O colapso não é só da educação. É de uma visão de mundo inteira. Se você é estudante universitário ou se já passou por essa experiência, provavelmente sentiu que algumas coisas não estavam nos seus devidos lugares. Ou, talvez, elas repousavam tanto sobre seus devidos lugares que impossibilitavam qualquer mudança efetiva. Hierarquia, competitividade exacerbada, egos inflados, autoritarismo de professores, estruturas engessadas, falta de propósito e pertencimento verdadeiros.

Fato é que, ainda que tais fatores estejam presentes de maneira endêmica em todos os cantos de nossa sociedade, na universidade eles parecem incomodar ainda mais.

Talvez a inquietação extra seja pelo frescor da juventude associado ao contato de alguns com filósofos, sociólogos, educadores e historiadores corajosos, que não se furtaram a denunciar a crise de humanidade que estamos vivendo. Crise de democracia — da qual carecemos em seu sentido maiúsculo, ou seja, um sistema de decisões e ações pautado na autonomia do sujeito, contrário ao fantoche de democracia que nos acostumamos a enxergar nos Estados-nação. Isso tudo pode parecer que está longe, mas está perto. Está fazendo as pessoas adoecerem.

Uma pesquisa de 2010 da Universidade de Bedfordshire, no Reino Unido, mostrou que 53% dos acadêmicos ingleses sofrem de depressão ou algum outro transtorno psíquico. No Brasil, eu sei e você também sabe, a realidade não é muito diferente.

Solidão, bloqueio criativo, síndrome do impostor, autocobrança excessiva: todos são sintomas de um paradigma individualista e hierárquico que assola não só a educação dita “superior”, mas também o mundo do trabalho e as relações sociais.

Caminhando em outra direção, mas no mesmo sentido, um estudo de 2013 da Universidade de Oxford aponta que até 47% dos empregos nos Estados Unidos serão extintos nos próximos 25 anos em função da tecnologia. Em todo o mundo, novas profissões e formas de trabalho estão surgindo a cada instante.

Pessoalmente, acredito que a missão da universidade é muito mais ampla do que formar profissionais para o mercado, mas, ainda assim, não podemos ignorar que está cada vez mais difícil permanecer “empregável”. E se nossas instituições educacionais continuarem nos fazendo engolir sem digerir conteúdos que outros agentes  — a burocracia estatal, a coordenação do curso, os professores — definiram como importantes, essa realidade será bastante difícil de mudar.

O que ocorre é que as pessoas estão afim de se expressar. Nós queremos ser valorizados pelos nossos tesouros internos, pelas nossas potencialidades, e queremos conhecer e trabalhar com a potencialidade do outro. As decisões em relação a nossas aprendizagens, nós é quem precisamos tomá-las.

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Se o mundo acadêmico está doente e o mercado se transforma a cada instante, então o que nos resta é assumir o controle da nossa educação. Por muito tempo, nos referimos a quem faz isso como autodidata, aquele serzinho meio antissocial e totalmente nerd que corre por fora do sistema. Chegou a hora de ressignificar a figura do autodidata — talvez criando um novo nome, aprendiz autodirigido — , no sentido de alçá-la a um novo patamar. Afinal, se Albert Einstein, Santos Dumont, Joseph Campbell, Jimi Hendrix, Frida Kahlo e Aaron Swartz tinham algo em comum, é que todos eles eram autodidatas.

Aprender de maneira autodirigida não precisa (nem deve) ser um caminho solitário.

Diversos projetos ao redor do globo estão partindo desse princípio para recriar o conceito de universidade, agrupando gente em torno de estudos e ações significativas. É o caso por exemplo da Swaraj University, na Índia, que busca regenerar culturas locais por meio do estímulo à aprendizagem autônoma, da Wayfinding Academy, nos Estados Unidos, que questiona as métricas tradicionais de sucesso a fim de ampliar a liberdade dos estudantes, e até mesmo do Classroom Alive, na Suécia, um modelo open source de aprendizado que conjuga momentos de estudo independente com jornadas coletivas a pé ou de bicicleta.

No Brasil, também surgem novas possibilidades.

Multiversidade, projeto do qual participo, é um espaço que nasceu para reunir pessoas em torno de uma outra visão de mundo, a qual se reflete em seu paradigma educacional baseado em comunidade, autenticidade e liberdade. Nosso propósito é potencializar a construção de conhecimento a partir das questões que mais movem as pessoas, de modo a incentivá-las a colocar em prática projetos reais junto com mentores e outros aprendizes. Não há disciplinas obrigatórias, provas nem professores no sentido tradicional, e sim oportunidades de aprendizagem, portfólios e facilitadores.

Como se pode ver, há esperança, e ela não está brotando dos castelos hierárquicos que erigimos, e sim de pequenos pontos luminosos que se multiplicam cada vez mais. E você? Que educação quer construir para si? E que experiências não deseja repetir de jeito nenhum?

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As inscrições para a primeira turma da Multiversidade vão até dia 14 de abril. Se, assim como eu, você também acredita nas profundas transformações sociais que uma educação libertária pode causar, te convido a embarcar conosco nessa jornada. Saiba mais e inscreva-se neste link.

Alex Bretas

Cofundador da <a>Multiversidade</a>