No futuro, quando arqueólogos e escafandristas procurarem vestígios da nossa civilização – nossos filhos já não estarão aqui, assim como os filhos deles e os frutos destes –, serão encontrados mais do que ossos e pedaços de pano puído, placas-mãe enferrujadas e resquícios de smartphones. Acharão, no meio do nosso legado de bytes brutalmente construído neste começo de século, os comentários que deixamos por aí quando vestidos das armas do troll.

No vídeo do garoto de 17 anos que descobre ter pouco tempo de vida e deseja apenas se despedir dos entes amados, lerão “cale a boca e se mate”. Naquele dos quadrigêmeos que riem de maneira deliciosa, verão os 149 dislikes. No vídeo dos irmãos negros que cantam música gospel e desafinam e gritam e riem e se divertem, reconhecerão todo o preconceito ainda em voga na frase “quem acha que o garoto parece um macaco dá joinha”.

Os tais arqueólogos e escafandristas irão sorrir. Estarão satisfeitos com a extinção da nossa civilização.

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Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.

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