‘Se’… uma palavra de 1000 sílabas
Cort / A Torre Negra

Stephen Edwin King, nasceu em Portland, no Maine, em 1947 e é, para mim, um dos maiores autores de todos os tempos. Poucos escritores conseguem entrar tanto na sua mente, criar personagens tão incríveis, contar histórias tão fantásticas e te entreter da maneira como ele faz. Ah, ele também sabe te meter medo danado.

“Medo? Eu? Buah ha ha ha!”

Além dos romances de sucesso absurdo, Stephen King escreveu – pra mim – a maior saga fantástica de todos os tempos: A Torre Negra. Sim, isso vindo de um fã insano de Tolkien (assim como o próprio King) é uma grande coisa.

Mas antes de chegarmos na Torre, vou contar como e porquê você deveria conhecer o Mr. King.

O autor

“Você está certo! Mas pelos motivos errados! E isso faz com que você esteja totalmente errado!”
Cuthbert / A Torre Negra

Até escrever o primeiro romance, Stephen King ganhava a vida fazendo bicos de tudo que é tipo, de lavanderia industrial a estágio na biblioteca da Universade do Maine, onde ele conheceu a esposa Tabitha (que, basicamente, é a responsável por ele estar onde está). Ele ficou nisso até conseguir um emprego fixo como professor e escrever histórias curtas para revistas variadas. Aqui, vale ressaltar que, com a idade de 19 anos, King esboçou o que seria o trabalho da sua vida. Foi com essa idade que ele escreveu O Pistoleiro (que só seria lançado em 1982), o primeiro livro da série A Torre Negra.

Bem, Stephen e Tabitha eram basicamente trabalhadores de classe média baixa. Ele conseguiu um emprego fixo como professor em 71 e teve mais tranquilidade para escrever durante a noite e nos fins de semana. Sempre vendendo histórias curtas e contos para diversas revistas. Dois anos mais tarde, a esposa dele encontrou esboços de uma história no lixo, a história era sobre uma jovem estudante com poderes psíquicos, ela então insistiu para que Stephen continuasse a história, e mandasse para uma editora.

A editora Doubleday pagou U$2.500,00 pelo original. Dois anos depois, em 1976, o diretor de cinema Brian De Palma quis transformar a história em um clássico dos cinemas. Deu certo.

Cena clássica do filme clássico que deu a possibilidade do King viver de sua escrita

Carrie, A Estranha havia sido um sucesso absurdo e King recebeu mais de quatrocentos mil dólares de direitos autorais. Ele então abandonou o emprego de professor e passou a viver de escrever.

E cara, como ele escreveu. Nos primeiros anos ele publicou, além de Carrie, A Hora do Vampiro, O Iluminado, A Dança da Morte, A Zona Morta, A Incendiária, Cujo, Christine e Cemitério Maldito.

Várias dessas primeiras obras entraram para a história da literatura americana e, claro, para a cultura pop de forma geral. Quem não lembra de Christine passando em loop no SBT, Jack Nicholson em O Iluminado, a música dos Ramones “Pet Sematary“, e tantos outros exemplos de obras que vieram depois.

A obra

“Uma criança só sabe o que é um martelo quando faz o seu próprio dedo de prego”
Cort / A Torre Negra

Eu confesso que tinha medo de ler Stephen King. Só o nome dele me dava medo e eu sabia que aquele palhaço maldito era coisa dele. Um belo dia meu irmão comprou um livro chamado Desespero e, além do meu irmão, meus tios todos liam os livros dele, qualquer evento que reunisse a família, hora ou outra acabavam falando dele.

Decidi que era hora de parar de bobeira e ler logo.

Me apaixonei completamente pelo estilo e a forma como King constrói os personagens. Não por serem histórias de terror, isso pra mim é o que menos importa, mas pela forma que as coisas acontecem e, claro, as referências de cultura pop que recheiam os livros dele. O enredo flui de maneira tão simples, tão fácil, que um livro dele é como sentar em volta de uma fogueira e contar uma história.

A fama não precede o homem. Stephen não é um cara sinistro nem um maluco. É só ver uma entrevista dele. Nem todos os livros são de terror. Inclusive, para mim, as melhores histórias dele passam longe de serem de terror. Como Conta ComigoÀ Espera de Um Milagre. O próprio Stephen King diz que o que ele faz é simplesmente escancarar medos que todos nós temos e como nós seres humanos somos fodidos. E ninguém faz isso melhor que ele.

