Quantos de nós dedicaríamos uma vida inteira inteira em prol da humanidade?
Jonas Edward Salk, pesquisador médico e virologista, nasceu na Nova Iorque de 1914, filho de um casal de imigrantes judeus ortodoxos de origem polonesa. Desde pequeno ficava impressionado com o sofrimento causado pelas doenças e não se sentia confortável em uma posição de indiferença, de braços cruzados.
“Quando criança, eu não estava interessado na ciência. Eu apenas estava interessado em coisas humanas, no lado humano da natureza.”
Salk foi um aluno dedicado e notável na Faculdade de Medicina da Universidade de Nova Iorque, onde descobriu uma aptidão natural para a área de pesquisas. Seu desejo era ajudar a humanidade em geral em vez de pacientes individuais. Salk admite que sua mãe ficaria muito mais orgulhosa se ele tivesse tido um consultório na Park Avenue, mas ele não poderia desistir de seu objetivo principal.
Por ser filho de judeus, encontrou dificuldades para conseguir trabalho na área de investigação de doenças, devido às cotas judaicas da maioria dos estabelecimentos de pesquisa médica americanos. Ele via esses obstáculos como desafios:
“Eu era consciente de que algumas portas que me foram fechadas resultaram em outras portas que se abriram.”
A persistência de Salk o levou a criar uma vacina que ajudou a salvar milhares de vida.
Luta contra a poliomielite
Até os anos 50, a poliomielite aterrorizava a população americana. As principais vítimas eram crianças. O vírus da doença penetra no sistema nervoso levando à paralisia e às vezes até à morte.
O pânico da população aumentava cada vez mais e a imprensa divulgava fotos de crianças em cadeiras de rodas com os músculos atrofiados, fora as que precisavam de muletas ou respiradores artificiais. Para vocês terem uma ideia da gravidade, em 1952, dos 58.000 casos registrados da doença, 3.145 pessoas morreram e 21.269 ficaram com algum tipo de paralisia.
Dois caras foram os responsáveis pelas pesquisas para tentar criar uma vacina contra a poliomielite: o próprio Jonas Salk e Albert Sabin, em caminhos diferentes. Salk acreditava que o sistema imunológico podia ser ativado sem infecção, só com um vírus inativo ou morto, devido à sua experiência anterior com a vacina da gripe. Sabin achava que era necessário criar uma leve infecção, usando um vírus vivo.
Salk realmente sofria quando via uma pessoa com um caso de paralisia e acreditava que isso poderia ser evitado. Depois de muito trabalho, sem grandes resultados, dizem que ele até pensou em desistir, como menciona o artigo da revista Wisdom (agosto de 1956):
“Ele estava sentado em um parque e viu crianças brincarem. Percebeu, pois, o quão importante o seu trabalho era. Ele viu que havia milhares de crianças e adultos que jamais voltariam a andar e cujos corpos seriam paralisados. Ele percebeu sua enorme responsabilidade, e assim continuou sua tarefa com vigor renovado.”
Depois de dois anos e meio de luta, trabalhando 16 horas por dia, sete dias por semana, Salk finalmente conseguiu avançar nas pesquisas, graças também ao cientista John Enders, que recebeu em 1954 o Prêmio Nobel por ter conseguido cultivar in vitro o vírus da poliomielite.
O testes em animais de laboratório foram bem sucedidos, mas a vacina precisava ser testada em humanos. Quem assumiria esse risco? Salk não pensou duas vezes e assumiu o risco junto com a sua esposa e mais três filhos.
Finalmente, em 12 de abril de 1955, anunciaram que a vacina criada por Salk era segura e eficaz. Pessoas choravam e se abraçavam, riam pra estranhos, sinos de igrejas tocavam e as buzinas não paravam. Até os inimigos foram perdoados… Parecia que tinha acabado uma guerra.
Uma vacinação em massa foi realizada, beneficiando milhões de pessoas, não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.
Em 1961, ficou pronta a vacina de Albert Sabin com vírus vivo atenuado, a famosa “gotinha”. Tanto a vacina de Salk quanto a vacina de Sabin são eficazes e usadas até hoje.
Link YouTube | Salks anunciando a nova vacina.
Contra as patentes
Apesar de sua grande contribuição para medicina, Salk nunca recebeu o prêmio Nobel e nem foi aceito como membro da Academia Nacional de Ciências. O mundo científico não simpatizava muito com ele. Não por acaso: em vez de seguir o protocolo da época e registrar sua descoberta numa revista médica especializada, Salk deu uma entrevista coletiva e falou na rádio sobre a vacina.
Muitos cientistas acharam que Jonas Salk foi vaidoso, mas o público leigo o considerava um herói. Salk não buscava fama ou dinheiro com suas descobertas. Poderia ter ficado muito rico se tivesse vendido a patente de sua vacina para uma empresa farmacêutica, mas dizia que a descoberta deveria ser usada a favor da humanidade, para o bem comum.
Sua maior recompensa era salvar pessoas da paralisia e da morte.
Perguntaram para Salk sobre quem possuía a patente da vacina da poliomielite. Ele respondeu:
“Bem, eu diria que o povo. Não há patente. Você patentearia o Sol?“
A vida não para…
Mesmo após a descoberta da vacina da polio, Salk não se acomodou e continuou com outras pesquisas e projetos.
“Não podia parar, a pessoa fracassa se para cedo.”
Em 1963, realizou um sonho: fundou o Salk Institute for Biological Studies, um esplêndido complexo de laboratórios e unidades de estudo conjunto que ajudou na carreira de muitos cientistas novos.
Jona Edward Salk, ainda escreveu quatro livros:
- Man unfolding (1972)
- Survival of the wisest (1973)
- World population and human values: a new reality (1981)
- Anatomy of reality: merging of intuition and reason (1983)
Salk morreu em 23 de junho de 1995, aos 80 anos, vítima de um infarto do miorcádio. Passou os últimos momentos de sua vida tentando criar uma vacina para a AIDS.
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