“Ela não é nem mesmo guilty pleasure. Não é como assistir um filme de Brett Ratner ou ouvir um CD do Kenny G. Nenhum prazer pode ser derivado do uso de Comic Sans.” Convenhamos: ser colocado abaixo do som de Kenny G é pior que xingar a mãe. Pois é este o lugar onde deveria ficar a Comic Sans, de acordo com o pessoal do Ban Comic Sans. O grupo “conclama o homem comum a se levantar em revolta ao mal da ignorância tipográfica”. Parece pesado? É o que consta no manifesto deles.

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Ok, dar fim a um tipo é uma proposta inusitada – e até mesmo meio idiota, se considerarmos outras aflições humanas como a fome, o aquecimento global e, por que não?, Kenny G. Mas fato é que Comic Sans dá uma cara meio “moleque” para qualquer texto.

“Por favor, não use Comic Sans. Somos uma das 500 maiores empresas segundo a Fortune, e não uma barraquinha de limonada.”

Se para nós a empreitada de eliminar um tipo parece imbecil, imagine para Vincent Connare, homem que inventou a Comic Sans! O PdH foi atrás do cara.

Qual a finalidade original da Comic Sans?
Ela foi desenhada quando eu vi a versão beta de um software que tinha como target o recente e emergente mercado doméstico da divisão de consumidores da Microsoft. O programa era o Microsoft Bob e ele usava a fonte de sistema Times New Roman nos balões de diálogos dos parsonagens. Me pareceu errado isso, pois os personagens eram desenhados no estilo de cartoons. Então eu fiz uma fonte que não seria cópia de gibis mas sim de estilo livre e solto como uma escrita à mão. O processo inicial levou dias: era preciso que os programadores da divisão de consumidores colocasse design no formato de arquivo de fonte. O trabalho todo – inclusive a engenharia da fonte – levou mais do que o tempo previsto e coincidiu com o lançamento de outro aplicativo, o Microsoft 3D Movie Maker.

E como a Comic Sans foi parar em programas como o Word?
Ela integrou o 3D Movie Maker mas rapidamente foi adotada internamente pelo pessoal da assistência administrativa, que passou a usá-la em e-mails. Então um gerente de projetos decidiu que ela deveria estar na versão OEM [Original Equipment Manufacturer, espécie de produto que não chega aos consumidores finais mas sim a empresas que imprimem a sua marca nele] do Windows 95 e ser incluída no primeiro Internet Explorer. Assim, ela foi inserida como Web Font – tipos que a Microsoft encorajava os usuários a utilizar quando faziam sites.

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Falando em site, você menciona no seu que a Comic Sans é usada de maneira errada. Tem jeito certo para usá-la?
Ela é frequentemente usada de maneira errada em situações sérias. O uso correto é em todos os outros. Fontes existem para serem usadas. Sempre houve e sempre haverá tipos designados para um propósito e não para outro.

Quando você usa Comic Sans?
Eu não uso. Exceto nas minhas apresentações sobre Comic Sans.

Alguns designers e estudos apontam que a Comic Sans é perfeita para leitores disléxicos. Você sabia disso?
Se ela ajuda pessoas e as pessoas gostam de Comic Sans, acho que é a melhor coisa que eu já poderia ter feito.

Mas há um pessoal que quer banir a Comic Sans. O que você acha disso?
Não penso muito a respeito. Algumas pessoas não gostam dos Beatles.

Não sente nada em relação a essas críticas?
Acho que quem quer banir a Comic Sans não entende muito de fazer tipos.

Você disponibilizou um slideshow chamado Eu Odeio Comic Sans. Nele, há uma foto de um jogador de basquete com o nome grafado na camisa em Comic Sans. Tenho que te perguntar isso: você odeia Comic Sans?
Não. É a melhor fonte do mundo.

sitepdh

Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.