Desde que um homem das cavernas pegou uma pedra lascada e a poliu, a tecnologia tem sido uma aliada do ser humano. Ela nos ajuda, nos diverte, mas pode ser perigosa também.
Como toda ferramenta, é o que dela fazemos.
E pode ser uma aliada nos desafios que a urbanização extrema impuseram aos governantes. Big Data e internet das coisas são mais do que termos futuristas, são ideias que podem transformar por completo a vida nas cidades.
Smart Cities: a cidade que quer melhorar sua vida
Você já deve ter ouvido falar em Smart City.
Grandes empresas, como IBM – com o “IBM Smart Cities“; Intel – com o “Intel Collaborative Research Institute for Sustainable, Collaborative Cities“; e Microsoft – com “CityNext“, passaram a investir pesado no conceito, o que só amplifica a importância do assunto.
Cidades inteligentes podem afetar a mim, a você, a todos, de uma forma bem positiva. Smart City não é uma reprodução distópica-orwelliana, tampouco um lugar onde tudo é automatizado.
Boyd Cohen, estrategista climático, LEED AP e phD em estratégia e empreendedorismo pela Universidade de Colorado, é uma das mentes pensantes por trás desse assunto mais ativas da atualidade. Ele escreve regularmente sobre o tema na FastCo e em um desses artigos discutiu a definição de cidade inteligente com mais profundidade.
Para ele, uma cidade do tipo é fruto de uma abordagem integrada, visando melhorar a eficiência das suas operações, a qualidade de vida dos cidadãos e o crescimento da economia local.
Esses indicadores são relacionados a seis áreas principais:
- pessoas
- economia
- meio ambiente
- governo
- estilo de vida
- mobilidade
Cohen também diz que o monitoramento de métricas é importante para ver se toda a traquitana tecnológica e as propostas ousadas – comuns a essas iniciativas – estão surtindo os efeitos desejados.
Ao contrário do que as cidades-modelo da China dão a entender, não é preciso levantar uma do nada para que ela ganhe o status de “inteligente”.
Em um ranking das cidades mais espertas do mundo publicado no início de 2012, Cohen deu a Viena, a capital austríaca fundada há mais de 2500 anos, o primeiro lugar:
As 10 cidades mais inteligentes do mundo
- Viena
- Toronto
- Paris
- Nova Iorque
- Londres
- Tóquio
- Berlin
- Copenhagen
- Hong Kong
- Barcelona
Outras cidades centenárias, milenares, figuram na lista. O avanço das cidades é uma questão de adaptação, de atenção às mudanças e foco naqueles três pilares citados acima – eficiência das suas operações, a qualidade de vida dos cidadãos e crescimento da economia local.
Às vezes o maior empecilho nem é de ordem tecnológica, mas sim convencer a população a mudar.
Copenhagem, capital da Dinamarca, é a grande cidade européia com os menores índices de congestionamentos e tem como meta que 50% dos trajetos para o trabalho e escola sejam feitos de bicicleta até 2015. Políticas de incentivo ao uso das magrelas aliadas a ideias de um gênio da arquitetura, Jan Gehl – recomendo ler “Nós não somos dinarmaqueses” para entender o impacto de Jan em seu país –, tornaram a capital dinamarquesa referência num assunto que, na época em que tudo isso começou, na década de 1960, sequer tinha um nome ou um conjunto de ideias basilares.
Boas ideias são a nascente para grandes mudanças.
O MIT possui um programa que leva ao SENSEable City Labs, grupo de estudos avançados dentro do Instituto, estudantes de diferentes lugares do mundo, todo ano, para pensar em soluções para suas próprias cidades. Em 2012 foi a vez do Rio de Janeiro e soluções engenhosas surgiram dessa dobradinha.
O vídeo abaixo mostra algumas delas:
Uma Smart City, por meio de eficiente coleta de dados e disponibilização de ferramentas interativas, conecta os cidadãos de diversas formas, promove a vida ao ar livre, incentiva o contato humano e dá condições para o surgimento de esforços colaborativos.
Também do SENSEable City Labs, o projeto LIVE Singapore!, liderado pelo pesquisador Kristian Kloeckl, processa os dados gerados por smartphones e os aplica a uma plataforma aberta que dá vários insights sobre a vida na capital singapurense.
Imagine que políticas públicas sensacionais podem ser feitas tendo tanta informação nas mãos?
Outro projeto com uma pegada similar, da OpenSignal, quer aperfeiçoar a previsão do tempo com a ajuda das baterias dos smartphones. Utilizando informações que elas geram e passam ao sistema, como o nível de carga, a voltagem e a temperatura da bateria, eles conseguem extrair dados que batem com os das estações de previsão que existem hoje para prever o clima.
