13 de junho de 2013
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O quarto ato do dia 13 de junho foi o meu primeiro por essa causa, que uns dizem ser os 20 centavos, e outros, a liberdade, e alguns, que é “por algo muito maior”.
Mas por que eu queria estar lá?
Primeiramente pela minha profissão de fotógrafo. Mas, além disso, eu queria estar lá pois algo mudou, o povo finalmente retomou às ruas, estamos novamente lutando por algo e aprendendo que só assim vamos conseguir fazer com que algo mude e não só isso, forças do Estado estão reprimindo e ao reprimir estão tentando fazer com que as ruas voltem a ser só deles.
Tanto já se falou sobre isso, mas eu pensei – porque eu queria estar lá?
Eu estive lá.
De inicio tudo estava correndo como manda o figurino de uma manifestação das mais lindas que já vi e nesse momento decidi que não iria fazer fotos, eu queria que essa história linda tivesse movimento, que ela fosse contada com sons, com vozes pois as vozes me cativaram e fizeram caminhar.
Cantamos e seguimos do centro para a Consolação, paramos em frente ao Love Story e ali a bateria ferveu. Bandeiras balançaram com mais força e depois dessa parada, a multidão seguiu sentido Av. Paulista — meu coração batia forte, eu sabia que estava no lugar certo e na hora certa eu sentia a história acontecendo.
Próximo à Maria Antônia, local onde os conflitos com a PM começaram, eu já estava tomado pelo movimento. Vi poucos carros de polícia e os próprios manifestante tentando organizar um cordão de isolamento para evitar que as duas faixas fossem tomadas.
Poucos minutos depois, ouço as primeiras bombas explodindo no meio da multidão. Meu coração apertou e minha mão tremeu. Corri em direção oposta aos que fugiam e me coloquei no meio do conflito — desse momento até a hora em que cheguei em casa entrei em um transe completo, eu apenas fui me deixando levar por tudo que ia acontecendo ao meu redor –; bombas, pedras, tiros de borracha, gritos, correria. Em vários momentos eu filmei achando que não filmava e em vários eu achei que filmava e não filmei.
Não conseguia pensar em muita coisa, só focava no “eu tenho que estar aqui eu preciso que o mundo veja o que estou vendo”. Fiquei até que o conflito parasse.
Segui para a rua Augusta e, ao chegar lá, percebi que eu tremia mais do que podia imaginar. Pensei “caralho, se eu tremi tanto assim enquanto filmava, meu trabalho já era”.
Descobri depois que eu não tremi.
Na Augusta, nova repressão. Seguimos para a Consolação e, lá, vi uma cena que ninguém vai tirar da minha mente e que eu não consegui filmar.
Todos os que restaram se sentaram na rua pedindo paz. Fiz uma foto, pois o momento era lindo. Quando me levantei, vejo rastros de fumaça cortando o céu escuro, esses rastros batem na parede de um prédio residencial e pousam no meio dos que estavam sentados. As bombas explodem e o gás é liberado. Correria, gritos e uma saraivada de estilhaços e tiros de borracha acabam com aquele momento. Decido que é o suficiente para mim e começo a tentar ir embora.
No meu retorno, me sinto um criminoso, fugindo pelas ruas dos Jardins com algumas pessoas que conheci momentos antes. Nessa fuga, algumas viaturas da Rota seguem no mesmo sentido que estávamos indo, procuramos um lugar para esperar.
Um bar próximo ao metro Marechal vira o refúgio. Sentamos na mesa, pedimos uma cerveja – brindamos com um “viva a revolução” tirando sarro de toda nossa fuga.
Hoje tem mais. Eu estarei lá.
“Nunca tantas pessoas esperaram por uma segunda-feira”
Até a publicação desse post, quase 250 mil pessoas confirmaram presença no quinto grande ato contra o aumento das passagens. Se 30% disso efetivamente aparecer no Largo da Batata, em São Paulo, já será uma bela massa de gente fazendo história. Apareceram informações de que não haverá a presença da Tropa de Choque no local e nem o uso de balas de borracha por parte da polícia, mas segurança nunca é demais.
No final de semana, o nosso ilustrador — Felipe Franco — foi chamado para desenhar um Guia de proteção pessoal para manifestantes pacíficos. Vale a pena o download e uma bela olhada nas informações.
Outra opção bem importante é visitar a página dos caras do Mobilizados, no Facebook. Tem muito mais informações por lá e uma série de auxílios por parte de voluntários (primeiro-socorros, jornalistas e comunicadores, advogados, etc) para que tudo corra da melhor forma possível.
Vá pra rua. Vá com segurança e pensando em mudar um pouco do seu país.
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