Mais uma “emocionante” Segunda-Feira da minha vida, onde a equipe de cirurgia do joelho da qual faço parte se encontra para realizar artroscopias, próteses de joelho e reconstruções de ligamento cruzado.

Só que essa Segunda foi um dia à parte.

Culpa do nosso anestesista, que resolveu contar um causo ocorrido com ele, interessantíssimo por sinal, e o papo descambou para relacionamentos e situações inusitadas. Como só tinha médico ali, falamos de colegas e afins.

Contava o anestesista que um colega dele se casou, e durante o casamento, uma amiga dele conheceu um dermatologista, e ambos foram vistos saindo juntos do casório. Pois é. Na semana seguinte, estavam o anestesista e a garota junto com amigos, e ele percebe que ela está cabisbaixa. E ela vem pedir uma opinião, pois o cara havia ligado para ela no dia seguinte, para irem juntos à praia, e depois, sumira.

Ele, no alto de sua ingenuidade, comentou: “Vocês transaram?”

E ela respondeu indignada: “Isso não é da sua conta”. Bom, quando não transa, diz logo que não, né?

Então ele jogou a real: “Olha, quando a garota fica só no beijinho e tal, a gente não costuma ligar. Mas se rola algo mais, geralmente tem um telefonema no dia seguinte…”. Em resumo, o cara comeu a garota naquele dia, no dia seguinte ligou para comer de novo, e depois, sumiu sem deixar vestígios.

A garota se debulhou em lágrimas. “Poxa, ele tinha um papo tão legal!!”. Ironicamente, era daquelas certinhas. Caiu na lábia do malandro e entrou para o clube dos “lanches rápidos one-way”.

E nisso todos na mesa se revoltaram com o anestesista, dizendo que ele tinha que ter sido mais sutil e tal. Um dos presentes na mesa estava no centro cirúrgico, operando na sala ao lado, e então juntou-se à nossa discussão. A garota chorando disse a ele:

“Seu mal é que você é muito sincero”. Prato cheio para o Dr Love.

E aí rola a cena mais engraçada. Ouvindo o burburinho, um paciente, que estava na maca aguardando procedimento, comenta: “Aí, dotô, não pude deixar de ouvir… Garota nova, bobinha, ainda vai aprender com a vida!”. Até o paciente se meteu.

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Toda essa situação desencadeou uma série de conversas sobre relacionamentos e afins, que serviu para animar aquela tarde cirúrgica.

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Tá doendo? Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmmm…

A história seguinte também foi relatada pelo anestesista.

Houve de certa feita um congresso, e eis que um cara e uma garota “se entendem” no meio do congresso. Resolvem voltar para o hotel, para vocês-sabem-o-que.

Deram muito azar, porque na hora que chegavam juntos, alguns amigos deles estavam saindo de carro para uma noitada. E ao avistarem os pombinhos, não tiveram dúvidas. Saltaram todos do carro, e começaram a cantar, em coro:

– VAMOS FAZER AMOR! VAMOS FAZER AMOR! VAMOS FAZER AMOR!

No final das contas, os dois acabaram se casando. Mas do jeito que a garota ficou constrangida, a primeira noite definitivamente NÃO foi aquela.

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Essa outra eu presenciei, aconteceu quando era residente.

O alojamento do hospital tinha um corredor com uma sala de estar com paredes de vidro. Quem passa em frente é visto, não tem pra onde correr. De um lado ficava o dormitório feminino, e do outro, o masculino. Para chegar à saída, quem vem do dormitório masculino é obrigado a passar em frente a sala de estar, o que não acontece com o feminino.

Nós, residentes de ortopedia, por conta de nosso chefe psicopata que queria nos fazer estudar a todo custo, éramos sempre os primeiros a chegar ao hospital, com sessões clínicas marcadas para, às vezes, cinco e meia da manhã. Num desses dias, o chefe queria passar um vídeo sobre algum tema ortopédico, mas a sala de vídeo do serviço estava trancada. Então alguém teve a idéia de irmos assistir na sala de estar do alojamento. E fomos para lá, 16 pessoas, todas do sexo masculino.

