O amor pode ser uma torre alta, estreita e sem proteção, e a gente precisa tomar cuidado com torres altas, estreitas e sem proteção.
A sensação é:
Você subiu uma escadaria enorme, a mais alta da cidade. Chegou ao terraço e não tem mais ninguém experimentando aquela sensação. Puta merda, que foda. Olha essa vista. Olha esse vento. É um sopro que faz você sentir cada pedacinho do seu corpo, arrepiar cada pelo do braço individualmente, esquentar todos os espaços da casa e da pele. Mas o sopro não vem só da vista do terraço. Ele também brota do seu pulmão, com a respiração acelerada. Seu olho (e seu coração) tá brilhando com as luzes da cidade vistas aí do alto, mas a perna tá tremendo com a altura exagerada da torre.
Ela é tão estreita e tem tantos andares que seus pés não conseguem se fixar e o corpo não ganha equilíbrio.
As vezes o amor é isso. Uma torre alta que faz você se sentir privilegiado e inseguro ao mesmo tempo.
Porque você tá vivendo uma experiência que ninguém mais experimentou, mas as coisas podem desaparecer em questão de segundos. Basta um pisar em falso. Basta colocar seu pé em um lugar que você não havia pisado antes.Você tem uma vista única, mas pode cair a qualquer momento porque
a torre
não tem
segurança.
Lembra? É bom lembrar.
E aí a gente tenta colocar essa teoria em uma cartilha mental. Pra não subir em torres altas demais, pra não despencar lá de cima. Pra que não precise doer pra amar. Pra conseguir aproveitar a vista do alto sem ficar pensando de minuto em minuto meudeusdoceueuvoucair.
Pra ficar no lado bom da paisagem.
E, se a física tiver razão, tudo depende da perspectiva.
Só falta convencer o coração de que o alto não é a única opção. De que dá pra pegar um elevador, descer dessa torre, caminhar até a calçada e se emaranhar por outras ruas. Experimentar outras vistas. Porque existem mais bairros, existem mais prédios, existem mais escadas.
Há outras torres.
A cidade, meu bem, é grande. E o amor também.
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