Uma coisa simples de notar no cinema atual é que quase tudo gira em torno de fórmulas. Seja qual for o gênero, a direção ou roteiro, é fácil perceber que existem receitas que sempre são seguidas e permitem que a gente adivinhe cada passo dos protagonistas, coadjuvantes e figurantes.

Numa comédia romântica, os mocinhos vão sempre se conhecer, se tornar inimigos, ter algum problema e depois se reconciliar. Num filme de ação, o ator principal sempre vai tentar evitar um conflito, ser forçado a se envolver com ele e, no final, matar um monte de gente.

Num filme do Michael Bay, as coisas vão explodir, explodir, continuar explodindo e no final vão parar de explodir, pra gente saber que o filme acabou e é hora de sair do cinema. Como eu disse: fórmulas.

Michael Bay e a arte perdida da reciclagem de roteiros e explosões

De todas as escolas do cinema, nenhuma é mais refém das fórmulas do que o pornô. A pornografia, esse campo cinematográfico tão antigo e que tanta influência tem em nossas vidas. Que outro tipo de filme te obriga a limpar o histórico do seu navegador? É, de todos,o o que apresenta menores variações em sua estrutura narrativa, seu campo temático e seus métodos de atuação.

Ainda que muitos possam dizer que isso não é bem um problema, afinal, “a gente nunca assiste mais de dez minutos mesmo”, esse tipo de coisa mostra que ainda não aprendemos a aproveitar corretamente todo o potencial que um gênero como o pornô pode oferecer.

Afinal, sobre o que é um filme pornô? Sexo, claro. E o que é sexo? Apenas a penetração, a mecânica, o ato físico em si? Não, não é. Sexo é a quase total ausência de preliminares, com todo diálogo se resumindo a um “oi, eu sou o Rocco” seguindo de gritos de “fuck me”, “in the ass” e “in my face?”. Negativo, amigo.

Sexo são seis caras, um balde, um cabrito e uma mulher amarrada? Baseado na minha experiência, não também. Sexo é você pedir uma pizza e aparecer um cara fortão com o pênis dele dentro de um caixa de papelão? Bem, se for assim nunca mais ligo pro Domino’s.

Exatamente porque o sexo é bem mais do que isso que o pornô tem nos apresentado, até hoje, que o PdH decidiu ir mais longe do que qualquer outra revista masculina virtual jamais foi e apresentar, aqui, outros campos tão ou mais instigantes do que o sexo, que o cinema pornô deveria abordar. Venham conosco nessa viagem.

O processo de sedução

Uma das grandes dissociações entre o cinema pornô e a vida real é o fato de que o sexo é totalmente descontextualizado, existindo sem nenhuma relação com o processo de sedução. Quase sempre os personagens apenas são apresentados na tela e, em segundos, ficam dotados de uma volúpia incontrolável.

A ansiedade faz os roteiros pornôs pularem direto pro que “interessa”

Começam a se atracar lascivamente, partindo pras vias de fato antes mesmo que você consiga entender o que está acontecendo. Bem, a vida real não é assim. Quero dizer, se for me avisem porque tenho frequentado as festas erradas.

Está mais do que na hora de finalmente abordarmos a chamada “seduction porn”. Uma hora e meia de filme envolvendo apenas o processo de sedução (um jantar, uma festa, uma noitada num pub), começando com o momento em que os personagens se conhecem, o primeiro drink, chegando na primeira proposta direta e terminando quando eles finalmente decidem se vai ser na casa dela.

Ou então, quando chegam na casa deles o cara descobre que não tem camisinha, todas as farmácias estão fechadas e a garota declara que não toma pílula há seis meses. Excitante? Provavelmente não. Sexy? Talvez, quem sabe. Real? Com certeza.

O sexo virtual

Em termos de Internet, por que não abordar também essa tendência cada vez mais presente que é o sexo á distância? Afinal, a pornografia está apenas no corpo, no físico, ou ela existe também nos outros sentidos e sons e palavras podem ser tão sensuais quanto imagens ou sensações? É exatamente lá que eu quero chegar: num filme com 60 minutos de puro sexo virtual, no qual várias telas de MSN vão passando, seguidamente, desde o clássico “o que você ta vestindo?” até o “peraí, preciso pegar um papel-toalha”.

