A facilidade das relações nas redes sociais tem seu lado avesso. O lado do engano, da covardia e da trapaça. Afinal, por mais que as mídias sociais tenham revolucionado a comunicação, elas possibilitaram a criação de personalidades falsas. Ou o pior: a falta delas.
Por exemplo? Você conhece uma pessoa. Em qualquer lugar. Antes mesmo de receber um pedido de número do celular ou a curiosidade se mora nas redondezas, vem o a fatídica frase:
— Você tem Facebook?
Assim, sem mais nem menos, ela entra na rede da sua vida e descobre imediatamente onde você passou o réveillon. Qual é o rosto do seu irmão. Onde você trabalhou. Em que área se especializou, qual idioma fala, quem é seu melhor amigo, a paixão por comida japonesa, filme predileto e até mesmo a viagem que fez nas últimas férias.
Os com tendências stalkers descobrirão também, muitas vezes através daquele comentário perdido, naquela foto antiga, quem foi seu último namorado.
Aliás, nunca é bom saberem quem é o seu último namorado.

O problema é esse. Parte daquela insubstituível fase da conquista acaba sendo deixada de lado. Não é mais permitido o prazer de descobrir a nova paquera aos poucos. A pessoa não te liga no dia seguinte, te acha online. Não descobre qual sua banda favorita ao te ver cantarolando, vê no Last.Fm. Não descobre seu autor favorito, analisa o Skoob.
Os espertos (será?) são assim. Eles criam tantas coincidências que você acabará achando que encontrou o amor da sua vida. Mas não: trata-se da prática de engenharia social que fuçou seu Facebook e descobriu um jeito de enfiar no meio da conversa o filme que você comentou com um amigo na semana anterior. Como se coincidências em excesso fosse afrodisíaco. Não é.
E nada mais sexy do que o cara que discorda sem perder o charme.

A revolta torna-se ainda maior no curso do relacionamento. Depois daquela briga homérica, não há mais o gosto de ver o telefone tocar. Ela não vai ter que passar por cima do orgulho, discando número por número e calçar a cara para puxar um assunto ao telefone. Hoje, a aproximação para o pedido de desculpas começa quando ela curte o post que ele acabou de enviar e, “sem querer”, te chama inbox com um “oh, nem tinha visto que você estava online”.
As relações ficaram fáceis demais. Tudo que é demais incomoda.
Saudade daquela dose de surpresa ao descobrir que o homem que acabou de entrar no escritório frequenta nas sextas-feiras o mesmo restaurante que você. Do tête-à-tête, da ligação no dia seguinte, da aproximação que acontece delicada e intuitivamente.
Malditos sejam os check-ins e nossos rastros.
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