Na grande maioria dos países as estatísticas já apontaram que os homens são a maioria dos infectados e estão morrendo mais do que as mulheres por conta do novo coronavírus. Recentemente um instituto de pesquisa ligado à Universidade College London, analisou que na Itália 65% das mortes foram de homens e na Espanha, 60% . (Dados atualizados semanalmente)

No Brasil, não está sendo diferente. Segundo último dado do Ministério da Saúde, 58% dos óbitos por covid-19 foram homens. No estado de São Paulo, do total de mortos até o dia 26/04, 994 homens e 706 mulheres. Essa tendência se repetiu na China, França, Alemanha, Irã, Itália e Coréia do Sul.As razões desse dado vem de uma possível combinação: fisiologia e comportamento. 

Fisiologia: funcionamento do corpo

1. Sistema imunológico masculino tende a responder menos

Estudos da biologia humana já mostraram que existe diferença entre gênero e resposta do sistema imunológico. Pesquisas anteriores desenvolvidas pelo professor Philip Goulder, do departamento de imunologia da Universidade de Oxford revelaram que os homens têm respostas imunes antivirais menores para uma variedade de infecções, embora o Covid-19 ainda não tenha sido estudado.

2. Testosterona pode piorar infecções respiratórias

Os hormônios também podem desempenhar um papel importante na imunidade. Pesquisas mostram que o estrogênio (hormônio mais presente nas mulheres) aumenta as respostas antivirais das células imunológicas. Já a testosterona, (hormônio mais presente nos homens) tende a ser imunossupressora, ou seja, reduz a atividade do sistema imunológico. Essa é a razão pela qual homens com níveis mais altos de testosterona tendem a responder pior a infecções respiratórias, por exemplo. 

Comportamento

3. Homens recorrem menos ao sistema de saúde

A infecção pelo Covid-19 pode ser pior em homens pela demora em procurar ajuda médica. Segundo o relatório de política nacional de atenção integral à saúde do homem, os homens têm dificuldade em reconhecer suas necessidades e recorrer a serviços de saúde em situações não emergenciais. 

Quando frequentei o ambulatório de Geriatria do Hospital das Clínicas de São Paulo entre os anos de 2013 a 2017 fazendo a minha pesquisa de mestrado, percebi que tinha muito mais mulheres utilizando o Sistema de Saúde que homens. A falta de homens no atendimento ambulatorial inclusive dificultou a coleta de dados da minha pesquisa, já que eles eram a população de interesse.

4. Consumo de álcool e cigarros

Os homens ao redor do mundo tendem a beber e a fumar mais do que as mulheres, aumentando a chance de desenvolver doenças, como a hipertensão, doenças cardiovasculares e algumas doenças pulmonares crônicas, que seriam fator de risco da Covid-19.

5. Subestimar a gravidade do vírus

Uma pesquisa do YouGov, com mais de 2.000 adultos na Grã-Bretanha, realizada em março de 2020, concluiu que os homens têm mais chances de subestimar a gravidade do vírus.

Continuando com os dados dessa pesquisa,  24% dos homens acreditam de forma errada que o coronavírus é "igual à gripe comum" em comparação com 16% das mulheres.

6. Mais homens acreditam que o vírus só atinge grupos de risco

Também  é maior o percentual de homens que acreditam que o coronavírus afeta apenas pessoas idosas e com problemas de saúde pré-existentes, 14% dos entrevistados contra 8% das mulheres. 

7. Mais homens duvidam dos dados do Ministério da Saúde

Eles também duvidam das recomendações do Ministério da Saúde, como ficar em casa para impedir a propagação do vírus, com 10% dizendo que isso é falso em comparação com 2% das mulheres. 

8. Menos homens mudaram os hábitos de higiene

Nessa mesma pesquisa do YouGov, descobriu-se que, nas últimas semanas, a maioria dos homens e mulheres tinha tomado medidas para se proteger do Covid-19, melhorando sua higiene pessoal (por exemplo, lavando as mãos com mais frequência e usando sabonete).

