Independente de qual seja sua opinião sobre a crise hídrica, todos nós temos de concordar que com ela veio pelo menos uma coisa boa: entrou em pauta um assunto e uma movimentação que precisava acontecer, sobre o uso consciente e inteligente da água.

Teoricamente, qualquer casa, condomínio ou apartamento pode fazer uma cisterna para captar a água da chuva e reutilizá-la. Algumas cisternas mais robustas tem até sistema que trata a água captada da chuva para que ela possa ser usada para beber.

Hoje vamos aprender a fazer uma cisterna simples e emergencial, uma cisterna caseira com a qual você pode aproveitar a água para lavar dependências da casa, regar as plantas e dar descarga.

Quem nos ajudou a executar a empreitada foi Leonardo Tannous. Ele é engenheiro ambiental e especialista em projetos de sustentabilidade relacionados ao uso inteligente da água, faz consultoria e dá cursos e oficinas.

Link Youtube | Mini-documentário muito bom sobre o manejo da água

Recomendamos muito que você conheça o trabalho dele. O Leonardo já fez coisas incríveis como construir uma cisterna de grande porte para uma escola pública que estava fechada por conta da falta d’água, despoluir um pequeno lago construindo uma ilha flutuante e projetos de aquaponia, onde ele integra aquário e plantação num ecosistema só.

Construindo uma Cisterna

Essa é uma Mini-Cisterna que o Leonardo usa nos cursos que ele ministra. Assim fica mais fácil entender o que estamos construindo em pequena escala.

Materiais

Aqui vai a lista completa:

  • Uma bombona para armazenar a água – usamos uma de 220 litros, mas você pode usar uma maior ou menor dependendo do tamanho do seu espaço.
  • Tela ondulada 5×5
  • Enforca gato
  • Furadeira
  • Serra copo para furadeira
  • Canos
  • Joelhos
  • Um conector T para canos
  • Cola para canos
  • Lixa para canos
  • 1 torneira para a cisterna
  • 1 registro de esfera

Valor médio com os materiais: R$ 550.

A quantidade de canos e joelhos vai variar com a disposição que a sua
cisterna vai ficar. No nosso caso, como ela ficou no andar de cima e a
torneira no andar de baixo, precisamos fazer muito mais conexões que o
usual.

O diâmetro das tubulações também é influenciado pela área de captação, no caso, usamos tubulações de 75mm ou 3 polegadas.

Antes de comprar todo o material, faça um ensaio das posições dos canos,
pois dessa forma evita-se que sejam colados de forma errada,
desperdiçando-os.

A cisterna é composta por 3 partes: filtro de descarte inicial, reservatório e o ladrão, além do consumo.

Abaixo detalhamos parte por parte o que você precisa para montar cada um.

1. Tubo de descarte

A primeira água da chuva vem cheia de resíduos do telhado, para evitar que ela entre e contamine a água armazenada, a descartaremos por meio de um tubo pré-cisterna.

Para termos água limpa no nosso reservatório, começamos todo o sistema com um filtro que evitará que sujeira como folhas entrem.

Pra isso, cortamos o tubo em diagonal e fizemos dois furos para amarrar a tela com enforca gato.

Tubo cortado na diagonal
Furando nas laterais para colocar os enforca gato

Conecte esse pedaço a um T, pois precisamos de uma saída para a área de descarte e outra para o reservatório.

Sempre que encaixar um cano no outro, lixe primeiro e depois passe a cola apropriada.

Para
saber qual o lado que fica pra cima do cano preste atenção na “bolsa”
na hora de comprar. Essa bolsa é como se fosse um funil para o próximo
cano. Isso faz com que a água não passe pelas emendas, evitando vazamentos.

Indica-se para o tamanho do tubo de descarte, 1L para cada m2 do telhado.

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No final do cano de descarte faremos um registro para poder escorrer essa água descartada.

Faça um furo com “serra copos” na base que fecharia o cano.

Encaixe a flange no buraco.

Coloque o anel de vedação.

Dica: passe óleo/vaselina para colocar o anel, ajuda bastante

Encaixe um joelho na flange para que seu registro não fique torto.

E, por último, o registro.

No nosso caso, tivemos que fazer um caminho maior para a água excedente poder ser descartada. No final, ela ficou assim:

2. Ladrão

Essa parte é simples, apenas conectamos os canos com o fundo vazado para escorrer a água excedente do reservatório.

Coloque uma tela na ponta desse cano, para evitar a entrada de insetos – principalmente do mosquito da dengue – dentro do reservatório de água. Certifique-se de colocar na porção mais alta possível do reservatório, para aproveitar ao máximo o volume disponível.

Tela anti-intrusos

3. Reservatório e captação

O cano que ficará dentro do reservatório deve formar um “U”, para diminuir a força da água que entrará.

Nosso esquema reduzido: estamos falando do final, na ponta inferior à direita

Na base desse “U” faremos um sifão, um pequeno furo para evitar que água fique acumulada.

Terminada a fase de lego com os canos, começamos a fazer os furos no barril. Um para entrada d’água, outro para o ladrão e um para a torneira de consumo.

Dica: Para medir os furos, utilize um resto de tubo e marque com uma caneta.

Usando o tubo como decalque para a marcação do furo com a caneta

No nosso barril o fura copos não dava conta, então fizemos vários mini-furos ao longo da marcação com a caneta e depois tiramos a rodela.

Furos terminados, encaixamos os respectivos canos.

Vamos ficar com três furos:

Furo de entrada: ficou bem na tampa para aproveitar a gravidade e evitar que a água fique acumulada no cano.

Furo do ladrão: na parte superior do barril, mas não na tampa, justamente pra não transbordar.

Furo de consumo: onde encaixamos a torneira, fica na parte de baixo também por causa da gravidade que nos ajuda a poder consumir o máximo possível.

Agora a cisterna está pronta! É só esperar São Pedro fazer o seu trabalho e a chuva cair.

* * *

Adorei o post, quero ter uma cisterna em casa mas estou sem tempo para construir uma eu mesmo

Aqui tem alguns sites e pessoas que constroem cisternas, elas podem te ajudar com isso.

Se vocês conhecerem e indicarem outras pessoas que constroem cisternas (principalmente fora de SP), coloquem nos comentários que nós atualizaremos o post.

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sitepdh

Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.