O experimento foi realizado em Londres, e se baseou em 40 milhões de leituras realizadas em uma amostra de 50 mil smartphones Android. Os padrões obtidos bateram com o das análises tradicionais. Aplique uma fórmula e voi là, já dá para saber se é bom levar o casaco na mochila ou não.
Além da modernização das nossas cidades, outras completamente novas, pensadas para serem eficientes, agradáveis e auto-sustentáveis desde a planta, estão aparecendo.
São as eco-cidades.
A China, por ser um território bastante poluído e populoso, investe bastante nisso. Tianjin e Wuxi são dois casos promissores. Todas as vantagens de um bom planejamento estão ali, embora os desafios ainda sejam enormes – como em tudo que envolve dinheiro, há um tipo de queda de braço entre os governos envolvidos e a iniciativa privada que, em alguns casos (não os dois supracitados), estão embolando o meio de campo dessas novíssimas cidades.
Quebrando as Smart Cities em pedaços menores, começando pelos maiores: prédios sustentáveis
Tendo em vista os múltiplos pilares e aspectos envolvidos em uma cidade inteligente, vou abordar alguns casos especialmente interessantes relativos a sustentabilidade e transporte.
As Smart Cities são resultado do trabalho em uma direção comum: o bem estar dos cidadãos. O governo tem um papel preponderante e deve criar políticas que estimulem as pessoas e empresas a seguirem esse caminho.
Desde que o mundo é mundo nós colaboramos uns com os outros. Especialmente em uma cidade que se diz “esperta”, seria incoerente tirar da equação essa característica tão humana. Dos mega projetos à separação do lixo na cozinha do seu apartamento, tudo conta, tudo é importante.
A construção civil gera impactos tanto imediatos quanto de longo prazo. Não por acaso, é uma das áreas que já sentem os reflexos das tendências verdes/auto-sustentáveis. Os prédios verdes são realidade, inclusive no Brasil. É possível observar que otimizar a construção e estar atento ao ambiente gera benefícios reais e de longo prazo.
Um prédio é considerado verde quando atende a determinadas demandas pré-estabelecidas por alguém com autoridade no assunto. O Green Building Council emite um dos certificados mais usados, o LEED, sigla para Leadership in Energy and Environmental Design.
Para que uma obra receba este selo de garantia, é preciso atender a certas demandas, como destinação correta dos resíduos da obra, arquitetura que faça uso intensivo da luz natural, práticas para economizar água e quitação dos créditos de carbono.
O material oficial traz todos os pontos considerados na avaliação, em uma espécie de teste: sua obra tem ou fez isso? Marque cinco pontos. Tem janelas amplas para aproveitar melhor a luz do Sol? Marque mais pontos. E assim por diante.
Tais demandas e perguntas são parte dos sete pilares do LEED:
- Escolha do terreno
- Uso racional da água
- Eficiência energética
- Qualidade ambiental interna
- Materiais e recursos
- Inovações e tecnologias
- Créditos regionais
O bacana disso tudo é que, com o tempo, o custo extra do prédio (de 2% a 7%, segundo esta reportagem) se dilui na economia que os condôminos conseguem no simples uso do imóvel. No Rio, quase metade das novas construções corporativas com lançamento para os próximos dois anos terá esse selo de garantia. E, embora prédios comerciais sejam os maiores adeptos dessa nova onda, o LEED está disponível para prédios já erguidos, interiores, escolas, vizinhanças e até casas.
Menos engarrafamentos, menos poluição, mais saúde e apenas duas rodas
Se você me disser que leu ou está lendo este texto parado em um congestionamento, eu acreditarei. Consternado.
Gratuidade no transporte público de uma megalópole como São Paulo? Poderia rolar, mas… você sabe. Não é fácil.
Apresento-lhes a… bicicleta! Ok, pulemos essa parte. Acho que você já conhece a bicicleta. Criada na Europa no século XIX, escorraçada pelos descolados da segunda metade do século XX, as magrelas podem ser, sim, uma bela aposta para desafogar o trânsito no século XXI.
A bicicleta é pequena, não polui e, de quebra, ainda te deixa em forma e faz seu coração trabalhar melhor. Só benefícios, certo? Certo. Mas da mesma maneira que para muitos a propriedade de um carro não se justifica, existe uma galera que não quer arcar com uma bicicleta. Boas ideias vêm, mais uma vez, ao resgate.
Um programa que vem tomando grandes cidades com relativo sucesso é o do aluguel de bicicletas. Em São Paulo e Nova York, são fomentados por duas instituições bancárias, Itaú e Citi Bank, respectivamente. Quem usa, parece gostar bastante.
Mediante uma taxa, os usuários podem pegar as bicicletas, usá-las e devolvê-las em pontos estratégicos da cidade. Simples e funcional. Em um mês a solução nova iorquina contabilizou mais de dois milhões de quilômetros percorridos e quase 50 mil assinantes anuais. As pessoas adoram.