A pesquisa revelou 67% dos homens passaram a adotar tal medida, contra 74% das mulheres. Ou seja, a questão do autocuidado ainda é maior nas mulheres. Lavar as mãos é fundamental porque as nossas mãos são consideradas um meio para a transmissão. 

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9. Homens estão menos familiarizados a ficarem no ambiente doméstico.

Culturalmente, entende-se que o lar é um ambiente de domínio feminino, enquanto os espaços públicos seriam do domínio masculino. Essas expectativas de gênero podem levar homens a se sentirem inferiorizados por estarem confinados no espaço doméstico e por terem de dividir as tarefas de casa. 

Este artigo da UFPE, sobre a apropriação do espaço doméstico, aponta como as experiências e percepções de como se relacionar com este ambiente e espaço de convívios são diferentes na perspectiva feminina e masculina.

Em casais heterossexuais, os homens são mais frequentemente os responsáveis pelos sustento financeiro da casa, segundo o IPEA. O medo da crise econômica, junto com a diminuição da renda e ao risco do desemprego podem afetar os níveis de ansiedade dos homens, gerando inseguranças financeiras. Esse cenário, principalmente por não ter previsão de fim, pode impulsionar homens a se arriscarem e quebrarem o isolamento na intenção de manter suas atividades profissionais. 

  • Homens usam menos máscaras ?

Quando tive que sair de casa, reparei também que, pelas ruas, se nota mais mulheres usando máscara que homens.  Na Austrália um estudo que apontou que tocamos o rosto 23 vezes por hora, sem querer. Isso é grave porque os nossos olhos, nariz e boca são portas de entrada para o coronavírus.

O uso das máscaras, além de prevenir que gotículas emitidas pela respiração ou fala cheguem à outras pessoas, também nos lembra concretamente de não tocar o nariz e a boca.

Não encontramos dados que apontam se homem usam mais ou menos máscaras, afinal, os órgãos de saúde ainda estão aprofundando as pesquisas sobre a eficácia do uso desta. 

Como os homens podem se dedicar mais ao cuidado?

Se apropriando mais do ambiente doméstico e do cuidado familiar.

A quarentena nos faz repensar aqueles "papéis" nos quais passamos muito tempo acreditando. Agora temos uma oportunidade de dividir responsabilidades e, para aqueles que têm filhos, participar mais ativamente da rotina das crianças. 

Para conseguir se apropriar mais da casa, algumas práticas são importantes. Planeje seus horários e pense em assumir algumas tarefas que talvez sejam novas para você: Definir a hora do trabalho, os intervalos das refeições, considerando o tempo de preparar a comida. Separe um dia ou horário para organizar e cuidar da casa e, também divida as tarefas de cuidado com as crianças.

Estamos passando por uma transformação transformação mundial e os homens que tiverem a oportunidade podem aproveitar o momento para repensar a participação e organização familiar.

Repensando seus higiene e prevenção

Lembre-se que uma vez que um da família se contamine com o coronavírus, todas as pessoas da casa se tornam vulneráveis. Dessa vez, cuidaSe 

Não demore para procurar ajuda

Infelizmente em vários casos, os homens só procuram ajuda quando já estão num quadro mais agravado – isso vale tanto para o Covid-19, quanto para outras doenças, como ansiedade e depressão.

Cuidar de si não é sinal de fraqueza. É ter coragem o suficiente para se reconhecer humano, e portanto vulnerável, e buscar a sua saúde e da sua família. 

Reconhecer que estamos vulneráveis, sem conseguir ter controle da situação, pode ser muito angustiante. Mas, você não precisa enterrar este sofrimento e lidar com ele sozinho. Converse com a sua família, sejam sinceros sobre seus medos para que juntos vocês possam trocar cuidados e um fortalecer o outro. Se julgar necessário busque ajuda de um profissional de saúde mental. 

Nós também estamos aqui!

Conte para a gente, comentários, como vocês têm se cuidado nesse isolamento. Qual tem sido a parte mais difícil?

Carolina Caetano

Psicóloga clínica, mestre em análise da cognição em homens. Interessada em contribuir para que cada um conheça as suas potencialidades. Instagram: @psicologa_carolinacaetano