"Olá, 

Venho passando por um momento delicado em algumas esferas da vida e, por não saber o que fazer, compartilho meu problema com vocês para ver se alguém consegue trazer uma luz. Três são os ambientes em que, mesmo sempre ponderando muito minhas escolhas, não vejo mais sentido no que venho fazendo. No trabalho, dois problemas. Na advocacia há praticamente nove anos, não tenho mais nenhum tesão de continuar por não confiar em nosso Judiciário. Me dedico de corpo e alma a cada processo que me é confiado, já rejeitei propostas de emprego que me dariam mais do que o dobro de meu salário atual para privilegiar a confiança dos clientes que me contrataram (e cujos processos ainda não terminaram) e, no fim das contas, me vejo bombardeado de todos os lados. O cuidado que tenho no trato dos casos não é correspondido pelos julgadores, que aparentemente os julgam de qualquer maneira e sem a menor consciência de que existem outras pessoas do outro lado – tanto a parte quanto o advogado, que se sustenta dessa forma – e cujas vidas são afetadas diretamente por isso. Com isso, os clientes também ficam insatisfeitos e muitas vezes jogam a culpa no advogado, o que é mentalmente estressante.

Sou também professor universitário, e me demiti recentemente de uma universidade por não concordar com os métodos de ensino ali utilizados. Formam-se alunos de qualquer maneira, sem preocupação com a excelência no aprendizado e com foco apenas no dinheiro. Isso se reflete, no final, nos operadores do direito que entram no mercado de trabalho, e isso retroalimenta o problema anterior.

Por fim, também tive diversos problemas com meu orientador de mestrado, em uma relação notoriamente abusiva em que, para além de não auxiliar em nada nos três anos de minha pesquisa e não responder meus diversos questionamentos, sempre criou dificuldades em absolutamente todos os procedimentos formais exigidos pela faculdade.

Tudo isso me coloca o seguinte questionamento: o que estou fazendo aqui?

Me parece que existe uma falta de comprometimento geral, e ao tentar mudar esse panorama eu me desgasto sem consequências concretas. Se tento mudar a base, a universidade me trava. Se tento mudar a forma de agir nos processos judiciais, quem decide – e até mesmo quem faz os processos andarem – também não ajudam. Se tento estudar para me qualificar e melhorar os processos anteriores, muitos são os obstáculos decorrentes única e exclusivamente de falta de boa vontade. 

Hoje, além de ter me demitido da universidade e estar aguardando apenas o agendamento de minha banca de mestrado – procedimento que também vem sendo dificultado pelo orientador já mencionado – eu praticamente venho fazendo o mínimo necessário no escritório. Me sinto, assim, sendo sugado pelas condições do ambiente que tanto critico. Não tenho forças para continuar combatendo o sistema, mas não combatê-lo me traz ainda mais angústias. E aí, o que fazer?  

P.S. Sei que meu relato é muito específico do mundo jurídico, mas acho que essas situações são plenamente extensíveis a outras profissões em que existe a necessidade de se lidar com pessoas (ou seja, quase todas). Assim, creio que a ajuda pode vir mesmo de pessoas em esferas que nem conheço.

P.S.2: Mudar de carreira seria um conselho fácil, e já é algo que considero. Mas existem peculiaridades do mundo jurídico que dificultam isso, como a extrema demora na resolução definitiva de processos judiciais. Como já disse, não quero deixar meus clientes na mão. Praticamente já não tenho aceitado casos novos, mas os antigos não têm perspectiva de fim. Por outro lado, sem casos novos meu sustento fica relativamente prejudicado, especialmente agora que estou fora da universidade. Ou seja, uma sinuca de bico."

— André Luiz

Leia também  Como ajudar meus pais se eu mesmo sou excluído da família e preciso de ajuda? | Mentoria PdH #39

Complemento sobre o assunto:

O impacto das nossas escolhas profissionais, TED do Cesar Karnal

 

O poder de assumir as nossas escolhas, TED da Aline Jaeger

Como responder e ajudar no Mentoria PdH (leia para evitar ter seu comentário apagado):

  • comentem sempre em primeira pessoa, contando da sua experiência direta com o tema — e não só dizendo o que a pessoa tem que fazer, como um professor distante da situação
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  • sejam específicos ao contar do que funcionou ou não para vocês
  • estamos cultivando relações de parceria de acordo com a perspectiva proposta aqui, que vai além das amizades usuais (vale a leitura desse link)
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Guilherme Nascimento Valadares

Fundador do PDH e diretor de pesquisa no Instituo PDH.