Esses sistemas de aluguel possuem estacionamentos próprios. Mas o que acontece quando a população tem as suas próprias bicicletas e elas chegam a um nível “copenhaguiano” de adoção? Afinal, por menores que elas sejam, muitas bicicletas ocupam muito espaço.
No Japão há um estacionamento subterrâneo totalmente automatizado que recebeu o nome de Eco Cycle.
Desenvolvido pela Giken, estações recebem bicicletas dos japoneses mediante a apresentação de um cartão. Elas são engolidas por um mecanismo que, em buracos de 11 metros de profundidade, “estacionam” até 200 delas de maneira organizada.
Voltou? Passe o cartão novamente. O sistema localiza a sua bicicleta e a traz de volta à superfície. Cada etapa não leva mais que dez segundos, o espaço físico ocupado na calçada é mínimo e o processo todo funciona redondo, sem a interferência de outro ser humano.
O transporte revisitado
“Uma sociedade próspera não é aquela onde os ricos andam de carro, mas sim aquela em que os ricos usam o transporte público.”, diz uma dessas imagens inspiradoras rodando pelo Facebook.
A exemplo do que Copenhague faz há tantas décadas, a convivência entre os meios de locomoção (com uma puxada de sardinha para os mais eficientes, claro) parece ser o caminho acertado.
Às vezes você precisa de um carro e tudo bem. Aí entram os sistemas de aluguel de carros: para necessidades esporádicas.
Em São Francisco é relativamente comum ver carros com um bigodão de pelúcia cor-de-rosa no pára-choque. Após a gargalhada inicial, todo turista se pergunta o que diabos é aquilo. A nova moda que sucederá os cílios nos faróis? Os novos adesivos da família feliz? Acredite: nem um, nem outro.
Os bigodes são identificadores do Lyft, um sistema de caronas colaborativo baseado em apps para smartphones. Você pede uma carona pelo app, motoristas licenciados (identificados com o bigode cor-de-rosa) aceitam o pedido e te levam para onde quiser.
No trajeto a sonzera é a seu critério, e dá para recarregar a bateria do celular. Ao fim da corrida, você decide quanto valeu o passeio. Os desenvolvedores dizem que os valores pagos estão em níveis “satisfatórios” para os motoristas e que 80% dos usuários que experimentam o serviço voltam a utilizá-lo.
O Lyft é um dos serviços de carona compartilhada que floresceram em São Francisco. A descontração do bigode protuberante à frente dos carros que estão no programa rivaliza com a sobriedade do Uber, um programa nos mesmos moldes que recebeu um aporte de US$ 258 milhões do Google Ventures.
Falando em Google, tem aquele carro que dirige sozinho… Se você ligar os pontos, pode sair de lá um sistema de táxi automatizado, sem intermediários. Johnny Cab, é você?
São Francisco, aliás, é um lugar ímpar.
Em uma coluna recente no Bits, o blog de tecnologia do New York Times, Nick Bilton contou como é o seu dia a dia pautado pelo iPhone que carrega consigo. O que mais chama a atenção, sem dúvida, são os apps que “conversam” com a cidade.
Da reserva de mesas em restaurantes com o OpenTable ao pagamento do estacionamento na rua com o PayByPhone, passando pelo Square Wallet para pagar o cafezinho e o SF Climates para previsão do tempo super localizada, todas abordagens inteligentes para facilitar a vida na cidade. Ou talvez amostras grátis da “Cidade Google” que Larry Page aparentemente quer construir.
Cidade inteligente sem cidadãos conscientes não existe
No Brasil, já somos 84,1% vivendo em ambientes urbanos. É muita gente em cidades que, na sua maioria, não foram planejadas para atender demandas tão altas. Muito menos para serem tão high-tech.
Como vimos, uma Smart City não precisa partir do zero, o caminho é aplicar novas ideias adequando-as ao contexto em que se vive. Não é fácil, claro. Existem interesses, existe resistência, mudar é difícil. Mas é possível.
Indo além, passa por assumirmos nossa responsabilidade pelo espaço urbano – não esperando sentados por governantes resolverem o problema.
E com toda essa efervescência, não se assuste se invenções dignas de ficção científica começarem a surgir no trajeto que faz todo dia rumo ao trabalho.
Mecenas: Experience Intel
Todo o percurso de tecnologia convergindo para que as pessoas tenham uma vida melhor.
A Intel traz para o Brasil a “Experience Intel. Look Inside”™, a turnê mundial para apresentar aos consumidores uma linha de dispositivos inovadores, incluindo Ultrabooks™, 2 em 1, tablets, all-in-ones e smartphones.
Na sexta-feira e sábado, das 10h às 22h, e domingo, das 14h às 19h. A participação é gratuita.
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