Outro clássico que saiu das mãos de Stephen King e que muita gente nem sabe que ele é o mentor da coisa toda

Você vê isso claramente se ler On Writing, um livro em que King conta como é ser um escritor e é basicamente um livro de dicas de como escrever e de como ele escreve.

Seria impossível falar de cada obra aqui. São várias, divididas entre ficção, não-ficção, livros de contos, contos, histórias em quadrinhos, livros publicados sobre o pseudônimo de Richard Bachman, séries, filmes, e mais um monte de contos que ele libera online.

Mas para preencher a lacuna, vou fazer um top5 dos melhores livros do Stephen King de todos os tempos.

1. A Torre Negra *(Se quiser saber, meu livro favorito da série é disparado o IV – Mago e Vidro)

2.A Zona Morta

3. Saco de Ossos

4. A Metade Negra

5. Desespero

ps.: Podemos discutir sobre a lista nos comentários.

O acidente

“Vamos seguir em frente. Vamos lutar. Vamos ser feridos. E no fim ainda vamos estar de pé.”
Roland Deschain / A Torre Negra

No início da edição de 2003 d’O Pistoleiro, King faz uma metáfora incrível sobre a Morte. Ou melhor, sobre a nossa mortalidade enquanto humanos. Ele diz que, aos 19 anos, você não liga para o Velho Patrulheiro. Ele ainda está longe, você nem consegue ver uma silhueta. Aos 19 anos, você acha que sabe tudo sobre a vida e faz de tudo. Você bebe, fuma, come qualquer coisa. E você vai vivendo tranquilo até ver o Velho Patrulheiro se esgueirando e te dando um tchauzinho lá de longe. Longe ainda, mas você já consegue vê-lo. Até o dia em que ele vem cobrar a conta. Até o dia que ele vem te trazer um pouco para realidade e te mostrar que sua vida é tão frágil quanto a de qualquer outro.

“E você pensando que era durão. Me conte mais sobre sua vida imbatível”

Ás vezes o Patrulheiro vem com tudo e te leva para alguma delegacia que você nunca vai sair.

O Velho Patrulheiro visita Stephen King

No caso de Stephen King, o Velho Patrulheiro veio na forma de uma van Plymouth (palavras dele) que, para simplificar, quebraram ele ao meio.

Ele não morreu por aqueles raros acasos do destino que, “se” tivesse pegado 5cm pra lá já era. Ele se quebrou inteiro. Ficou internado por meses, encheram ele de pinos (quase teve uma das pernas amputadas), e ele sentia tanta dor após sai do hospital que ele disse que sua carreira estava acabada.

Ele chegou a anunciar que iria se aposentar, já que ele não conseguia ficar sequer uma hora sentado escrevendo.

Mais uma vez, com o apoio da esposa Tabitha, Stephen King se recuperou e continuou a escrever. O acidente aconteceu em 1999. Se ele tivesse morrido ou se tivesse realmente se aposentado, não teríamos a Torre Negra que na época estava no livro IV, Mago e Vidro.

Ele ainda diz que os fãs ficaram tão desesperados, mas tão desesperados com o fato de que ele poderia não terminar de escrever a história da Torre, que ele resolveu acabar logo com isso e escreveu os últimos três livros de uma só vez.

Não quero falar sobre algo muito particular da Torre Negra, mas quem leu sabe a importância que tem esse acidente na vida e na obra do King.

A Torre Negra

“Eu não miro com a mão. Aquele que mira com a mão esqueceu o rosto de seu pai. Eu miro com o olho.
Eu não atiro com a mão. Aquele que atira com a mão esqueceu o rosto de seu pai. Eu atiro com a mente.
Eu não mato com a arma. Aquele que mata com a arma esqueceu o rosto de seu pai. Eu mato com o coração!”
Mantra dos Pistoleiros / A Torre Negra
“Vá, há outros mundos além deste”
Jake / A Torre Negra

Eu me lembro de ser um pobre estudante universitário que gostava de visitar livrarias para ver livros. Nunca comprar, eu não tinha grana. Eu que já era fã fiquei desesperado quando li uma frase que resumia a história: “ela nasceu como uma mistura de O Senhor dos Anéis e o filme Três Homens em Conflito”. Porra, Senhor dos Anéis no velho oeste. Naquela época, não poderia existir nada melhor que isso. Pra mim era Deus no céu e Tolkien na terra.

Sério, não tem como não se interessar por isso

Até o dia em que eu finalmente comprei o primeiro livro e nunca mais esqueci a Torre. Vocês podem perceber pelas frases que recheiam esse texto, pela enormidade de vezes que eu citei “a Torre” durante o texto, o tamanho da minha obsessão com essa obra. Ela imprime até hoje uma mudança incrível de caráter, pensamento e visão de mundo em mim que eu não seria quem eu sou hoje se não a tivesse lido.