E estávamos lá, vendo o video, quando, de repente, aparece uma residente da anestesia, vindo do dormitório MASCULINO, em direção à saída, com os cabelos molhados, e pela vidraça, ao nos ver, se enche de vergonha, tapa a cara e sai correndo. Flagrante delito. Gargalhada geral, e não sei por que, ela nunca mais foi a mesma com a gente…

(Bom, eu sabia no quarto de quem ela havia dormido. Pelo menos acabou virando marido dela.)

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Outro belo dia…

Fui ao centro cirúrgico de um hospital no qual trabalho, e chamei a chefe da enfermagem para solicitar a marcação de uma cirurgia. Quando ela me atende, a reconheci de pronto.

Ela havia trabalhado na central de esterilização de material do hospital onde fiz residência. E, digamos, dois colegas meus curtiram os prazeres da carne com ela.

Como a roda da fofoca não perdoa, ela, por trabalhar na esterilização, ganhou o apelido de “Limpinha”. Como era comida “estéril”, os caras diziam que ficavam mais tranquilos quanto à DSTs… E demais piadinhas do gênero.

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Coisas interessantes acontecem em alojamentos de residentes.

Um amigo meu fez residência em um hospital que era próximo a uma famosa noitada carioca. Então a tática era arranjar a presa, arrastá-la para o alojamento e lá proceder com o abate.

Só que a galera estava passando dos limites, até que a zeladoria baixou uma norma:

À partir daquele momento, só poderiam entrar no alojamento mulheres que fossem parentes dos moradores.

Conta a lenda que nunca apareceu tanta irmã, prima, tia e afins… A zeladora deve ter ficado espantada em como os residentes recebiam a visita de “parentes”. Estima-se que um dos residentes teria apresentado umas quinze irmãs.

Jeito só não tem pra morte.

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Mas um colega passou dos limites uma vez.

Saindo pela noitada em Copacabana, deparou-se com uma vendedora de bugigangas. Conversa vai, conversa vem, o cara disse que oferecia R$50 para que ela os acompanhasse. Como não tinha local para o abate, resolveram (ele e os amigos) levá-la… Para o alojamento, oras. Sim, o alojamento fica dentro do hospital.

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Chegando lá, passaram a noite, e na manhã resolvem bancar os espertos e não cumprir o acordo. Tentam expulsar a mulher e ela diz que se não pagarem, iria fazer um puta escândalo.

Vendo a merda que isso ia dar, o cara desistiu e pagou. Totalmente sem noção.

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No aspecto putaria, o Hospital que trabalhei quando servi o Exército foi campeão. Era difícil não conhecer algum lugar “virgem” da unidade. Era fácil travar amizade com os soldados que guardavam chaves de ambulatórios ou outras salas, daí era só pegar emprestado e usar de abatedouro.

Logo após eu dar baixa, um colega me contou que o novo diretor do hospital, querendo impor uma linha dura, resolveu colocá-lo em detenção por uma falta disciplinar.

A “detenção” do hospital era nada menos que um quarto de enfermaria, sem paciente. O cara podia circular pelo hospital e teria que dormir ali, durante dois dias.

O que ele fez? Prometeu uma dispensa médica para o soldado que o vigiava fazer vista grossa, e chamou uma “quebrete” para “ficar detida” ali com ele.

Assim é moleza.

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Quando minha mãe fez uma lipoaspiração uma vez, ao visitá-la em um hospital particular, comecei a trocar idéia com a enfermeira que cuidava dela. E ela conhecia um colega meu de residência, e falava sobre o mesmo com um certo ar saudoso.

Quando o interpelei, ele disse que teve um casinho com ela, mas nada mais.

De outra feita, após o 1o de dois dias de um congresso, esse cara me liga. Transcrevo o diálogo:

– Mauricio, dá para você ir comigo no congresso amanhã?

– Por que?

– Tô com medo. Fui ameaçado de morte.

– Como assim?

