No dia 8 de junho, nós organizamos um pequeno evento para arrecadar agasalhos. Foi a nossa forma de contribuir para a ação #AmorNaCaixa, que estava acontecendo pelo Instagram, na qual as pessoas usavam a quantidade de likes da foto como meta de arrecadação. Contamos com a ajuda do Operário da Arte, da Usina da Forma e das bandas Bardo & O Banjo e Vivi Limeira & Kaoki, além de vários amigos e pessoas próximas para tornar possível esse movimento.
Foi uma tarde bastante agradável, com churrasco, música, carros antigos e bom papo rolando.
Depois, a Luiza e o Ian – da Monstro Filmes – fizeram um belo vídeo para podermos sentir um gosto do dia.
Link Youtube | Pra sentir um pouco do clima da tarde
Ao final, conseguimos arrecadar 337 agasalhos que vão junto com brinquedos, alimentos, e mais roupas arrecadadas previamente pela Usina da Forma para Sangradouro, uma comunidade indígena Xavante no Mato Grosso.
Essa foi a parte bonita e divertida. Porém, agora, entramos em uma nova etapa da ação, que é efetivamente levar todas essas doações até lá.
Mas antes de seguir o assunto, pedi para a Verônica Gunther apresentar a vocês a Usina da Forma, explicar de onde veio esse contato com os índios e qual a real importância de fazer esses recursos chegarem a eles.
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O que faz a Usina da Forma, Verônica?
A Usina da Forma é uma associação idealizada pela artista plástica Malu Knoblauch e foi fundada por 17 pessoas. Entre elas, eu. O que a gente quer é bem simples: inspirar a possibilidade e dar a oportunidade de viver em um mundo melhor. Fazemos isso promovendo o desenvolvimento autárquico dos aspectos sociais, econômicos e culturais das comunidades que atendemos.
Hoje essas comunidades são de 3 tipos: indígenas, artistas de periferia e deficientes físicos e mentais.
Fazemos isso porque acreditamos que todos tem o direito de ser quem é. Eu, você e qualquer um, em qualquer circunstância. Infelizmente, muitos se esquecem desse direito próprio, seguindo uma vida sem propósito, sem brilho e pior que isso, julgando quem luta pela sua felicidade.
Os índios Xavantes da reserva de Sangradouro
Foi isso que fizemos com os Xavantes da reserva de Sangradouro – MT. Eles fazem parte do grupo que se encontra em uma situação mais complexa, mais cinza. E entre a Usina da Forma e os Xavantes existe um elo, o Kleider Risso. Ele é membro da Usina da Forma e também faz parte da família Xavante. Adotado quando pequeno por um dos grandes caciques da reserva, foi criado como índio e hoje é respeitado por todos eles. Formado em Direito pela USP, ele luta pelo seu povo na linha de frente.
Foi com um pedido de ajuda que recebemos dele que chegamos na reserva de Sangradouro para entender o que acontece por lá. O que encontramos foi muito triste. Uma terra indígena, que um dia já foi esplendorosa, invadida pelo homem branco e sua “modernidade”, adoecendo toda a comunidade Xavante que não recebe instrução alguma de como lidar com problemas modernos. Doenças, cultura, lixo e civilização devastaram aquela região.
Nas palavras do Luiz Pellecchia, membro fundador da Usina da Forma, descendente indígena e parte da equipe desta expedição:
“A aldeia esta em completo abandono pelas autoridades e departamentos civis e religiosos que se instalaram nas terras dos Xavantes. Hoje, temos mais de 2.000 pessoas entre jovens, idosos e crianças vivem lá e não sabem o que fazer com as doenças e pestes que estão vindo junto com o lixo acumulado. As crianças estão morrendo, estão todos doentes.”
A cultura deles foi oprimida, seus ensinamentos se perdem a cada geração e os jovens não conseguem entender o valor e o orgulho de ser Xavante. Eles seguem para as cidades próximas, perdem suas raízes e enfrentam sem instrução alguma um modelo de vida com o qual seus pais não sabem lidar. Drogas e álcool são os exemplos mais fáceis para dar sobre essa destruição.
Contando de forma curta uma longa história, eles invadiram uma reunião tradicionalmente exclusiva dos anciões e líderes Xavante para pedir que a Usina da Forma fosse autorizada a entrar e trabalhar com eles naquelas terras. Pediram ajuda para resgatar a cultura, a vida e a felicidade daquele povo guerreiro que um dia já foi o mais próspero e temido das terras brasileiras. Hoje a Usina da Forma tem a permissão dos Xavantes para seguir atuando junto a eles.
E o primeiro pedido que recebemos foi muito simples: roupas e mantimentos para o inverno.
Nessa época do ano a temperatura à noite chega a 0°C e, durante o dia, aos 30°C. Um choque grande que causa alta mortalidade infantil.
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Colabore com a vaquinha para levar os agasalhos e mantimentos
Hoje, o caminhão está cheio para levar aos Xavantes. Porém, ainda precisamos arrecadar R$5 mil para levar essas doações até Sangradouro. Esse valor inclui o combustível de ida e volta, alimentação do motorista por uma semana e os pedágios. A estadia fica por conta dos Xavantes e do motorista. O caminhão também já está pronto para partir.
Fizemos uma vaquinha online para arrecadar esse valor. Colabore com o que você puder, qualquer quantia é útil.
O inverno já está aí.
Nota do editor: se por acaso, o valor de R$5 mil for ultrapassado, já avisamos que ele tem destino certo: implementar o projeto de reciclagem da Usina da Forma para os Xavantes. Eles ensinarão a fazer adubo com o lixo orgânico e a separar o restante corretamente, com o objetivo de diminuir as doenças causadas pelo lixo na reserva. A coleta seletiva ficará à cargo da Prefeitura de Primavera do Leste, uma cidade a duas horas de Sangradouro.
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