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Como disse lá em cima, O Pistoleiro foi provavelmente o primeiro romance que Stephen King escreveu. E isso o influenciou desde então. A Torre Negra não é só a obra da vida do autor por causa da qualidade da história, por ele ter escrito durante praticamente toda a sua carreira (fato comprovado esse ano, que ele lançou mais um livro, que entraria no meio da série, sendo chamado de volume IV.5), mas por ele ter colocado A Torre em todos os livros que publicou e em alguns filmes também.

Stephen King criou um universo fantástico imenso e no centro desse universo está A Torre e o mundo de Roland. Depois de ver a coisa dessa forma, você percebe como vários vilões, monstros, entidades e demônios veem destes mundos criados por ele. Tudo ligado por referências claras.

Esse fato torna essa obra não só a mais importante da vida do autor, como é o centro e o cerne do seu universo.

Só isso pra mim já torna a obra e o próprio Stephen King acima de muitas, mas muitas outras. É algo de uma complexidade tão grande que só um cara com uma mente brilhante poderia criar.

Os filmes

“Deus me conceda a SERENIDADE para aceitar o que não posso mudar, a TENACIDADE para mudar o que posso e a BOA SORTE para não fuder tudo com muita frequência.”
Père Callahan / A Torre Negra

King sempre disse que não importava que fizessem filmes ruins com suas histórias, ele diz que os livros sempre estarão lá com a história como ele contou, então não havia problema. Porém, acho que ele disse isso após a adaptação de O Iluminado. King ficou revoltado por Stanley Kubrick ter mudado o final que, anos mais tarde, ele mesmo escreveu um roteiro para uma nova adaptação, uma mini-série, lançada em 1997 e considerada por alguns fãs, melhor que a versão de Stanley Kubrick.

“Own, então eu sou seu desafeto, King? Abre a porta pra mim, abre”

Praticamente quase tudo que ele escreveu ganhou uma adaptação audiovisual. Algumas ficaram absurdamente famosas, algumas outras são tão boas que as pessoas ficam surpresas ao saberem que se trata de uma história do Stephen King, outras são um completo aborto e não valem a pena serem citadas. São filmes, séries, mini-séries, episódios de séries como Arquivo X e Twilight Zone baseados em histórias do autor, filmes para DVD, filmes para TV…

Assim como fiz com os livros, gostaria de deixar aqui um Top 5 das Melhores Adaptações de Obras de Stephen King:

1.Conta Comigo

2.À Espera de Um Milagre

3.Desespero

4.Louca Obsessão *(em qualquer filme que eu vejo a Katy Bates tenho vontade de matar ela)

5.A Maldição do Cigano *(caso em que o final do filme é muito melhor que o do livro)

ps.: Já respondendo aqui que não, não tenho nada contra O Iluminado.

As pérolas do King

“Primeiro vem os sorrisos, depois as mentiras, por último o tiroteio.”
Roland Deschain / A Torre Negra

Como todo bom gênio, Stephen King tem o seu compêndio de frases incríveis, e aqui vai uma boa coleção delas. Acho que gastei mais tempo refletindo sobre algumas delas do que escrevendo este texto.

De qualquer modo, Stephen King é um homem que você deve conhecer. E ler. Principalmente Ler.

“Escrever é divertido. Você entretém a você mesmo. A principal diferença entre ir ao cinema e escrever livros assustadores é que você paga para ir ao cinema. Para escrever, eles pagam a você”.
“As pessoas me perguntam: ‘Você escreve este tipo de coisa por dinheiro?’. Digo que não, sempre escrevi esse tipo de coisa. O dinheiro me achou, e não quero jogá-lo fora”.
“As pessoas ficam desapontadas com minha aparência. Dizem:’Você não é um monstro'”.
“Para muitos produtores e diretores, o material que escrevo é extremamente visual. Eles resolvem filmá-lo achando que não precisam trabalhar duro na construção dos filmes. Para eles, é só uma questão de elenco. Quando fazem os filmes, eles se concentram nos momentos em que um monstro aparece movimentando suas presas. Não acho que as pessoas estejam interessadas nisso.”
“Se eu gosto de assustar as pessoas? Sim, eu gosto”.

