Carnaval de 2013.

Estávamos em um grupo de quatro amigos em São Francisco Xavier, uma cidadezinha montanhosa, próxima ao Vale do Paraíba, em São Paulo. Fazíamos um “anti-carnaval”, na verdade. Levamos pouca bebida – duas caixinhas de cerveja e meia garrafa de uísque para quatro pessoas e quatro dias -, muita comida, filmes e séries para passar o tempo entre as prosas, as refeições e as horas de sono e descanso. Estávamos entre amigos, a ideia era realmente curtir aquele momento calmaria.

Bebíamos, em média, duas latinhas de cerveja cada um por dia, comíamos muito. Uma das atividades era reassistir alguns episódios de Mad Men.

No segundo dia, depois de uma manhã calma, almoço e cochilo, resolvemos colocar o plano em prática. “Vamos acompanhar o Don Draper nos copos de uísque e nos cigarros fumados?”, alguém propôs meia hora antes da sessão. Todos toparam.

Pra quem não assistiu Mad Men (indico!), os personagens homens bebem muito, principalmente durante o expediente na agência de publicidade onde a série se passa, entre os anos 60 e 70.

Bebe-se para ter criatividade, para se preparar para uma reunião, para comemorar uma conta conquistada, enfim. Tudo é desculpa para virar um golão de uísque ou rodadas e mais rodadas de chope. E neste único dia em que resolvemos acompanhar os personagens, confesso, acabamos bebendo também!

Abril de 2004.

Eu entrara na faculdade de jornalismo há pouco mais de três meses. Acontecia neste dia o primeiro churrasco da turma. Eu, com 18 anos completos, nunca tinha bebido nada de álcool (meus primos me zoavam, meus amigos também, meu pai chegou a confessar que achava estranho eu nunca ter bebido. Falarei do meu pai mais adiante). Naquela sexta-feira resolvi que ia experimentar algo que não fosse cerveja – pois me era muito amarga. Papo vai, papo vem, chega um copo verde. Era Píper com alguma outra coisa. Dei aquele puta gole, senti que era bem doce e fiquei bebendo.

Às 22h30 já fazia mais de uma hora e meia que eu tinha largado o copo que me desvirginara do álcool, e eu já tinha experimentado capirinha, vodka e cerveja.

Eu, que ainda não tinha passado no CFC, aceitei a primeira carona, de um colega que morava perto da minha casa. Cheguei orgulhoso da minha noite. Eu me sentia batizado.

Pelos próximos quatro anos, saí bastante às quintas e sextas-feiras (às vezes quarta) e encher a cara era uma das diversões.

Nada anormal na vida de um jovem no início dos anos 2000.  

Dezembro de 1998.

Meus pais estavam em processo de separação já havia mais de um ano. Eu chegava de volta à capital depois de um dia em Aparecida, com a tradicional excursão que meu avô fazia e levava a família. Naquele ano meu pai não tinha ido conosco.

Sem entrar nos pormenores da história, ao chegar em casa lembro-me que aquela foi a primeira vez que vi meu pai muito bêbado, sem ser engraçado, muito pelo contrário. Anos mais tarde, viemos descobrir que, diferente de quem passa por um episódio eventual de consumo excessivo de bebida, meu pai tinha uma doença. Ele era alcoólatra e precisava de apoio e ajuda profissional.

Depois desse dia, eu passei a observar que muitas das vezes em que eu ria ainda criança do meu pai alcoolizado, na verdade, não tinha sido de fato engraçado. Durante uma internação numa clínica de reabilitação ele me disse que o lema do combate ao alcoolismo é ter consciência de que cada dia que você passou sem beber é uma vitória.

2016.

Não precisei ir longe para resgatar algumas memórias marcantes relacionadas à bebida. Acredito ser assim para todos. Antes que entremos numa vibe “não bebamos”, eu digo que tomar aquela cervejinha com os amigos é uma das coisas mais gostosas da vida cotidiana. E chegar em casa em segurança e não ter aquela dor de cabeça arrebatadora no dia seguinte, também. Em São Paulo, pelo menos, tem sido mais fácil voltar para casa à noite sem precisar do carro. E mesmo quando não é, pensar em como voltar faz parte da programação para que a festa seja gostosa, sem gerar nenhum risco. Para você e para os outros.

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A frequência com que nos damos o direito de beber também colabora para essa fluidez da vida. Não exaltemos esse empoderamento que o álcool parece nos dar.

Não é mais homem quem bebe mais, nem mais descolado, nem mais mulher, nem mais forte, nem mais nada.

Eu sempre solto uma célebre frase – de minha própria autoria, acho – nas mesas de bar com amigos: “A cerveja parece ter sido feita pra gente molhar a goela enquanto discutimos a vida com os amigos, né?!”.

E todos se colocam a refletir sobre isso: “ah sim, eu bebo bem menos hoje em dia”, “chega um ponto que eu paro, pois já sei que é meu limite”, “hoje eu nem tô bebendo”.

Eu quero acreditar que eu e meus amigos já estamos realmente tendo essa consciência e que todos aqui, de certa forma, concordem conosco.

“Chapar o coco” ser a maior diversão dos melhores “rolês” está errado. O direito nos é garantido, mas quando tomamos aquele porre certamente passamos a não ter total controle do que estamos fazendo com nossa liberdade. Às vezes dá merda. Quem aqui já não pegou o carro depois de beber ou tem um amigo que bateu o carro bêbado – ou até situações piores.

Eu boto fé nessa galerinha mais nova que está vindo aí. Boto fé que a molecada já esteja mais consciente, assim como muitos de nós já nos sentimos hoje. Essa turma nativa da internet, que tem a oportunidade de ler muito sobre muita coisa tem que estar usando a tecnologia para entender a vida um pouco mais cedo que nós. Os exemplos dos nossos pais e avós já fazem algum efeito em nós que, consequentemente, já estamos educando nossos “bixos” a não beber tanto e a terem consciência de que a bebedeira não é sinônimo de mais cool.

Com tudo isso, proponho que nós propaguemos juntos a mensagem da conscientização, da alegria que cabe a cada um dosar.

Cada um sabe seu limite. Se não sabe, é bom entender que ouvir um “pega mais leve” de alguém querido é um privilégio. Não vamos continuar aplaudindo os “bobos da corte”, pois eles não sabem o que fazem (pelo menos naquele exato momento). Repito minha divagação do início: voltar pra casa feliz pelo momento que acabamos de viver não tem preço. Trançar as pernas, só se for para dançar na pista da balada.

Mecenas: Heineken

Uma pesquisa global da Cervejaria Heineken revela que 75% dos jovens passaram a limitar a quantidade de álcool na maioria de vezes que bebem. Os números surpreendem positivamente e mostram que a moderação está se tornando uma escolha cada vez mais presente nessa geração.

Conduzido pela analista de tendências Canvas8, o estudo entrevistou cinco mil consumidores de cerveja, entre 21 e 35 anos de idade, em cinco países: Brasil, Estados Unidos, Holanda, Inglaterra e México. O levantamento é uma iniciativa da plataforma ‘Enjoy Heineken Responsibly’ da marca Heineken, que investe anualmente 10% de sua verba de mídia em ações de consumo responsável.  Saiba mais aqui.

Danilo Gonçalves

Um cara alegre e gosta de ser lembrado assim. Jornalista de formação, com um pé na publicidade, gosta de Novos Baianos, Doces Bárbaros e Beatles. Já gostou de Calypso e como todo gay que se preze, é fã da Beyonce.