“Hello, stranger.
Hoje, na manhã de 16 de agosto, resolvi imitar os filmes como uma última realização. Peguei esta carta, coloquei na garrafa (que você encontrou) e joguei no mar; sou roteirista e, pela primeira e última vez, trouxe o clichê da fantasia para o mundo real — o contrário do que costumo fazer.
A verdade é que tenho uma confissão a realizar antes da minha partida — não por completo, pois não conseguiria: na última semana, fiz algo de que não me orgulho e não tive coragem de dizer a absolutamente ninguém (até agora).
Foi na noite da segunda-feira. Descobri algo terrível, a mais cruel traição de que tenho conhecimento. Depois de horas tentando decidir o que fazer, a ira tomou conta de mim e só pude responder pelos meus atos depois que já não havia volta; sou ciente de que nem a mais abominável situação merecia tamanha monstruosidade, por isso não consigo mais dormir em paz e nem terminar uma refeição sem ficar completamente enjoado.
Estou arrependido.
Pensei em ir até a delegacia e me entregar mas, então, me dei conta de que é impossível levar adiante essa culpa, independente de onde eu passe o resto dos meus dias. Prefiro tirar minha própria vida do que carregar um peso que só me trará dor.
Você, caro desconhecido, foi meu último amigo antes de partir — talvez o único que já tive em toda a minha vida. O destino nos uniu e me deu a chance de falar a verdade a alguém, mesmo que tarde demais. Obrigado.
Obs: deixo aqui um agradecimento especial para Barbara Lewis, por inspirar um ótimo início para o meu fim (a frase da primeira linha veio de uma música dela).
S.“.
— Mais nada? Só tá escrito isso?
— Só.
— Onde você pegou esse papel, moleque?
— Achei daquele lado da praia, dentro da garrafa.
— Deve ser pra essa tal de Barbara Lévis. Joga essa merda fora e vem passar mais protetor, senão você não volta mais pra água hoje.
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