“…alguém sempre levanta e me faz essa pergunta: Por que você escolheu escrever sobre assuntos tão medonhos? Eu geralmente respondo essa com uma outra pergunta: Por que você acha que eu tenho escolha?”
“Já matei árvores demais no mundo.”
“O meu trabalho se resume em duas coisas: prestar atenção em como as pessoas reais se comportam e então contar a verdade sobre o que você vê.”
“Temos medo de tudo: do desconhecido, do abismo, da noite, das tempestades, da selva e dos desertos. Na hora de escrever, basta pensar que aquilo que me assusta provavelmente também assusta os outros. Em algum lugar dentro de nós existe uma chave que acende o medo; ali onde se instala o conto de terror, quando está bem escrito, pois o homem sente mais atraído por monstros e dragões do que por heróis. Como impossível estar sempre lutando contra nossos próprios demônios e males, de vez em quando sentimos necessidade de levá-los pra passear.”
“As pessoas me perguntam por que eu escrevo coisas tão brutas. Gosto de dizer que tenho um coração de menino – está guardado num vidro em cima da minha escrivaninha”.
“O mérito é ser capaz de conquistar a confiança do leitor. Não estou, realmente, interessado em matar alguém no primeiro parágrafo de um romance. Desejo ser seu amigo. Quero me aproximar de você, dar-lhe um abraço e dizer: Ei, sabe de uma coisa? É um trabalho maravilhoso! Espere até vê-lo! Gostará dele, e muito. Então consigo interessá-los de verdade, conduzo-os rua acima, mando-os dobrar a esquina e entrar na avenida onde se acha aquela coisa terrível e mantenho-os ali até começarem a gritar! É muito engraçado. Reconheço que isto deve soar um tanto sádico, mas não se pode deixar de dizer a verdade.”
“Crianças, ficção é a verdade dentro da mentira, e a verdade desta ficção é bastante simples: a magia existe.”
“Horror, terror, medo e pânico: são essas as emoções que nos marcam, nos diferenciam da multidão e nos condenam à solidão”
“Uma criança, cega de nascença, só sabe de sua cegueira se alguém lhe conta.”
“Aqueles que não aprendem do passado estão condenados a repetí-lo”
“Antes da vitória vem a tentação”
“Se você se irrita com os críticos, você pode ter certeza de que quase sempre eles estão certos.”
“A beleza da mania religiosa é que ela tem o poder de explicar tudo. Uma vez que Deus (ou Satã) são aceitos como a primeira causa de tudo que acontece no mundo mortal, nada é deixado à sorte… a lógica pode ser alegremente jogada pela janela.”
“Talento é mais barato que sal. O que separa a pessoa talentosa da bem-sucedida é muito trabalho duro.”
“Um produto é algo feito em fábricas; uma marca é algo que é comprado pelo consumidor. Um produto pode ser copiado por um concorrente; uma marca é única. Um produto pode ficar rapidamente obsoleto; uma marca de sucesso é eterna.”
“A confiança do ingênuo é a arma mais útil do mentiroso”

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A ‘Homens que você deveria conhecer’ é uma série colaborativa do PapodeHomem. A ideia por trás dessa coletânea que já tem mais de 50 textos é montar um conjunto representativo de homens vivos ou mortos que são dignos de notoriedade e que podem, através de suas histórias de vida, nos ensinar algo de positivo.

Para que essa série se torne cada vez mais representativa dos bons exemplos que nossa comunidade – autores e leitores – cultiva, dependemos da sua colaboração e estamos abertos para recebê-las. Através do meu email breno@papodehomem.com.br estamos recebendo sugestões e artigos de pessoas que você gostaria que conhecessem.

Para acertar a mão e emplacar um texto na série basta se atentar a algumas instruções: (1) os artigos são quase biográficos por isso eles podem obedecer a uma ordem cronológica dos fatos, mas (2) eles devem conter detalhes pouco conhecidos sobre a vida do personagem que justifique sua escolha. Além disso, (3) é importante que o texto não foque apenas no aspecto profissional da vida do personagem, queremos ‘Homens que você deveria conhecer’, não apenas empresários, engenheiros, artistas etc. Por último, (4) você pode visitar os outros 50 artigos da coleção para ter inspiração. Os outros parâmetros mais subjetivos, batemos individualmente por email quando você tomar tempo e coragem pra nos recomendar alguém. Até lá.

Pedro Turambar

Pedro tinha 25 anos e já foi publicitário. Ganha a vida fazendo layouts, sonha em poder continuar escrevendo e, quem sabe, ganhar algum dinheiro com isso. Fundou o blog <a>O Crepúsculo</a> e tem que aguentar as piadinhas até hoje. No Twitter