Um cigarro numa mão, uma cerveja na outra, uma mulher linda ao seu lado, sentado em um Fórmula 1. Essa é uma descrição simples que, em poucas palavras, resume com incrível precisão quem foi James Hunt. Um homem, que sem dúvida alguma, você deveria conhecer.

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Volta de apresentação

James Simon Wallis Hunt nasceu em 29 de Agosto de 1947 em Surrey, Inglaterra. Desde pequeno ele já dava pistas da personalidade forte que marcou sua carreira e sua vida. Ele fora um garoto rebelde que não gostava de autoridades e tinha rompantes violentos de tempos em tempos.

Os pais dizem que Hunt começou a fumar aos 10 anos de idade, e nada do que eles fizeram o convenceu a parar com o hábito.

Hunt aprendeu a dirigir pouco tempo depois, em uma fazenda no País de Gales, onde a família passava as férias. Tudo bem que era um trator, e ele nem conseguia trocar a marcha — o que o deixou muito frustrado por não ter força suficiente para isso –, mas já foi o início de algo dentro do jovem Hunt. Foi então, aos 17 anos de idade, que enfim ele tirou a licença de motorista.

Ele disse, na época, que sua vida “havia finalmente começado”.

Primeira Volta

Pouco antes do seu aniversário de 18 anos, James Hunt foi levado por dois amigos a uma corrida no circuito de Silverstone. Começava ali sua obsessão pela velocidade.

Ele começou a carreira nas corridas com os clássicos Mini’s. Depois, em 1968, ele foi para a Fórmula Ford e, no ano seguinte, na Fórmula 3, momento em que começou a mostrar quem ele de fato seria.

Ganhou várias corridas e se envolveu em tantas outras polêmicas. Uma delas foi o acidente com Dave Morgan, em Outubro de 1970. Os dois já vinham chocando rodas, brigando pela segunda posição, quando Dave tentou ultrapassar Hunt na última volta. Os dois acabaram se chocando e Hunt foi parar no meio pista. Ele então saiu do carro e foi atrás do seu rival feito louco e o jogou no chão, por pouco não acabando em pancadaria.

Hunt não foi punido, já que ficou provado que a culpa era, de fato, de Morgan, que foi suspenso por 12 meses.

Até então, seu comportamento explosivo e personalidade forte eram conhecidos e notórios. Porém, nada se compara a sua era na Fórmula 1.

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Foi ali que Hunt se sentiu em casa de verdade. Com a fama, o dinheiro, as drogas e, claro, muitas mulheres. Só pelo fato de ser assim, tão diferente da maioria dos pilotos (sempre sérios, recatados, focados), James Hunt já chamaria a atenção. Mas ele também era ótimo piloto e alto e loiro e charmoso.

Imagine o prato cheio para a mídia.

Seu início na Fórmula 1 foi na equipe Hesketh. Ele e a equipe haviam “subido” de classe e não eram vistos com bons olhos pelo resto do “circo”. Pela equipe, Hunt correu de 73 a 75 e, considerando o tamanho e os problemas da pequena escuderia, ele se saiu muito bem e, em 76 – o lendário ano de 76 –, passou a correr pela McLaren.

Volta mais rápida

A temporada de 76 da Fórmula 1 é considerada até hoje uma das mais incríveis, emocionantes e românticas do esporte. Foi o ano da primeira grande rivalidade entre dois pilotos dentro e fora da pista. James Hunt e Nikki Lauda foram grandes rivais, num grande ano em que Lauda sofreu um acidente terrível e Hunt se tornou o grande campeão.

A temporada começou no Brasil, onde Hunt conseguiu uma pole position três minutos antes de acabar o tempo. A primeira vitória veio apenas no quarto GP, o da Espanha. Ele, porém, foi desqualificado da corrida por estar com o carro 1.8cm mais largo, decisão que depois foi revogada.

Isso dá uma ideia da confusão que foi o campeonato de 76. No GP de Silverstone, na Inglaterra, um acidente na primeira curva (logo na primeira volta) entre James Hunt e o então campeão mundial Nikki Lauda ocorreu.

Hunt saiu feito louco atrás de um carro reserva, porém, não lhe foi permitido que corresse. Eis que o carro principal — o que ele dirigia no acidente — fora consertado. Ele então entrou no carro e, claro, conquistou a vitória. Porém, a Ferrari de Lauda entrou com um pedido na FIA para que a vitória fosse retirada, uma vez que Hunt não teria mais permissão de voltar à corrida. A Ferrari conseguiu o que queria.

Na metade da temporada, Lauda tinha 52 pontos e Hunt 26. Isso praticamente deixava claro quem seria o campeão. Porém, no GP da Alemanha, Nikki Lauda sofrera um acidente seríssimo — quase fatal — que deixaria metade do seu rosto queimado. Ele ficou mais de um minuto no carro em chamas antes de ser resgatado.

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Aparentemente, após saber que estava tudo bem com Lauda — mas o rosto estaria desfigurado –, Hunt disse:

“Eu não me preocuparia com o rosto dele. Ele já era feio antes”.

