Quando nós somos crianças, uma pergunta repleta de expectativas chega paulatinamente aos nossos ouvidos:

“O que você quer ser quando crescer?”

Me lembro que responder “jornalista!” sempre foi uma constante para mim. Ao mesmo tempo, dizer “feliz” ou lembrar de uma profissão menos diplomada sequer passavam pela minha cabeça. Ainda que andasse pra cima e para baixo com uma câmera descartável desde os sete anos de idade e tenha herdado minha primeira Yashica aos dez, só soube que fotografia era uma possível resposta, uma profissão e uma maneira aceitável de viver uma década mais tarde.

A vida adulta chega sem avisar. O que aos 5, 6 ou 8 anos de idade era apenas desejo e imaginação, aos 18, 25 ou aos 30 vira pressão e ganha outro nome: carreira. Mas no meio de crises sobre o que queremos e para onde vamos, às vezes é importante dar alguns passos para trás, lembrar e olhar para dentro de nós mesmos: será que nós somos as pessoas que sonhávamos ser ou nos perdemos e achamos pelo caminho?

Link Youtube

Vídeo feito pelo Escribas, empresa do PapodeHomem, para Nivea Men. Injeção de fofura, mas com pergunta séria.

Resolvi direcionar a pergunta a alguns amigos, do PapodeHomem e de fora dele.

Gabriel Ribeiro

Eu queria ser veterinário quando eu era criança. Sempre vivi cercado de animais em casa e, além disso, tinha muito contato com a natureza nas idas e vindas do rancho do meu avô, em que as garças vinham até nós pra comer e os beija-flores bebiam água doce da nossa mão. Sonhava em cuidar dos bichos, viver mais no campo do que na cidade grande, mas não contava com a fobia de ver o bisturi entrando em ação. Quando vi um médico fazendo um corte cirúrgico pela primeira vez desmaiei, e daí pra frente fui entender que seria impossível ser veterinário. Se um cortezinho já me deixou com as pernas bambas, imagina o resto?

Deixei a vida me levar, sem planos do que eu queria ser enquanto profissão. Comecei como office-boy e depois passei a ser assistente administrativo, analista de negócios, analista de sistemas, gerente de projetos e, por fim, gestor de tecnologia da informação em uma fundação do Governo do Estado de MG. Atualmente, faço parte de uma estatística mais que preocupante: 80% das pessoas que trabalham com TI querem se demitir por causa do estresse.

Hoje, aos 34 anos de idade, tenho certeza que o “deixa a vida me levar” me fez chegar alto. Mas quem disse que eu queria isso?! Penso que já está passando de hora de procurar algo completamente diferente do que faço hoje. O que eu quero mesmo é uma vida com a que imaginava antes. Mais simples, menos estressante, longe das grandes cidades e perto da natureza.

 

Rafael Sette Câmara

“Acho que a resposta é sim e não.

Um dos meus sonhos quando criança era ser jornalista, o que significa que fui para o caminho certo. Hoje trabalho escrevendo e viajando, duas coisas que sempre sonhei em fazer. Mas a forma encontrada para isso não foi exatamente a que eu pensava.

Durante boa parte da minha adolescência (e do tempo que eu passei na universidade), sonhava em ser repórter de TV. Era um dos sonhos mais reais e importantes que já tive e, durante anos, trabalhei pesado para isso. Quando percebi que minha vida profissional não caminhava nesse sentido, me frustrei. Me frustrei muito. Só que percebi uma coisa essencial: nunca larguei séries, filmes, notícias e jogos de futebol, mas também não assisto televisão como antigamente. No meio do meu caminho, tinha a internet.

O mundo mudou. Por que eu não deveria mudar de sonho também? Não faz sentido eu ser exatamente o homem que eu pensei há sei lá quantos anos. Com o 360meridianos eu escrevo e sou lido, as duas coisas que sempre quis. E faço isso viajando, o que é melhor ainda.

Francamente, prefiro desse jeito. A gente sonha com base no presente, só que nunca sabemos o que o futuro vai trazer. Ainda bem que os sonhos mudam, nem que seja um pouquinho.”

