Uma pesquisa canadense do Memorial University of Newfoundland revelou que crianças só registram memórias a partir dos 4 anos de idade. E tudo o que vivemos antes dessa idade? Simplesmente se perde?
Creio que damos valor às coisas que não temos. Eu, por exemplo, devo ter menos de 10 fotos dos meus primeiros anos de vida. Com o passar dos anos, com mudanças geográficas e familiares, as recordações foram se perdendo e as memórias sendo construídas a partir de relatos de parentes. No meu caso, não sobraram imagens. Só as histórias.
Há pouco mais de 1 ano, li um texto do Rodrigo Cambiaghi contando a história sobre como ele e a esposa Natália criaram um e-mail para sua filhinha que até então tinha 1 ano. Essa história me marcou muito. Incontáveis vezes eu a li em voz alta em rodas de amigos em uma sexta-feira à noite. Ainda hoje me emociono ao ler, fico com lágrimas no olhos e voz embargada. Mesmo assim, peço desculpas pela emoção para os presentes e sigo lendo, um tanto constrangido. Na época, eu ainda nem era pai do Noah, ele sequer tinha sido concebido.
Quando veio a gravidez, esse texto me motivou a criar uma conta de e-mail antes mesmo de saber qual o sexo do nosso bebê. Os nomes seriam Noah, se fosse menino ou Valentina, se fosse menina.
Imagine só, você ter 8 anos e poder ter acesso a uma biblioteca multimídia (essa expressão sempre me parece tão anos 90) com fotos, vídeos e textos sobre dezenas, centenas ou — por que não — milhares de acontecimentos da sua infância.
Você e eu não nos lembramos, mas como será que foi a primeira vez que você viu sua amada vovó? A primeira vez que foi à praia? O primeiro pedaço de chocolate que foi devorado? O primeiro acampamento com os escoteiros? A imaginação é o limite e isso nos fez ter certeza de que esse repositório de histórias seria um dos melhores presentes que o Noah poderá ganhar quando souber ler.
Com a vida corrida de São Paulo, falta de ritmo de escrever sobre coisas da vida e todas as desculpas que eu poderia inventar, ainda não tínhamos começado a enviar os e-mails para o Noah. Precisávamos de algo relevante para ser O primeiro.
Em Dezembro de 2017, o Noah já estava mocinho, com seus plenos 3 meses, e decidimos comemorar o aniversário do meu pai de 70 anos, seu avô Donato, em Santa Catarina, em Fevereiro. Essa seria uma viagem que alguns familiares próximos fariam para nos encontrarmos em uma cidade na metade do caminho para todos.
Pronto. Este seria o ponto de partida. A primeira história em seu álbum de memórias.
Decidi compartilhar com vocês, os leitores do Papo de Homem, o primeiro e-mail. A primeira memória do meu filho.
Um marco na nossa vida, sem sombra de dúvidas. Espero que sirva de inspiração e que essa memória traga tanta felicidade para vocês quanto traz para nós.
O início de uma biblioteca de lembranças da sua infância
Noah,
Não sei exatamente quantos anos você terá quando ler este e-mail. Sete ou oito, talvez. Isso só o futuro poderá dizer.
Esse é o primeiro e-mail que sua mãe e eu te enviamos.
Estamos nos esforçando para registrar os momentos que consideramos mais importantes na sua infância para você poder mergulhar nessas lembranças e esperamos poder compartilhar contigo este momento de olhar o passado e recriar as coisas que você viveu. Somos muito gratos por você ter nos escolhido e a cada dia que passamos contigo, aprendemos coisas novas.
Esse é o relato da primeira viagem de carro que fizemos juntos para comemorar o aniversário de 70 anos do seu avô Donato, meu pai.
Todo esse relato aconteceu em Fevereiro de 2018.
A sua primeira viagem de carro pelo Brasil
Você era bem pequenininho e faria 5 meses no mesmo dia da festa de aniversário do vovô. Para ter uma ideia, você ainda nem engatinhava mas estava ficando craque em rolar para um lado e para o outro. Sempre muito esperto, atento e risonho.
Como a festa aconteceria na casa dos pais da mamãe, em Tijucas, Santa Catarina, estávamos cogitando ir de avião ou de carro. Como tínhamos visitado seus avós 2 meses antes de avião, decidimos por fazer essa viagem de carro apesar de ser bem longa (mais de 9 horas). Achamos que seria uma experiência diferente e que nos recordaríamos dela para sempre. Estávamos certos.
