O Inhotim, em Minas Gerais, é um local impossível de definir. É um parque ecológico. É um jardim botânico. É um museu de arte. Tem alguns dos jardins paisagísticos mais lindos do mundo. Tem instalações de arte a céu aberto de tirar o fôlego. E, não, não dá pra visitar em um dia só.
Dava para escrever livros (já foram escritos alguns) sobre o Inhotim. Tentar resumir tudo em apenas um post foi dificílimo e temerário.
Abaixo, notas curtas sobre algumas obras que mais me fascinaram.
Todas as fotos são minhas, fotógrafo amador, a não ser quando especificado. As fotos boas são da Claudia Regina, fotógrafa profissional.
The Mahogany Pavillion (Mobile Architecture No.1), de Simon Starling
Uma obra pós-colonial. A revanche do terceiro mundo. Um barco, feito na Escócia, com mogno brasileiro, madeira nobre e rara, é trazido de volta ao Brasil e replantado na mata tropical. Uma pós-árvore.
Forty Part Motet, de Janet Cardiff
Um moteto, composição polifônica medieval, composto em 1575 para oito coros de cinco vozes, executado em 40 canais e dezenas de altofalantes à volta do público. É como estar imerso nas vozes. Indescritível.
Desert Park, de Dominique Gonzalez-Foerster
De repente, no meio da floresta tropical, longe dos caminhos por onde passam as pessoas e os carrinhos, lá atrás, em um campo de areira branca, quatro pontos de ônibus em concreto. Pra onde vão? O que representam? Por onde passam esses ônibus? Quanto é a passagem?
Viewing Machine, de Olafur Eliasson
Um caleidoscópio.
Piscina, de Jorge Macchi
No Inhotim, dá pra nadar nas obras de arte.
A obra Piscina, de Jorge Macchi, é a transposição para a realidade de uma das aquarelas do artista. Uma caderneta de endereço, em ordem alfabética, transformada em piscina. Uma piscina onde se pode mergulhar depois de um dia inteiro imerso em arte.
Acima, a fotógrafa Claudia Regina dá uma limpada prévia na obra. Abaixo, duas fotos tiradas por ela.
Troca-troca, de Jarbas Lopes
Não, não são três fuscas pintados. São três fuscas, um vermelho, um amarelo e um azul, cujas carrocerias foram trocadas — daí o nome da obra. E que ainda se deslocam por aí, sempre tocando música em caixas de som interligadas. Primeiro, foram do Rio à Curitiba, onde participaram da inauguração do Museu de Arte Contemporânea, ficaram lá um tempinho, e depois vieram ao Inhotim. De vez em quando, ainda podem ser vistos andando pelos arredores.
Galeria Adriana Varejão, por Rodrigo Cerviño Lopez
Sem nem entrar no mérito da obra da Adriana Varejão, lá dentro, o galpão que as abriga, projetado por Rodrigo Cerviño Lopez, é um dos mais impressionantes do Inhotim. Em 2008, foi premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil.
Beam Drop Inhotim, de Chris Burden
De todas as coisas impressionantes que vi, ouvi, senti no Inhotim, a que mais me marcou visualmente foi a obra “Beam Drop” (2008; em tradução livre, “vigas jogadas”), de Chris Burden.
Durante doze horas, o artista utilizou um guindaste de 45 metros de altura para jogar 71 vigas em uma poça de concreto. (A execução da obra foi registrada em vídeo.)
Agora, as vigas estão lá, cravadas no topo de um morro no meio do brasil, refugos da construção civil, cercadas por mato e montanhas.
O resultado desta operação de alto impacto é uma escultura de grandes dimensões que ocupa o alto de uma montanha em Inhotim, que se relaciona de maneira marcante com seu entorno, criando uma visão épica em meio à paisagem. O padrão aleatório da escultura é formado pela queda das vigas, combinando o controle do artista, que mirava o guindaste na poça de concreto fresco, à violência e o acaso provocados pelo peso do material. (fonte)
Acima, a fotógrafa Claudia Regina, trabalhando. Abaixo, o resultado.
O texto poderia continuar indefinidamente
Não falei do Sonic Pavillion, de Doug Aitken, onde microfones instalados em um buraco de duzentos metros de profundidade transmitem em tempo real todos os sons das profundezas da terra.
Não falei do De Lama Lâmina, de Matthew Barney, uma obra visualmente impressionante sobre o eterno conflito natureza versus civilização reencenado pelos orixás Ogum e Ossanha.
Não falei do The Murder of Crows, de Janet Cardiff & George Bures Miller, onde uma história onírica é contada por meio de 98 altofalantes transmitindo vozes, músicas e efeitos sonoros, explorando as “qualidades físicas e escultóricas do som.”
Não falei das Cosmococas, do Hélio Oiticica e Neville d’Almeida, local de imersão multissensorial nas artes, de ficar na piscina gelada ouvindo John Cage ou de balançar na rede vendo projeções de capas de discos de Jimi Hendrix. Experiência indescritível.
Ou seja, não falei de quase nada. Vocês precisam mesmo dar uma passada lá. Vão ver que não falei de mais coisa ainda.
Serviço
O Inhotim está localizado na cidade do Brumadinho, em Minas Gerais, a cerca de sessenta quilômetros ao sul de Belo Horizonte. (A estrada é boa.)
O parque fica aberto de terça à domingo, das 9:30 às 17:30 nos fins-de-semana e das 9:30 às 16:30 nos dias úteis. (Recomendo chegar muito cedo e ficar até o último minuto.)
Para visitar, você pode ou se hospedar em algumas das pousadas próximas, ou pegar o ônibus da Saritur que sai da rodoviária de BH pela manhã e volta à noite (R$17).
A entrada custa apenas $20, com direito a meia-entrada para estudantes e idosos, um valor bem barato para a enormidade do parque. A entrada é de graça às terças-feiras. Dá pra comprar um passaporte para quem pretende voltar ao longo de vários dias – recomendo.
Lá dentro, existem diversas opções de comida, todas caras. Não se pode trazer comida de fora – eu levei castanhas e frutas secas, mas não espalha.
Para os fumantes, dá pra passar o dia inteiro andando ao ar livre, fumando, olhando o verde. Nunca vi tanta arte incrível ao mesmo tempo em que fumava o meu cachimbo. Delicioso.
Visitem o Inhotim.
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