A Cidade do Cabo, na África do Sul, é famosa pela situação geográfica que agrada brasileiros. Tem montanha e tem mar. Lembra o Rio de Janeiro, mas é mais limpa, mais organizada e tem arquitetura, principalmente da parte nova da cidade, de dar banho na carioca.
Tem também problemas semelhantes ao Rio: favelas na periferia, drogas oferecidas abertamente a turistas, vans que faziam transporte público ilegal e tiveram de ser legalizadas, e trens que atendem todo o perímetro urbano, inclusive chegando às belas Stellenbosch (no interior) ou Fish Hoek (no litoral), mas que devem ser evitados por turistas pelo perigo que podem apresentar – leia-se assalto com direito a atirar pessoas para fora do trem.
As opções de passeios para os arredores incluem famosas vinícolas africanas, uma esticada à ilha onde Nelson Mandela passou 30 nos de sua vida preso, safáris, parques com leões brancos, guepardos, balneários de pinguins, fazendas de avestruz, o cabo onde Vasco da Gama dobrou para vir às Américas (o da Boa Esperança) e um mergulho para focagem de tubarões no habitat onde o grande predador do mar vive e reproduz.
Partindo da Cidade do Cabo em direção a Gansbaai, a aventura em busca do tubarão branco começa cedo. Saímos do hotel às 9h e às 11h a equipe do White Sharks Project nos esperava para um brunch. Meia hora pra comer, meia hora pra explicar o que iria acontecer.
Partiríamos para alto mar, próximo à ilha onde os bichos vivem à espera de focas para se alimentar. Quarenta minutos para chegar ao local onde, numa jaula acoplada ao barco, mergulharíamos para ver feroz o predador do topo da cadeira alimentar marinha fazer o que faz desde os tempos pré-históricos: caçar.
Tudo funciona de maneira muito simples e a equipe do White Shark Project faz isso duas vezes ao dia: leva turistas até o local, joga sangue e pedaços de atum na água para chamar o bicho e, ao final, atraem o bicho com uma cabeça de atum presa a uma corda para perto da jaula onde mergulhamos. Mesmo assim o clima em alto mar é tenso.
O Sol, que brilhava na praia de Gansbaai, já se escondia atrás das nuvens no mar aberto. O barco sacudia e as instruções para o caso de naufrágio eram ignoradas. Afinal, se virássemos ali, era adeus a este mundo: viraríamos comida de tubarão. O termo de conhecimento dos riscos assinamos no lodge onde tomamos o brunch.
No mar, era só vestir a roupa de mergulho, a máscara, entrar na jaula e esperar o predador vir.
A água devia estar com menos de 10 graus. A adrenalina é tão grande que você entra e nem sente. Até relaxar, leva um tempo. Os primeiros bichos se aproximam. Começa tudo lentamente. Vem um, vem outro… De repente, dois, três ou quatro ao mesmo tempo.
Ao ver a barbatana, a equipe grita “Go!” e você mergulha a cabeça dentro d’água para ver o bicho se aproximar e tentar agarrar a cabeça de atum.
Eles saltam para fora da superfície, passam debaixo da jaula, debaixo do barco, nas laterais e na frente. Não chegam a atacar a jaula com os seres humanos, até porque a roupa de mergulho, preta, dá uma camuflada aos olhares do bicho. Mas o medo de perder os pés e as mãos é grande.
Três horas e mais de 50 tubarões depois, voltamos para terra firme para o chá da tarde – a África do Sul mantém esse hábito de um dos seus colonizadores, os ingleses.
Experiência inesquecível, mas que, pelo risco que oferece, apesar de a equipe se orgulhar de nunca ter tido nenhum acidente, não faria de novo.
* Todas as fotos são do autor.
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