Um dos palestrantes era o NAMORADO da tal enfermeira, e ao que parece, descobrira o caso dela com o meu colega. Porém, este jura que não tinha mais nada com ela. Pois bem, o cara passou o congresso todo procurando esse meu colega, e quando o achou, começou a gritar com ele, e disse que o mataria. Ao que parece, a garota resolveu provocar uma ciumeira. Até onde sei, claro.

– Sério? Tá, eu vou contigo

– Mas não conta isso pra ninguém.

Eu nem precisei contar. Um outro colega, sacana, havia visto o cara gritando com ele.

Aí virou zona. O cara recebeu uns 20 bilhetes com ameaças de morte (nossos, é claro), pegou fama de fura-olho e nunca mais teve sossego.

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Eu podia ter contribuído para essa lista de histórias… Pena que a Gabriele…

Lá pelos meus 27 anos, estava eu atendendo num hospital de emergência, naquele ritmo SUS, no máximo dois minutos por paciente que é pra fila andar.

Gritei: “Próximo”

E ouço aquela voz doce: “Estou com uma dor no punho…”

E quando levanto o olho… Uma verdadeira princesa!

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Dr. Health, exercitando seu olhar 43 com a paciente. Ou babando, tanto faz.

Que sorte, estava rolando um clima, Minha consulta padrão do SUS, que devia durar uns 2 minutos no máximo, se estendeu por quarenta e cinco minutos de papo com ela. Gabriele era seu nome. Linda, linda, linda.

Rolava aquele papinho clássico de quando a química é certeira. Todos na sala perceberam o clima, e riam. A gesseira não se aguentava em pé. Queixou-se de dor no joelho. Tive que examinar, que chato.

Mas como alegria de pobre dura pouco, um pouco antes de partir para a ofensiva, eu olhei o boletim de atendimento dela.

A Gabriele tinha quinze anos… Putz, pedofilia é crime. Coloquei uma tala no punho dela e a liberei. Mas…

Na quarta feira seguinte, o gesseiro do hospital me liga. Disse que uma paciente minha, Gabriele, me procurou no dia seguinte – eu não estava lá – dizendo que o gesso tinha quebrado. Mas ele percebera que era mentira dela, e ela confessou que tinha ido lá me ver, e pediu meu telefone pro cara. Ele disse que não podia dar, mas anotou o dela e me passou pelo telefone.

Anotei.

E ele completou:

“Doutor, ela pediu pro senhor ligar de tarde, quando os pais dela não estão em casa. Diz que é pra vocês combinarem de o senhor ir buscá-la no colégio”.

Desliguei e fiquei olhando para aquele papel… E a única coisa que eu via, era a manchete do jornal no dia seguinte:

“MÉDICO TARADO SEDUZ MENOR DE IDADE”

Ortopedista já não tem fama boa, eu tenho uma reputação a zelar, então, amassei e joguei fora. Se tivesse uns 17, pelo menos…

Enfim, nunca mais tive notícias da Gabriele. E como Murphy é implacável, hoje ela deve estar com 21 aninhos, mais linda ainda e se me ver, nem vai dar bola…

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Ao final da última cirurgia, ainda veio essa última história, para coroar um dia engraçado.

Meu chefe da equipe de cirurgia do joelho foi operar num hospital particular aqui do Rio, e um individuo, que tinha um amigo o acompanhando, seria submetido a uma artroscopia.

Só que a cirurgia do cara atrasou. E o “amigo” dele estava preocupado, foi à entrada do centro cirúrgico pedir informações. E uma enfermeira entra na sala onde o paciente seria operado.

Nesse exato momento, o anestesista estava sedando o paciente. Mas algumas substâncias anestésicas têm o poder de funcionar como um “soro da verdade”. Justamente nessa hora, a enfermeira lasca a pergunta:

“Doutor, tem um cara aí fora querendo saber do paciente”

E o paciente, sob o efeito da tal substância, se entrega, cheio de trejeitos:

“Um cara não! Esse homem é tuuuuuuudo pra mim!”

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Cheguei tarde em casa após as cirurgias. Mas foi bem divertido…

Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.