João R. Zanetti

“A primeira coisa que eu quis ser quando moleque era paleontólogo, saber tudo sobre dinossauros e tal. Até dei palestras pra outras crianças. Depois, fui querendo saber/fazer coisas envolvendo parapsicologia: poder da mente e loucuras do tipo. Estudar primeiro; conseguir praticar depois, num mundo ideal.

Mas durante a infância como um todo o que ficou bem claro é que eu tinha o perfil pra criação. Naturalmente fui me interessando por artes, aprendendo violão, gostando de brincar no Corel, desenhando um pouquinho, escrevendo outro pouco. Prestei cursos relacionados, passei, desenvolvi uma vida profissional nisso. Como eu imagino que aconteça com 90% das vidas profissionais, a coisa se apagou um pouco: vi que o universo das artes/design também pode ser chato. O meu “eu” ideal não moraria em SP, não se estressaria, e uma série de negativas relacionadas.

Mas um negócio sempre esteve ali, juntamente com a manutenção da minha vida profissional, aluguel etc e tal. Não larguei mão de mim moleque. Ainda dou corda. Uma centelha, por falta de palavra mais corriqueira, me manteve tocando música e escrevendo com aquela esperança meio tonta de ser artista.

Recentemente, fui selecionado para um curso de preparação para escritores. Quem sabe esse curso ajude, quem sabe atrapalhe. Mas eu não posso me considerar uma dessas pessoas que teve o sonho esmagado e acinzentado. Também não fui catapultado magicamente para a vida ideal, mas aí nem sei se seria legal também.”

– O que você quer ser quando crescer? – Feliz. Pode?
- O que você quer ser quando crescer? - Feliz. Pode?

Luciano Ribeiro

“Eu, quando criança, tinha toda semana um sonho diferente. Às vezes queria enveredar pelo esporte, ser jogador de futebol ou de basquete. Me faltavam condições físicas pra isso. Em outros tempos, quis ser algum tipo de artista, como músico, fotógrafo ou ilustrador. Cheguei até a tentar coisas nessa linha tocando em bandas, trabalhando em estúdios fotográficos e cursando design. Mas, de alguma forma, nada seguiu esse caminho.

Pra quem eu sou hoje, tudo sempre segue pelo desconhecido. Raramente estou onde planejei, dificilmente faço coisas de que só gosto por gostar. Sempre faço escolhas (ou pelo menos gosto de pensar que são escolhas) que me levam a lidar com o improviso, o desafio e com a adaptação. Além disso, também carrego o sentimento de sempre estar longe de atingir meu potencial como ser humano. Mas tenho algumas impressões constantes. Meu corpo poderia ser melhor. Eu poderia me esforçar mais. Talvez pudesse ter feito algo de um jeito e não de outro, se estivesse com os pés no chão. Às vezes, penso que minha mente está encoberta por interesses que não são os melhores, que perco meu tempo com ciúmes, orgulho, inveja, etc, etc e desperdiço as inúmeras oportunidades maravilhosas que surgem diante de mim.

Passo longe de ter as qualidades que mais admiro, como a habilidade de comunicar bem uma ideia pela escrita, música ou desenho e a de ser capaz de melhorar a vida de alguém. Ainda tenho um longo caminho a ser percorrido e, pra ser honesto, nem sei se vou chegar lá ainda nessa vida. Mas, sei lá. Se ainda posso me reservar o direito de ser otimista, pelo menos estou tentando, né?”

 

Bruno Vieira

“Uma coisa que me era muito clara à época de adolescência e faculdade era que queria ter mobilidade no meu trabalho. Cheguei a trabalhar por treze meses em um emprego que me fazia atravessar a cidade e chegar cansado. Saí, meio borocoxô, e fui para um trabalho mais a minha cara. Por meio dele conheci Ouro Preto, Alcântara, São Luís, Imperatriz (as três no Maranhão), Porto Velho (Rondônia – ô, cidade que parece cenário de velho oeste, bem ao estilo John Wayne), Vale do Jequitinhonha e outras cidades do interior de Minas. Foi um trabalho bacana, mas o que raios isso tem a ver com ser o que queríamos ser?

