A gente mal falava a mesma língua. E ele praticamente não falava língua nenhuma, era um homem de poucas palavras.

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Quando suas mãos me tocavam, eu tinha a sensação que meu corpo era para ele como aquele caminho que a gente conhece de cor, prevê cada curva, capaz de refazer até de olhos fechados. Quem já viveu pelo menos um pouco sabe o quanto é difícil experimentar a sincronia perfeita no sexo.

Há anos quebro minha cabeça na busca por esse Santo Graal, tentando descobrir o que, afinal, transforma uma simples trepada em um momento de êxtase memorável.

Os melhores sexos da minha vida se converteram em imagens cinematográficas no meu cérebro que não se apagam nunca. Por mais que eu tente estabelecer uma linha de similaridade entre os protagonistas dessas cenas, na ânsia de encontrar um padrão replicável, não é simples chegar a uma conclusão lógica. O homem de poucas palavras não tem nada em comum com o moleque da mochila verde.

Uma cena do filme Um sonho de amor, com a atriz Tilda Swinton, me ajudou a pensar um pouco mais sobre esse fenômeno, que acontece com tanta raridade na vida. Nesse trecho que me chamou atenção, são os corpos de dois amantes que ficam em evidência na tela, em closes que alternam a pele nua e crua com elementos da natureza.

Não há espaço para a fala.

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Por mais que o diálogo possa ajudar em alguns momentos, a linguagem do sexo vai muito além de qualquer palavra. Nessa hora, é como se os corpos tivessem um código próprio, uma forma de comunicação primitiva que às vezes funciona deliciosamente bem e às vezes não passa de ruído.

Tudo depende de como cada um dos corpos envolvidos age nesse conjunto único que se forma em torno do prazer e do instante propício a essa conexão sublime.

A relatividade da intimidade

O suprassumo do prazer nem sempre está relacionado ao grau de intimidade que existe, pelo menos não no sentido de familiaridade. Conheço casais intensamente íntimos, porém sexualmente mornos.

A eficiência da linguagem sexual tem a ver com uma intimidade particular, instantânea, uma proximidade natural que acontece ou não, independentemente do tempo de convivência, como se fosse uma capacidade intrínseca de leitura dinâmica dos corpos.

Quando essa comunicação dá certo, o sexo vira música, com uma harmonia tão essencial quanto invisível conduzindo as notas.

Traduzindo para situações da cama, é aquela viradinha telepática na hora certa, a coisa toda que vai mais fundo justamente quando as pernas relaxam, a chupada na intensidade perfeita, os olhares de desejo que se encontram e os corpos que se entendem até nos desencaixes.

O difícil é prever quando isso vai acontecer.

Como saber se aquele tesão desesperado irá se transformar em uma trepada inesquecível? Horas de boa conversa podem não significar nada depois que as roupas se vão. Ou podem significar tudo. Equilibrar o nível de sacanagem entre as pessoas é uma equação complexa e cheia de variáveis, até porque o ponto de partida (cada um de nós) não é estático.

O sexo que me inebria hoje não é o mesmo de ontem.

Torre de Babel sexual

Quantas trepadas inesquecíveis vêm agora à sua mente?

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Vou escrever qualquer frase aqui para lhe dar mais um tempo para pensar. Quantas vezes na vida você teve a sensação de ser guiado pelo seu corpo e estar em sintonia total com o prazer de outra pessoa? Quantos dias, noites, horas ou minutos maravilhosos de sexo você já experimentou?

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Para o filósofo suíço Alain de Botton, autor do livro Como pensar mais sobre sexo, assim como a felicidade, uma noite maravilhosa de sexo talvez seja uma preciosa e sublime exceção. Ele fala mais sobre isso nesse trecho do livro:

“Durante nossos melhores encontros, raramente percebemos quanto somos privilegiados. Somente quando ficamos mais velhos e relembramos, repetida e nostalgicamente, alguns poucos episódios eróticos, começamos a nos dar conta da mesquinhez com que os deuses do sexo nos lançam suas dádivas – e, portanto, que uma noite maravilhosa de sexo é realmente uma extraordinária e rara façanha da biologia, da psicologia e do timing.”

Na Torre de Babel sexual, é mesmo difícil e raro encontrar corpos e almas que falem exatamente a mesma linguagem, por essa razão, os momentos em que isso acontece tornam-se tão memoráveis. Acredito que essa sincronia quase improvável, porém não impossível, também esteja relacionada à capacidade simultânea de entrega, de abandono, durante o sexo.

E estou pronta para pular nua no precipício no próximo minuto, para facilitar essa linguagem tão codificada, para aprender quantos idiomas forem necessários para burlar a mesquinhez dos deuses do sexo. Ainda não envelheci tanto quanto o filósofo a ponto de aceitar que uma noite maravilhosa de sexo é um fato apenas extraordinário.

Quero sexo maravilhoso também na minha vida ordinária. Insisto em prender entre minhas coxas cada mínima chance de orgasmo. Vou engolir com o mesmo entusiasmo cada um que chegar à minha boca. Não desisto de encontrar a linguagem universal da foda perfeita. Continuarei tentando me transformar em uma leitora exemplar de corpos, desejos explícitos e implícitos, fantasias e perversões.

Quero viver de exceções, de colecionar episódios eróticos que deixem marcas no meu cérebro e na minha pele. Recuso-me a levar uma vida sexual apenas mediana, com trepadas sensacionais esporádicas, daquelas que se contam nos dedos. Quero todos os prazeres que o sexo pode me dar, todos os fluidos que meu corpo jorrar, todos os gozos que eu puder assistir.

Decifrar a linguagem do sexo se tornou quase uma obsessão, o meu caminho para o cálice sagrado da trepada divina.

Mecenas: Olla – Dia do Sexo

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Sexo é música, é dança, é muito mais do que um ato. Sexo é prazer, é amor, é vida. E por que não ter um dia só para celebrar o sexo? Um dia para o Brasil discutir abertamente sobre o assunto, mostrar o lado positivo e quebrar tabus. Um dia para acabar com preconceitos, disseminar o sexo seguro e, é claro, fazer sexo!

Essa é a proposta do pessoal das camisinhas OLLA: criar um dia em homenagem ao sexo no calendário brasileiro e nada mais sugestivo do que 6/9, não é?

Se você concorda com essa ideia, assine o manifesto em favor à criação do Dia do Sexo no site da OLLA.

Francesinha

Francesinha é uma mulher que gosta de falar e escrever sobre sexo. Também adora contar suas experiências e aventuras. Depois que descobriu a masturbação, aos 19 anos, nunca mais parou. Para estimular a libido feminina, criou o blog <a>Para Pensar em Sexo</a>