Antigamente se usava talas, mas faz tanto tempo que não faz parte do meu tempo — eu, que estou há quase 30 tempos nesse mundo — e os novos tempos trouxeram o gesso. Toda e qualquer fratura leva gesso para imobilização. Dá pra estocar, é relativamente barato, fácil de fazer (e faz na hora), se molda exatamente às necessidades anatômicas de cada pessoa e… bem, é isso. Gesso.
A minha geração foi provavelmente a última a passar metade da vida sem e com todas as revoluções tecnológicas que chegaram com a Internet. Por isso o pessoal dos anos 80 e 90 são tão nostálgicos com seus brinquedos analógicos, sua criatividade, a luta que sempre tiveram perante as facilidades dos dias de hoje. Mesmo assim, esse último “baque” tecnológico ocorreu enquanto ainda éramos jovens e isso fez com que o trauma fosse menor, o embate fosse menos estranhos, afinal, com 12 ou 13 anos, tanta coisa ainda é novidade que as coisas realmente novas acabam sendo engolidas nesse mar de descobertas.
Mas agora não. quase com 30 anos e sempre fui tratado com gesso. Já quebrei o braço direito, dedos das duas mãos, dedo do pé direito, tornozelo esquerdo. Operei duas vezes por conta dessas fraturas. Sempre usei gesso. Sempre.
Agora não quebro mais nada (seguindo a ordem, agora é vez de bacia, coluna ou cabeça. Dispenso a experiência de fraturar qualquer uma das três), agora que pode não ser mais gesso.
O designer Jake Evill criou um conceito de imobilizador feito em impressora 3D que, em breve, poderia substituir o velho gesso nas situações de fratura. O próprio Jake explica melhor em seu site:
Depois de muitos séculos de talas e gessos complicados que têm sido a ruína de coceiras e mau cheiro de milhões de crianças, adultos e idosos, nós finalmente trazemos apoio à fratura para o século 21. O exoesqueleto Cortex fornece um suporte altamente técnico e apoio que é totalmente ventilado, super leve, dá para usar no chuveiro, higiênico, reciclável e elegante.
O exoesqueleto Cortex se utiliza de um exame de raio-x e um scanner 3D de um paciente com uma fratura e gera um modelo 3D impresso.
Um exoesqueleto de plástico resistente feito em uma impressora 3D que corrige todos os defeitos de um velho e obsoleto gesso. É leve, não deixa a pele sem ventilar, evita todos aqueles problemas chatos com o banho, deixa você coçar à vontade porque ele é completamente aberto e, claro — feito por um designer –, bonito. O próprio Oshiro, minha fonte para essa descoberta, mandou essa:
Eu usaria mesmo sem nada quebrado!
E aí eu coloco mais um item para a minha lista de coisas que eu contarei para meus filhos e netos, aquelas coisas que soam tão antigas que eles ouvem só porque parece fantasia. Meu pai, por exemplo, adora me contar histórias de quando ele viajava de motona década de 70 e as estradas não eram, nem de perto, parecidas com as de hoje, que antes era “só uma pista pra ir e uma pra voltar”, que antigamente “pra ir pra Marília, era outra coisa, era bem mais longe, era bem mais ruim, era uma pista só, era assim e assado”.
Preparem-se. Daqui uns anos vocês dirão para seus pequenos que “ah, eu usei muito gesso. Não, antes não era essas coisas bonitas de nylon não, a gente entrava era no gesso mesmo. Eram umas salas com um cheiro forte e todas sujas de um pó branco que, misturado na água, dava o tal gesso”.
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