conferências globais do TED
  • você tem a chance de dar uma palestra na conferência e ela pode ir para o site oficial do TED
  • nós servimos a um grupo de pessoas frequentemente esquecido: fundadores, criadores, inventores e ativistas – cujo trabalho ainda não tenha sido reconhecido
  • somos um grupo heterogêneo de 328 sujeitos em 83 países – passando por áreas como tecnologia, entretenimento, design, ciência(todos os tipos), humanas, arte, cinema, fotojornalismo, direitos humanos, ONGs, empreendedorismo e exploração
  • a taxa extremamente alta de colaboração entre os Fellows

2. Pode compartilhar conosco uma ou duas histórias favoritas sobre atuais ou antigos TED Fellows, que representem o potencial do programa e o que ele pode fazer pelos participantes?

Tom: No TEDGlobal 2012, o cientista britânico Max Little anunciou um esforço para detectar o mal de Parkinson a partir da simples fala em um telefone. Ele recebeu um bocado de cobertura e, ao final da conferência, 40.000 pessoas ao redor do mundo já tinham feito o teste criado por ele, permitindo que alcançasse sua meta de 80.000 bem mais rápido. Em seguida, ele recebeu enorme suporte da comunidade TED e oportunidades resultantes de sua palestra ter ido para o TED.com.

Nina Tandon era uma pesquisadora da engenharia de tecidos humanos na Universidade de Columbia, trabalhando em como desenvolver tecido muscular do coração a partir das células tronco do próprio paciente(e funciona!). Sua palestra no TEDGlobal 2011 foi postada online, resultando em muitas oportunidades, incluindo financiamento para sua startup Epibone, que pretende construir ossos a partir de células tronco. TED deu a ela a credibilidade junto aos investidores, muitos dos quais frequentam as nossas conferências.

3. Há outros programas de fellowship similares ao TED Fellows que você admira?

Tom: Sou um enorme fã do programa de fellowship da Echoing Green e do Aspen Institute’s Crown Fellows, que é bem diferente de nós, e ao mesmo tempo tão alinhado com o que fazemos.

Também fico impressionado com o Acumen Fellows. O fellowship do The Unreasonable Institue é outro impressionantemente eficaz para jovens negócios.

4. Se você não é um TED Fellow, quais outros caminhos você recomendaria para quem deseja participar ou se envolver com a rede TED de modo mais intenso?

Tom: Essa é fácil. Acesse nossos vídeos em TED.com . A maioria tem legendas e transcrição em português. Há legendas em 80 outras línguas e também palestras de pessoas que não falam em inglês.

Vá até um ou sedie um evento TEDx. Para ficar sabendo dos próximos ou como fazer o seu, visite ted.com/tedx . Vá a nossas grandes conferências. É muito caro para a maioria das pessoas, mas é uma grande experiência. A maioria das palestras será eventualmente publicada em nosso site gratuitamente.

Aproveite as lições animadas do TED-Ed. São ótimas para adultos e crianças a partir de 11 anos. Além de serem gratuitas, são uma de nossas gemas ainda não descobertas (só algumas estão legendadas, mas dá pra entender bastante com as animações). Comece um clube TED-Ed em uma escola para ajudar os jovens a aprenderam como fazer uma palestra TED.

Participe em um “desejo” de um dos vencedores do prêmio TED, que recebe U$1.000.000 para mudar o mundo. Leia um livro TED. Tem metade do tamanho de um livro típico e custa apenas U$3. (só em inglês, infelizmente)

5. Acredito ser bastante comum ver muitas pessoas aceleradas, agitadas e extrovertidas nos eventos TED no Brasil – e usando com frequência expressões como “incrível”, “impressionante”, “vai mudar sua vida” e “muito especial”. Sinto que isso pode fazer com que pessoas mais críticas suspeitarem de todo esse entusiasmo em exagero. Eu considero entusiasmo algo bom, mas às vezes tenho a impressão de que algumas pessoas em torno da comunidade TED parecem extremamente ansiosas e mais apaixonadas consigo mesmas e com o mítico ideal de “mudar o mundo” do que com os pés no chão e dispostas a se moverem lentamente e realizarem trabalhos tediosos e não tão empolgantes, mas necessários para realmente mudar nossa realidade.