Na época, o papai tinha um site na internet chamado PapodeHomem e uma marca de carros super legal chamada MINI, emprestou um carrão pra gente fazer essa viagem especial. Fomos você, mamãe e o papai. Tivemos que deixar o Hugo e a Nine, nossos gatos, com o dindo Gustavo e a tia Bruna em São Paulo pelos 13 dias que durariam a viagem e isso nos deixou tristes porque éramos muito apegados.
O carro era super grande. Cabia um montão de coisas. Na verdade, a grande maioria das coisas eram suas. Tínhamos que levar o seu carrinho de bebê, seus brinquedos preferidos (em especial a galinha pintadinha de borracha pela qual você era apaixonado), o bebê conforto, suas roupas, fraldas e por aí vai.
Saímos de casa em uma manhã ensolarada de quarta-feira, rumo à casa dos seus avós em Tijucas, cerca de 620km de distância.
Como você sabe, o papai não é o maior fã de dirigir, mas por motivos de ser sua primeira viagem de carro, o dia estar lindo e o carro ser incrível, eu estava super feliz e determinado a dirigir as 9 horas seguintes sem reclamar.
As horas passaram voando. Nós escutamos músicas, cantamos, você sorriu muito e assistiu uns bons 15 episódios de galinha pintadinha (era um desenho que você gostava tanto que não piscava). O céu estava lindo em todo o caminho e sempre que parávamos, as pessoas ficavam encantadas com você. Acho que os teus olhos sempre expressivos, chamavam muito a atenção de todos.
Planejamos fazer uma viagem com muitas paradas para você poder mamar e descansar. Essa foi mais uma lição que você me deu, Noah. Ser menos ansioso, mais calmo, não ter tanta pressa na vida. Aprendi a relaxar e a viver cada momento contigo. Sei que vais crescer e em um piscar de olhos estarás caminhando com passos firmes e determinados. Quero que cada um desses momentos seja vivido com presença, que eu esteja lá, de verdade, com você.
Quase chegando na casa da vovó, você já estava cansadinho e decidimos parar em um paradouro que sua mãe sempre ia quando criança, próximo a Joinville. Assim que saímos do carro, eu te peguei no colo e, abraçados, fomos tentar a sorte em uma máquina caça-brinquedos. Mesmo nunca tendo conseguido pegar um boneco de pelúcia, eu estava confiante de que te daria um de presente. Algumas moedas depois, saímos de mãos abanando para encontrar a mamãe que se esbaldava com uma xícara enorme de capuccino.
Chegando na casa dos avós
Seus avós, Tânia e Roberto, planejaram a sua chegada nos mínimos detalhes. Para você ter uma ideia, eles reformaram boa parte da casa para te esperar. É, quase fizeram uma casa nova. Mudaram o piso do chão, pintaram as portas e parte da casa que ficou linda e pronta para a sua chegada.
Assim que chegamos, a vovó Tânia estava com lágrimas nos olhos de tanta emoção. A saudade era tanta que ela nos pediu para colocar o seu berço no quarto dela para poder ficar contigo todos os minutos possíveis durante essa viagem. Como eles moram longe, não é sempre que conseguem te ver e, graças às chamadas de vídeo, não morrem de saudades.
Você estava passando por uma fase de estranhar novos ambientes e pessoas, ficamos apreensivos com qual seria a sua reação ao chegar, para não magoar a vovó. Você, como sempre, muito bonzinho, sorriu e se jogou para o colo dela, instantes após entrarmos na garagem.
A primeira vez que você tocou na água do mar
Queríamos muito poder te levar para conhecer a praia, com areia, água salgada e tudo o que tinhas direito. Como você só tinha 5 meses, não podíamos te passar protetor solar, então, o dia precisaria estar nublado e a visita bem rapidinha para fazer essa experiência acontecer.
Um dos presentes que demos para o vovô Donato foi ser a pessoa que iria entrar contigo na água (só na beirinha, é claro) pela primeira vez. Esperamos um dos dias da viagem que não tinha sol para ir à sonhada praia. O lugar escolhido foi a praia da Sepultura que fica na região de Bombinhas, um verdadeiro paraíso.
Como era carnaval, a praia estava muito lotada com pessoas jogando frescobol, fazendo mergulho para ver os peixes e se divertindo.
Sua mãe e eu estávamos um pouco preocupados com a quantidade de pessoas, com a claridade nos seus olhinhos, com a temperatura do dia e da água e todas as coisas que pais de primeira viagem pensam em um momento como aquele. Mas, apesar de tudo, estávamos felizes por você conhecer um lugar que amamos.