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Uai, eu acho que a gente se perde, se acha, se perde de novo..

Querer a gente quer muita coisa. Falta-nos dizer se o que já temos nos preenche ou se precisamos de mais. A falsa (ou real) sensação de vazio pode nos causar ansiedade, e nunca estaremos plenamente satisfeitos. Ainda não cheguei numa plataforma de estado pleno do espírito, minha alma é inquieta. Mas acho que não há necessidade de mirar um objetivo específico: talvez esse objetivo seja facilmente alcançado, e a gente fique desestimulado a continuar.”

Alberto Brandão

Minha mente sempre foi muito fantasiosa, com pouquíssimas barreiras entre a imaginação e a realidade. Se assistia um filme de luta, no dia seguinte estava dando socos pelo ar e procurando uma escola de luta. Lia um livro sobre sobre computadores e incorporava a persona especialista em tecnologia. Toda essa vontade de fazer as coisas me guiou sempre na direção de fazer o que queria. Hoje olho para trás vejo que fui trilhando o caminho que esperava trilhar. Trabalhei com computadores, me ligando cada vez mais aos esportes e sempre procurando o que será o próximo degrau da vida.

Por outro lado entendi que todas estas coisas, apesar de parecerem, estão mais ligadas ao que fiz do que ao homem que queria ser. No fim das contas, tudo o que sempre quis foi ser alguém disponível, pronto para ajudar quem precisa e tentar fazer alguma diferença positiva na vida das pessoas. Não posso dizer que me tornei esta pessoa, porque este é um exercício diário e deve ser relembrado a cada dia, mas um dia serei.

Rodrigo Cambiaghi

“No Natal do ano passado, meu cunhado me deu um Super Nintendo (sim, aquele videogame que você jogava quando era criança) com vários jogos antigos que estavam empoeirados no armário dele. Foi quase tão legal como ganhar o Super Nintendo pela primeira vez, e uma das primeiras coisas que fiz foi contar para meus amigos que curtiram aquela época comigo – mesmo àqueles de que acabei me afastando.

Enquanto eu conversava com amigos antigos, foi exatamente a pergunta desse post que me ocorreu.

Naquela época, eu sonhava em ser inventor: gostava de criar coisas novas e tentar fazer as coisas de um jeito diferente. Achava que se fosse engenheiro como meu pai, poderia fazer minhas invenções de Lego virarem realidade.

Não virei inventor, muito menos engenheiro, mas de alguma maneira eu faço aquilo que sonhava fazer quando era criança. Hoje, consigo exercitar minha vontade de criar coisas novas no meu trabalho, pensando em artigos e sugestões de pauta para o PapodeHomem, ideias de projetos especiais para os anunciantes e em saídas mirabolantes quando os problemas surgem.

Ah! Eu também achava que ia jogar videogame pra sempre, inclusive os mesmos jogos que jogava quando era criança. Isso eu acertei, na mosca.”

Controles da Nintendo da minha coleção de games. Não, não está a venda.
Controles da Nintendo da minha coleção de games. Não, não está a venda.

Guilherme Valadares

“A minha noção do que gostaria de ser é como uma tela de paintbrush. Vou desenhando aos poucos e precariamente, recomeçando do zero o tempo todo. De vez em quando salvo algo, às vezes dou um crtlc + crtrlv discreto em alguém bacana. Só quando falo disso pra alguém, como agora, é que baixo um arquivo mais interessante do meu hd de improviso.

Ainda bem molecote, e sabe-se lá porque, pensava que homem de verdade era como o Raí, ex-capitão do São Paulo. A coisa toda do São Paulo campeão do mundo me impressionava bastante, mesmo eu torcendo pro Cruzeiro. Me recordo de uma tarefa artística na qual deveríamos nos desenhar no futuro. Fiz um sujeito e escrevi ao lado: 1.80m, 80kg, vinte anos – chutava ser esse o tamanho de um capitão de time de futebol. E coloquei uma criança pequena próxima, era um filho.

Hoje tenho 30 anos, 1.79m, 82kg e nenhum rebento.