Isso se conecta à crítica de Benjamin Bratton também(seu artigo “We need to talk about TED” rodou o mundo e teve grande visibilidade), creio.

Essa é uma crítica que considera relevante? Como ela afeta ou se relaciona com a rede dos TED Fellows em sua opinião?

Tom: Os Fellows não estão focados no entusiasmo pelo entusiasmo. Na verdade, muitos deles são extremamente tímidos. O que nos importa são resultados. Menos “eu quero mudar o mundo” e mais “quero salvar o papagaio sul-africano da extinção curando a doença infecciosa que está dizimando eles”.

Ou “quero inventar novas interfaces de usuários manipulando grandes quantidades de dados” ou “quero descobrir exoplanetas, planetas como a terra fora de nosso sistema solar”. Ou “quero interromper o comércio ilegal de pássaros na Amazônia” ou “quero ajudar a trazer dignidade para os prisioneiros em Uganda, que são presos injustamente com frequência, ajudando eles a se formarem em direito pela Universidade de Londres, para que possam articular as próprias defesas e ajudar outros”.

Ou “quero substituir U$25.000 em equipamentos por um celular android de U$250 com um periférico que faz todos os exames que um oftalmologista precisa, para curar os cegos no Quênia”.

Os Fellows são concretos, focados e específicos. Eles tentam realizar um impacto positivo? Com certeza.

6. Haverá algo especial envolvendo os TED Fellows durante o TED Rio? Pode compartilhar algo do que podemos esperar para essa conferência?

Tom: Vinte novos Fellows irão se juntar a trinta Fellows Sênior que estão retornando (eles voltam por mais dois anos). Nós teremos três dias antes da conferência para aprender habilidades, conhecer uns aos outros e ensaiar as palestras. Sempre temos surpresas pra eles, mas infelizmente não posso contar.

Sobre a conferência em si, estamos tentando algo bem difícil: construir um teatro para 900 pessoas mais cômodos para recepção mais um deck sobre a areia (literalmente) em frente ao Copacabana Palace. Ah, e temos que fazer isso em cinco dias.

Também vamos oferecer streamings do evento em português, espanhol e inglês. Por fim, vamos permitir aos moradores do Rio que assistam a conferência gratuitamente em certos locais da cidade, ainda não divlgados.

7. Quais são os princípios centrais por trás do TED Fellows e sua visão? Quais são os aspectos que ajudam vocês a definir o crivo e evoluírem como rede e movimento?

Tom: O TED Fellows é uma rede global de 300 inovadores e pioneiros de um amplo espectro de disciplinas.

Nosso objetivo é ajudar pessoas promissoras na primeira metade de suas carreiras com todos os recursos que o TED possa oferecer. Nós acreditamos que a experiência TED combinada a ser um membro dessa rede tem o poder de transformar vidas positivamente (e temos os números para provar).

O que estamos procurando? Em resumo, o TED Fellows é sobre realização e caráter. Estamos buscando alguém que tenha alcançado algo de grande significado em sua área E que seja seja uma boa pessoa, com empatia e desejo de trabalhar com outros Fellows. Aqui vocês podem conhecer algumas dessas pessoas.

8. Qual é a visão para o futuro do TED Fellows?

Tom: É difícil prever o futuro. Mas nós desejamos criar uma rede de pioneiros que ajudem uns aos outros a alcançar feitos difíceis e significativos, que sejam mentores para a próxima geração e que gerem colaborações que não existiriam sem o programa. E os outros Fellows são o molho secreto para que isso aconteça.

9. Quais aprendizados sobre comunidades com aspirações trasnformadoras você levou anos para conseguir e gostaria de ter descoberto mais cedo?

Tom: Como construir a rede mais poderosa possível composta de interações online e presenciais. Como criar um ambiente no qual a colaboração flua. E que os próprios Fellows podem criar muito do valor do programa para outros Fellows, e que devemos alimentar isso.

Um dos retiros dos Fellows, realizado em 2013
Cena de um dos retiros TED Fellows, realizado em 2013

Se interessou? Então separe umas boas duas horas para o processo, o formulário é longo. Caso tenha batido vontade mas esteja em dúvida sobre seu potencial, arrisque e deixe a critério deles decidir. A inscrição é até a meia-noite de amanhã, sexta-feira.

Guilherme Nascimento Valadares

Fundador do PDH e diretor de pesquisa no Instituo PDH.

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