O vovô Donato era só sorrisos. A sua reação, ao entrar no mar, foi de susto. Você estava acostumado à água quentinha dos banhos conosco e, de repente, estava tocando em uma água fria, em meio a uma multidão, em um ambiente que não era nada familiar. Nesse momento, tiramos a sua primeira foto na praia. A cara, com certeza, era de quem não estava gostando. Essa foto vai ficar e vamos rir juntos, pode esperar.
O aniversário de 70 anos do seu avô Donato
Não lembro de outra vez em que conseguimos reunir grande parte da família. Esse marco aconteceu por dois motivos. Ser o aniversário do seu vovô Donato e por você estar presente. Como seus avós paternos moravam no Rio Grande do Sul, os maternos em Santa Catarina e nós em São Paulo, momentos como esse eram muito especiais e raros. Sua mãe e eu estávamos com os olhos brilhando por poder proporcionar esse momento a você.
O dindo André e sua família pegaram um ônibus que durou 12 horas de viagem só para passar 2 dias contigo. A sua tia-avó Fabiane e sua família também vieram de Florianópolis e um amigo do seu papai, o Marcelo, também veio com a esposa Jaque.
O aniversário era do vovô mas a estrela foi você, que passou de colo em colo, sorrindo e cativando as pessoas. Colocamos o seu berço no local onde todos estavam para você ficar mais confortável. O papai fez um churrasco, como manda a tradição da família, e para a alegria de todos. A festa começou no horário do almoço e durou até o anoitecer, com muitos banhos de piscina dos seus primos, Kiko e Isadora, e histórias do passado que faziam todos rirem.
Fomos te levar no lugar que o papai e a mamãe se conheceram e casaram
Como você sabe, sua mãe e eu nos conhecemos em uma estrada em Santa Catarina. Eu, na época, escrevi um artigo que sempre me emociono ao ler contando, toda a história em detalhes. Nos casamos menos de 1 ano depois, nesta mesma região, e aquele virou um lugar consagrado para nós dois. Sempre que vamos visitar a vovó, passeamos pela região lembrando de tudo que vivemos.
Em um dia ensolarado, nós e teus avós Tânia e Roberto, fomos almoçar na tão famosa região chamada Interpraias. Ela começa em Itapema e vai até Balneário Camboriú. A estrada é linda, cheia de flores e perfeita para fazer boas fotos para você poder recordar da primeira vez que esteve onde sua mãe e eu nos apaixonamos.
À tarde, fomos a um lugar onde as pessoas vão para tirar fotos, pois tem uma vista espetacular, juntando a estrada sinuosa com a praia com pedras logo abaixo. O sol estava brilhando e ficamos por uns 15 minutos tentando tirar boas fotos. Os teus avós te seguraram no colo e nós conseguimos várias bem bonitas. O teu avô fez questão de enquadrarmos um veleiro que passava em alto mar para ele guardar em uma só foto as suas duas paixões, velejar e o seu único netinho.
Uma viagem para recordar para sempre
Os 13 dias passaram em um piscar de olhos. Nunca vamos esquecer de poder compartilhar contigo momentos tão gostosos. Banhos de piscina com os primos, ir à praia a primeira vez, participar de um aniversário de 70 anos como centro das atenções, ser paparicado por todos a todo instante. Essa viagem foi uma reunião de encontros, de gestos simples e bonitos.
Noah, expressar os sentimentos e abrir o coração para colocar tudo isso no papel é uma tarefa muito difícil. Prometo que aos poucos vou pegando o jeito e espero poder registrar muitos acontecimentos da sua infância. Quero escrever sobre você começar a engatinhar, a andar, a se expressar fluentemente, a dizer eu te amo, a brincar com os nossos gatinhos.
Estamos descobrindo uma nova vida contigo. Uma vida cheia de realizações, marcada por dias intensos e valiosos. Por sorrisos e por choros que dão significado a dias normais, que passariam batidos se você não existisse.
Te amamos.
Mecenas: Maxi-Cosi
Temos um desejo em comum: entender a fundo o que é ter uma família nos dias de hoje.
Somos uma marca holandesa de cadeirinhas de carro e carrinhos de bebê, que há mais de 30 anos trabalha para inovar e criar produtos cada vez mais seguros.
Muitos de nós também somos pais e além de desenvolver produtos com base em nossa própria experiência, sentimos que é essencial ouvir e interagir com você. Queremos que você tenha a cadeirinha de carro mais segura e prática para o seu dia a dia e um carrinho de passeio que possa sempre confiar. Por isso, criamos soluções e cuidados com as crianças, desde o seu primeiro passeio. Nossa experiência nos motiva a oferecer opções que permitam a famílias inteiras – pais, mães, filhos e avós a tirar o maior prazer de seu precioso tempo juntos! A segurança fica com a gente, curtir os momentos em família é com você!
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