Todo mundo viu ou ouviu falar sobre as polêmicas declarações do deputado Jair Bolsonaro, dadas algumas semanas atrás, em relação aos homossexuais, aos negros e à defesa dos governos militares.

Numa época em que defender causas sociais e nobres está na moda, o que se viu foi um mar de opiniões contraditórias e tão ofensivas quanto as próprias palavras de Bolsonaro. Mas, pelo bem das minorias, a ofensividade só pode ser vista a partir de um lado.

O deputado tem todo o direito de se colocar contra o homossexualismo e a favor da tortura. É a opinião dele e deve ser respeitada sim – embora possa ser discutida e debatida, mas não da forma imbecil como tem sido feita. Li pessoas inteligentes e de opinião forte se contradizendo em notas de repúdio ao deputado. Sobrou até mesmo para o CQC, pelo simples fato de ter exibido a entrevista, sendo atingido pelo estúpido argumento de que declarações assim não podem ir ao ar.

Vamos censurar os discursos a favor da censura, olha como somos geniais!

Estaríamos carentes de novas Ágoras?

Mandemos também à cadeira elétrica aqueles que são a favor da pena de morte, assim já nos livramos dessa raça! E são essas as mesmas pessoas que fazem discursos a favor da liberdade de expressão. Pelo visto essa liberdade só pode existir quando a expressão é compartilhada por todos.

Não me entendam mal, acho o excelentíssimo deputado Jair Bolsonaro um imbecil com uma capacidade particular de falar merda. Mas sei distingüir a ideia da pessoa e concordo com alguns pontos polêmicos. Sou contra o sistema de cotas, a favor da pena de morte, a favor do aborto…

Alguns pontos defendidos pelo deputado são inclusive compartilhados e exaltados pelo super-herói brasileiro, o Capitão Nascimento – aquele mesmo que tantos ferrenhos críticos Bolsonarianos apóiam e idolatram. As opiniões ditas homofóbicas são também compartilhadas pela Igreja Católica.

O problema é que, por vir de alguém que já possui repúdio natural de parte da opinião pública, isso acabou resultando em um êxtase coletivo. Uma demagogia geral construiu um discurso politicamente correto que agrade à maioria, de forma a calar as opiniões contrárias.

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Vivemos uma época chata. Uma época onde qualquer coisa que fuja do senso comum é taxada de preconceituosa, na qual piadas que sempre existiram passam a ser consideradas ofensivas. As escolas passam a vigiar um bullying que sempre existiu, agora culpado por muitas tragédias da atualidade.

Rica Perrone foi chamado de homofóbico por causa um excelente texto em seu blog questionando justamente a hipocrisia da sociedade atual em defesa dessas causas nobres. Eu também não quero ter um filho gay. Na verdade também não quero ter um filho pagodeiro ou um filho médico. Não posso ser acusado de homofobia por isso. Os maiores homofóbicos são os homossexuais que consideram uma ofensa serem chamados de gays; tais como os maiores racistas são os pretos que considerem uma ofensa serem chamados de pretos.

Os pontos mais polêmicos das entrevistas de Jair Bolsonaro foram muito semelhantes às declarações de Datena contra os ateus. Se fossem proferidas contra alguma religião específica, teriam causado uma comoção semelhante à que hoje se põe a favor dos homossexuais. Mas o discurso-comum se põe a favor da existência de um Deus, então, estando a maioria de acordo, não há necessidade de discussão. A não crença dos ateus deve ser tratada de forma tão digna quanto as crenças religiosas e sua opinião deve ser respeitada com a mesma intensidade que você respeita a opinião de um deputado a favor da ditadura. Sim, tudo se discute.

E vamos assim caminhando para uma sociedade onde todos crescem aprendendo o discurso padrão e sendo repelidos a pensar o contrário. A ditadura que George Orwell previu no livro “1984” parece impossível, mas seguimos assustadoramente para a ditadura que Aldous Huxley estruturou em “Admirável mundo novo”. Uma imposição do senso-comum, onde as pessoas são condicionadas a viverem de acordo com as regras e leis sociais. Uma ficção científica terrivelmente semelhante ao caminho que seguimos hoje.

Paulo Henrique Martins

Programador, dançarino amador de rockabilly, piadista fracassado de Twitter (<a>@paulovelho</a>) e babaca profissional. Escreve em seu blog pessoal