Não é muito difícil imaginar por que sites de namoro não são exatamente bons para construir… namoros. Parece ilógico, mas pense bem: trata-se de um local onde as pessoas se auto-descrevem — logo, omitem suas falhas. Mentem.

Como ninguém está lá para fiscalizar, é preciso ter muita fé no que a outra pessoa diz. Você sempre navega pelos mesmos perfis e, de verdade, a menos que você salve o de uma gatinha nos bookmarks para ver depois, jamais dará atenção a um que já tenha sido visto.

Um estudo publicado na Psychological Science explica com mais profundidade essas falhas. Outro ponto interessante abordado ali é o sistema de sugestões de parceiros, geralmente baseado na combinação de critérios objetivos.

Como usar critérios objetivos para medir probabilidade de atração, se ela própria é completamente subjetiva?

O fato de uma mulher gostar de jogar FIFA Soccer e de ouvir Foo Fighters não a faz automaticamente a melhor opção para mim. Cadê a diversidade, o “os opostos se atraem”?

Melhor maneira de encontrar uma mulher que seja fã de Foo Fighters

Não dá mesmo para descolar umas meninas na Internet?

Dizer “não dá mesmo” seria presunçoso. Há pouco mais de um ano entrei no Badoo para ver o que era aquela coisa que tantos amigos me “convidavam” para conhecer. Calhou de ser um site de namoro, mas se bem utilizado (olha aí!), serviria como um belo lugar para garimpar encontros casuais. Um leitor do meu blog, identificado como Jr. Durand, manda a real nos comentários deste post:

“Chamo o Badoo de supermercado, ou um grande site de pegação — excelente, por sinal. Um dos pontos fortes ao meu ver é que ninguém sabe com quem você se relaciona ou quem faz parte da sua rede. Mas um aviso: quem está procurando namorada ou coisa do gênero, esqueça o Badoo. Lá o negocio é pegar, é diversão. O índice de conversão é excelente, a cada 5 que você convida para o MSN, 4 você pega.”

O próprio estudo citado ali em cima, que desanima os que ainda esperam encontrar o amor de suas vidas na forma de bits, flexibiliza um pouco as coisas mais para frente, segundo tradução publicada pelo Gizmodo Brasil:

“Mantendo tudo o mais constante, ter acesso a muitos parceiros em potencial é melhor do que ter acesso a poucos ou nenhum. Ser capaz de se comunicar com parceiros em potencial com segurança e conveniência oferece um bom precursor a encontros cara a cara com pessoas que você ainda não conhece. A confiança de que parceiros de relacionamento especialmente ruins foram retirados do conjunto de escolha é um prospecto atraente.”

Ou seja, dependendo do seu plano de ação e da sua sorte, as coisas podem funcionar. Certamente é melhor do que não se expor a nenhuma possibilidade. O erro está em ter a certeza inexorável de que sites do gênero funcionam. Na Internet, como na vida, tem que correr atrás.

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Espero encontrar alguém tipo a Meg Ryan de 1998

Um nível além: Circl.es

Dia desses apareceu um link estranho no Facebook, compartilhado pelo Bracht: o Circl.es. O site se auto-intitula “o site de namoro mais simples de todos”, “feito para quem odeia sites de namoro”. Ele usa o Facebook e recorre aos famigerados critérios objetivos, mas traz diferenças fundamentais e ideias novas que, pelo menos em tese, podem resultar em mais finais felizes.

A premissa do Circl.es é colocar em contato pessoas com potencial para se darem bem segundo o sistema. É por isso que não há perfil, nem um monte de avatares em lista esperando para serem clicados e ignorados. Se não houver pessoas que batam com seus critérios e estejam fisicamente próximas, o site fica vazio. Aliás, esse é o estado comum dele. Não é para visitá-lo todo dia, não precisa. Pintou alguém interessante no sistema? O Circl.es te avisa com um email simples, direto.

Ao encontrar essa pessoa com potencial para ser a ideal, o máximo que você vê é um mini-perfil baseado no Facebook com dois botões: “Sim”, para demonstrar interesse, e “Não”, para descartar a pessoa. A pessoa rejeitada jamais fica sabendo que o seu perfil sequer foi visto. Mesmo que você demonstre interesse clicando no “Sim”, algo só vai acontecer se a pessoa também demonstrar interesse pelo seu perfil — que, lembrando, usa uma foto real e o seu nome real. Bem direto.

A sensação que se tem é de que o Circl.es pega tudo de errado, tudo o que sobra, em sites de relacionamentos e expurga sem dó. Muitas dessas coisas existem para serem revertidas em faturamento e métricas para angariar anunciantes; o Circl.es não depende, nem precisa disso, por isso tem tanta gente o achando interessante.


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Mesmo assim…

Sejamos sinceros: é meio clima de fim de festa apelar para sites de namoro. Não te condeno, caro amigo solitário, e confesso que já tentei a minha sorte nisso — também, sem resultados positivos. Ou negativos.

A sugestão que me parece melhor do que qualquer site é: poupe a energia gasta preenchendo um perfil quilométrico para escrever um email para aquela amiga de um amigo da sua irmã e os trocados da mensalidade do Match.com para torrar em ingressos e vodka na balada.

sitepdh

Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.