Após o acidente com Lauda, Hunt começou a fazer um grande campeonato. Vencendo corrida após corrida. O que ninguém esperava era que Lauda, ao ver a reação do seu rival, fez de um tudo para voltar às pistas. O retorno heroico do piloto austríaco foi louvável e, não fosse as condições da última corrida, Nikki Lauda seria até hoje o campeão mais aclamado da Fórmula 1.

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Mas a última corrida no GP do Japão teve um dos roteiros mais loucos que se poderia ver.

Primeiro pelo fato de que, nas duas semanas que antecederam o grande prêmio, James Hunt passou o tempo todo se concentrando em transar com 33 aeromoças. Trinta e três. Em duas semanas.

Conta-se ainda que, antes da corrida, ele recorreu a, digamos, uma recreação oral com uma japonesinha ali mesmo nos boxes. Dizem, aliás, que isso era praticamente um ritual antes de todas as corridas.

Debaixo de uma chuva torrencial, vários pilotos decidiram abandonar o último grande prêmio do ano. Inclusive Nikki Lauda. James Hunt obviamente nem pensou em desistir. Ele estava apenas 3 pontos atrás do austríaco e precisava pelo menos do terceiro lugar para vencer o campeonato.

Do jeito que era, ele preferia morrer na pista a desistir da corrida. A chuva era tanta que Hunt saiu do carro após o término pensando que havia terminado em quinto. Ao descobrir que subiria ao pódio, o belo sorriso estampou seu rosto assim que entendeu que se tornara campeão mundial.

A Fórmula 1 até hoje tem rivalidades e roteiros incríveis. Tivemos Nelson Piquet vs Nigel Mansel, Senna vs Prost, Schumacher vs Hill vs Vileneuve vs todo mundo, Vettel vs Webber.

Mas temos que nos lembrar tudo isso começou com Hunt vs Lauda e o campeonato mundial de 1976.

Pit Stop

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Hunt pode ter ficado conhecido por ser mulherengo, por usar drogas, beber e pilotar. Mas ele foi um dos poucos na história que se arriscou tanto por outro piloto. Em 78, no acidente fatal que culminou na morte de Ronnie Peterson, Hunt parou o carro e correu para tirar Peterson do carro em chamas.

O esforço, porém, foi em vão.

A morte de Peterson — que tinha apenas 34 anos na época — foi uma das mais chocantes da F1, e apenas dois anos após o grave acidente de Nikki Lauda. A década de 70 não era tão mortal e perigosa como a de 60, mas a Fórmula 1 ainda fazia suas vítimas.

Sempre fez.

Neste mesmo campeonato de 78, no grande prêmio do Rio de Janeiro, Hunt se envolveu com uma mineira de Belo Horizonte de apenas 15 anos. A garota, que não quis ser identificada, conta que ela e uma amiga invadiram o hotel onde o piloto estava, se fingindo de repórteres. Elas chegaram até o quarto e fizeram uma “entrevista” com Hunt. Elas voltaram no outro dia, mas a amiga que fora uma fotógrafa no dia anterior havia sido levada por um amigo do inglês para o bar do hotel.

Ela, no entanto, ficou algumas horas lá, se é que você me entende.

“Qual é o sentido em ganhar troféus se você não pode se divertir?”
– James Hunt

Última volta

Em 1979, depois de uma temporada ruim, Hunt deixou a McLaren e, mais tarde naquele, ano comunicou sua saída da principal categoria do automobilismo. Tentou voltar nos anos seguintes, mas sem sucesso. Ele chegou a ser contratado como tutor e conselheiro de pilotos, e apesar de parecer muito estranha a escolha, ele aconselhou Mikka Häkkinen, um dos grandes da história da F1.

James tentou também ser empresário, mas longe de ter o mesmo sucesso das pistas. Logo declarou falência e tentou a vida como comentarista da BBC. Foi em uma dessas que ele disse:

“A não ser que aconteça alguma intervenção de Deus, estamos vendo o novo campeão mundial”.

Ele estava falando sobre Ayrton Senna que, assim como ele, venceria uma corrida épica no Japão para ganhar o título.

Ayrton Senna e James Hunt
Ayrton Senna e James Hunt

James Hunt morreu em 1993, na sua casa em Wimbledon, aos 45 anos de idade, logo após pedir Helen Dyson em casamento. De forma prematura, um dos pilotos mais controversos e únicos da história deixou de existir.

O que fica de exemplo é a forma como ele encarava a vida. James Hunt, acima de tudo, queria se divertir fazendo aquilo que mais gostava. Era arrojado e corajoso. A corrida do Japão e a tentativa de socorrer o piloto Ronnie Peterson provam isso. Além de não ter medo de falar verdades.

É um homem para nunca se esquecer.

Pódio

O grande legado de Hunt talvez seja a sua verdadeira marca que inspirou tantos outros na Fórmula 1. Arrojo, coragem, bolas de aço e presença podem ser a descrição de vários pilotos que vieram depois.

E James Hunt tem muito a ver com isso.

Pedro Turambar

Pedro tinha 25 anos e já foi publicitário. Ganha a vida fazendo layouts, sonha em poder continuar escrevendo e, quem sabe, ganhar algum dinheiro com isso. Fundou o blog <a>O Crepúsculo</a> e tem que aguentar as piadinhas até hoje. No Twitter