Existem dificuldades teóricas, claro. Todo mundo sabe como a comunicação não presencial é dada a confusões como “vem cá com o papai” seguido de um “peraí, é meu pai que está aí?” e como a comunicação a distância pode apresentar problemas: “estou aqui peladinha, gatão” mais um “sério? eu tô aqui baixando a temporada de Entourage. Desculpa, vou me concentrar”. Mas, com certeza temos muito a aprender com esse gênero sobre o poder das palavras, a sensualidade de gemidos e ronronadas e a importância de ter um rolo de papel higiênico no quarto.

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A ausência de sexo

Outra dissociação clara entre a pornografia e a vida sexual real é a idéia de que as pessoas transam sempre que sentem vontade, o que, como qualquer um que já teve 16 anos sabe, não é verdade. Várias vezes, por uma razão ou outra, passamos por períodos mais ou menos prolongados em que claramente não fazemos tanto sexo quanto gostaríamos, seja porque nossas namoradas estão em viagem, nosso trabalho atrapalha nossa vida pessoal, nossos médicos estão nos dando orientações complicadas de seguir ou apenas porque, bem, não estamos dando sorte. A vida é assim, não precisa chorar.

Por essas e outras, o cinema pornô deveria abordar também esses períodos. Sim, a tensão da ausência de sexo. O suspense da busca por uma possível parceira que diga sim. O drama das noites rolando na cama e acordando abraçado com o travesseiro em posições condenadas por ortopedistas e padres católicos. O terror de perceber que está ficando com tesão só de folhear o catálogo da Hermes da sua tia ou conversar com uma atendente de telemarketing. Sim, amigos, experiência humana é isso aí.

A broxada

Uma experiência sexual quase nunca abordada pelo pornô, onde todos os homens (isso inclui idosos, anões e palhaços) conseguem manter longas e duradouras ereções, a impotência sexual apresenta um enorme campo cinematográfico que pode ser explorado com resultados muito positivos.

Isso porque, trazendo á tona esse problema numa produção pornográfica, você não apenas ajuda a minimizar os danos psicológicos que essa experiência pode causar num homem, como ajuda até mesmo os caras que não passaram por isso a conviver melhor com suas inseguranças – “ah, se já aconteceu com o Peter North é porque pode acontecer com qualquer um”.

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Como sugestão de estrutura para o filme, pensamos numa divisão em 3 atos, sendo o primeiro ato composto de 20 minutos de preliminares, o segundo ato de 20 minutos de tentativas e o último ato de 50 minutos de auto-recriminação e pedidos de desculpas, até que a protagonista vá embora ou o protagonista pegue no sono. Também sugerimos Coldplay como trilha sonora.

Se sexo é o que importa…

A verdade é que, se pornografia pode ser mais do que “pornografia”, o sexo também pode ser bem mais que “sexo”. Mais do que a mecânica clássica e quase newtoniana de penetração e atrito – a qual, se a sua namorada estiver ultimamente adicionando “inércia”, pode ser uma boa hora pra sentar e bater um papo – o sexo envolve vários outros fatores, vários outros elementos, várias outras variáveis e variações, que fogem da ideia simplista que a gente pode ter. O processo todo pode continuar quente, mas pode ser deliciosamente mais refrescante.

Beijo é sexo, carinho é sexo, sedução é sexo, falar sacanagem no ouvido é sexo, aquele SMS que você envia pra sua colega no meio das reuniões são sexo, aqueles emails que você troca durante o expediente com a sua namorada são sexo – e o pessoal de TI sabe disso e provavelmente coleciona todos eles numa pasta com o seu nome. Sendo assim não apenas o gênero pornô tem perdido o trem da história e deixado de cumprir sua função como a maior parte de nós é, numa análise literal, bem mais “ator pornô” do que qualquer Rocco Sifredi por aí, com a diferença de que usamos camisinha, dormimos junto depois e não temos que depilar partes estranhas do corpo. E bem, acho que devíamos nos orgulhar um bocado disso. Mas claro, é apenas uma teoria minha, não vamos sair colocando isso no currículo, pode não pegar bem.

Ps: Bill Clinton, eu sei que com essa teoria de que tudo é sexo eu posso ter te mandado pra cadeia. Peço desculpas.

 

Oferecimento: Prudence Ice

 

artigo-patrocinado

João Baldi Jr.

João Baldi Jr. é jornalista, roteirista iniciante e o cara que separa as brigas da turma do deixa disso. Gosta de pão de queijo, futebol, comédia romântica. Não gosta de falsidade, gente que fica parada na porta do metrô, quando molha a barra da calça na poça d'água. Escreve no (<a>www.justwrapped.me/</a>) e discute diariamente os grandes temas - pagode