Apesar do 1cm a menos e da ausência de filho, o moleque é um homem bem satisfeito sendo quem é. Não me acho ‘a’ pessoa e nem acho o Raí tão incrível mais. Me abriu um mundo descobrir, longo tempo após aquela aula de artes, que somos mais do que qualquer desenho, que vale rabiscar e que não precisamos de historinha com final feliz. Bem mais gostoso brincar assim.”

Rosa Maria C. Silva

“Meu sonho de menina era ser professora ou desenhista. Depois que cresci um pouco, queria ser jornalista e conhecer o mundo! Cheguei a procurar informações sobre o curso na Cásper Líbero, que era famosa na época, e fui desencorajada por colegas, meus pais e o mundo, que me convenceram que essa profissão não tinha futuro e que nela eu não ganharia dinheiro. Afinal, eu era muito pobre para me dar ao luxo de ser artista. Sair pelo mundo? Pior ainda.

Ainda na adolescência, meu pai, operário, foi atropelado. Ao vê-lo na maca do corredor do pronto socorro da Lapa (que está lá, do mesmo jeito), resolvi que seria médica: eu ajudaria as pessoas a não passarem por aquilo. Consegui me tornar médica, e creio que ajudei muita gente. Mas agora, aposentada, vejo que aquela história da maca ainda se perpetua – e me sinto impotente.

Hoje, a paixão pela informação, o espírito investigativo, o amor pelas letras e pelas artes me convencem de que, na verdade, eu deveria ter seguido meu sonho de ser jornalista. Às vezes, até me sinto uma. Agora é hora de ver o sonho de sair pelo mundo se tornar uma coisa concreta.”

Criança aprende a sonhar enquanto tenta enxergar o mundo. Precisamos continuar de olhos abertos
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* * *

Quando eu era criança, havia uma música que não podia faltar nas viagens que fazia com meus pais.  “Todo menino é um rei”, um samba de Roberto Ribeiro, era meu hino não oficial. A letra tem o seguinte trecho, em que eu me soltava sem medo:

“Todo menino é um rei

Eu também já fui rei

Mas quá!

Despertei

Por cima do mar da ilusão

Eu naveguei (só, em vão)

Não encontrei

O amor que eu sonhei

Nos meus tempos de menino

Porém menino sonha demais

Menino sonha com coisas

Que a gente cresce e não vê jamais”

Hoje, depois de refletir um bocado e ler os depoimentos que chegaram na minha caixa de e-mail, me permitiria alterar um pouco a letra.

Se quisermos nos tornar as pessoas que imaginamos quando éramos crianças, as que miramos no ano passado ou as que vislumbramos ser ainda ontem, o segredo está justamente em não despertar completamente, e jamais deixar a coroa de lado.

Parafraseando algo que minha mãe, a Dona Rosa aí de cima, me disse quando perguntei se ela era a pessoa que gostaria de ser: podemos não ser mais meninos no tamanho e na idade, mas nos sonhos sim.

Você é a pessoa que gostaria de ser?

Queremos saber: e vocês, leitores? São os homens ou mulheres com que sonharam? Se sim, o que fizeram para chegar lá? Têm noção do que os fez mudar de ideia, trouxe um novo sonho e afastou aquela vontade de ser astronauta, presidente ou caminhoneiro?

Mecenas: Nivea Men

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Todos os dias, ao acordarem, homens fazem o que precisa ser feito. A insatisfação existe, é verdade, mas  aprendemos, trabalhamos, caímos e nos levantamos. Suamos a camisa, em contínuo aperfeiçoamento.

Neste canal especial do PapodeHomem, teremos diálogos e debates sobre diversas questões do homem. A conversa também acontece no Facebook oficial de Nivea Men, eles tem dito coisas bem interessantes por lá.

Ismael dos Anjos

Ismael dos Anjos é mineiro, jornalista e fotógrafo. Acredita que uma boa história, não importa o formato escolhido, tem o poder de fomentar diálogos, humanizar, provocar empatia, educar, inspirar e fazer das pessoas protagonistas de suas próprias narrativas. Siga-o no <a>Instagram</a>."