Não sabia mais a quem recorrer: amigos, família, namorada, religião. Apelei para o PdH, em razão das boas opiniões que leio aqui vez por outra.
Faço 30 anos em janeiro. E não realizei nada. Absolutamente nada. Sinto-me um arremedo. Um fracasso. Envergonho-me diante dos meus familiares.
Fui o primeiro da minha geração da minha família. Primeiro filho, neto, sobrinho. Confiaram em mim. Fui uma promessa de sucesso: aluno dedicado, filho obediente, primo e irmão admirado. E, às vésperas dessa data significativa, não tenho nada. Moro com minha mãe, num apartamento de aluguel. Acabo de perder o emprego pela 2a vez no ano. Não pensem que sou relapso ou indisciplinado. Trabalhei numa empresa que passou por uma crise e fechou todo o setor em que trabalhava; após isso, consegui um contrato temporário, que se encerrou semanas atrás.
Fui funcionário disciplinado, dei boas ideias, participei e colaborei. Não fui escravo nem empurrei o emprego com a barriga. Busquei o equilíbrio em tudo o que fiz. Creio até que sou um sujeito sensato. Talvez um pouco azarado.
Nada deu resultados. Hoje, minha conta no banco informa saldo negativo. Não tenho grana nem pra pagar picolé pra namorada. Cabe informar que estamos juntos há 8 anos. Mesmo tendo ralado muito – muito mesmo: cheguei a ter três empregos, entre 2007 e 2010 – não conseguimos nos casar. Ela já não tem esperança. Fico, às vezes, com a impressão de que ela está comigo por pena. Ou que está esperando minha queda definitiva pra se mandar. Ou ainda que sou uma distração. Distração mesmo: já não a satisfaço na cama. E nem fora dela. Nada do que converso com ela desperta interesse.
Os amigos estão ocupados, com seus empregos e famílias. Ou se divertindo, viajando, vivendo, enfim. Quanto a mim, invento mil formas de me emancipar. Mas nada vai adiante. Por conta disso, tenho sido chamado de Burro. Preguiçoso. Perdedor. Cheguei a ouvir de parentes que só moro com minha mãe porque ela me alimenta. Infelizmente, há um fundo de verdade, apesar da gratidão e do respeito que tenho pela Velha.
Não sou um burro completo: li algumas livros, conheço mais de um idioma, tive uma breve experiência fora de casa, frustrada, estudei alguma coisa.
Meus pais saíram cedo de casa. Ao contrário de mim, enfrentaram o mundo de mãos nuas. Meu pai morreu em 1995; escrevi um texto sobre isso para o PdH, que não foi publicado. Achei até bom: era pessoal demais para aparecer aqui. Trabalhou muito pra me educar, material e moralmente. Penso que, se me visse hoje, ele engrossaria o coro dos que me difama. Afinal, após tanta luta, ver um filho homem perder dias inteiros certamente o envergonharia.
Eu não queria que esse texto se tornasse o balde de lamúrias que é. Nem mesmo segue os padrões editoriais do site e não combina com um grupo de leitores e leitoras tão independentes e cheios de iniciativa. Mas, como disse, não me restaram opções. Precisava desabafar e, às vezes, sinto o PdH como uma comunidade de amigos de verdade, ainda que distantes. Confiei o relato a vocês e agora pergunto: o que fariam se estivessem na minha pele? Eu, infelizmente, não tenho visto outra solução. A ideia de suicídio me martela o cérebro há uns meses.
Mesmo que não me respondam, agradeço o espaço. Obrigado, caras.

Nota do editor: Recebemos esse relato há alguns dias, com a solicitação de permanecer anônimo. Entendemos. Mesmo assim, o autor está acompanhando os comentários e vai entrar na conversa pra discutir melhor o assunto.

Poderíamos ter chamado alguém para listar possíveis direcionamentos, mas preferimos deixar isso para todos nós explorarmos juntos nos comentários. Topa ajudar o autor a avançar em sua vida? Basta acrescentar algo com um ótimo comentário honesto aqui abaixo.