Já tinha ido parar na Bolívia, no norte da Argentina, entre os guarani de Mato Grosso do Sul e até mesmo entre os índios Ayoreo, seguindo rastros de uma tribo isolada no Chaco paraguaio.
Vim então para o México.
Deixei o bigode crescer e com esse novo aspecto de macho latino, me senti mais à vontade para me despir de qualquer sentimentalismo de novo homem, e resolvi me arriscar por aqui. De qualquer forma, me sentir inadequado para uma tarefa é parte da minha rotina.O editor Frederico me pediu para escrever sobre os Jogos Panamericanos aqui na capital do estado de Jalisco: Guadalajara. Eu estou aqui há dois meses e quase não tenho nada a dizer dos Panamericanos. Ele me responde:
Escreve mesmo assim.
A primeira coisa que fiz, assim que deixei minhas coisas no albergue, foi sair para comprar ingressos para a final do futebol. Depois, vi o preço e não tive coragem de comprar. Achei mais seguro não acreditar que o Brasil estará lá.
Acabei comprando três ingressos para o jogo Brasil e Argentina. Um para mim, um que usarei como estratégia de sedução para levar alguma garota mexicana e o terceiro que pretendo vender na porta do estádio, o Omnilife, construído especialmente para o Pan. Minha meta é vender por pelo menos cinco vezes o que paguei e assim pagar meu aluguel, já que a essa altura do campeonato (o da minha vida, não o Panamericano) eu já sai daquele hotelzinho decadente no centro e mudei para um apartamento que divido com duas mexicanas.
Aqui, como aí, tudo o que envolve esses grandes eventos, aqui o Pan; no Brasil a Copa do Mundo, está envolto em polêmica. Obras superfaturadas, outras desnecessárias, muita maquiagem nas ruas e pouco investimento em infra estrutura. Essa é a opinião da maioria dos tapatios (guadalarrenhos, seria algo assim) que conheço.Ok, conheço muita gente chata, você pode me dizer.
Mas por aqui está sendo divulgado um vídeo que sintetiza a critica dos moradores mais críticos em relação ao tema. Além dos óbvios inconvenientes do transito (ruas fechadas, faixas exclusivas para o PAN, desvio de rotas de ônibus), ocorreu uma limpa no centro da cidade, expulsando vendedores de rua, malabaristas de semáforo (sim, aqui também tem), indígenas que ficam pelo centro histórico vendendo artesanato e até mesmo as prostitutas.
Denúncias de extorsão por parte de policiais e outros agente públicos também são recorrentes. Além, é claro, da reclamação de que não existem ingressos para a população local.
Link YouTube| Produção independente que mostra a atual Guadalajara
Mas eu imagino que esse monte de coisa não interesse muito aos brasileiros. No último sábado, fui entrevistado pela TV Record, para o programa Hoje em Dia e quando falei um pouco, mas muito pouco sobre isso, a repórter fez uma careta e para o desespero de minha mãe, Dona Silvia, seu filho (eu) foi cortado da matéria exibida na segunda-feira e não apareceu na televisão.
Da próxima vez que eu vir uma câmera, o negócio é sambar e gritar Brasil! Brasil!, emulando aquela felicidade de um Big Brother que acaba de entrar na casa.
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