Sou carioca, faço pós-graduação na UFF e trabalho como garoto de programa.
Corpo sarado não é necessário
Não tenho o estilo rato de academia ou tigrão pegador. Pelo contrário, sempre fui tímido. Não sou muito bonito, mas também não sou feio. Tenho meus apetrechos: as clientes elogiam minhas pernas, cílios, boca, nariz e orelha. E mãos, claro. Sei seduzir quando é preciso.
Para ser GP, não é requisito básico ser bonito e marombado, pois o gosto da clientela varia muito. Umas preferem corpos sarados, outras preferem o papo, e há aquelas que visam uma boa pegada. Mulher tem feeling para essas coisas.
E foi assim que entrei nessa vida, pelo feeling de uma mulher.
A iniciação de um garoto
Estava numa balada estilo clube das mulheres: bebida liberada para as damas e dança de gogo boys até certo horário, e depois vinham os caras de verdade.
Logo que entrei, uma mulher de cerca de 50 anos começou a me paquerar. Vamos chamá-la de Isadora. Correspondi no começo, mas me desinteressei. Ela não fazia o meu tipo, não era muito bonita. Ao seguir da noite, ela foi se aproximando. Quando me separei dos amigos para ir ao banheiro, ela me abordou. Dançamos, e ela me propôs ir para o apartamento dela. Não aceitei. Ela me ofereceu duzentos reais.
Fiquei assustado, mas o clima acabou me seduzindo, me excitando. Topei.
Saímos da balada e fomos para seu apartamento em Copacabana. Fizemos amor muito gostoso. Depois, eu a aconcheguei em meu ombro e ela começou a me contar sobre sua vida, angústias, desilusões, planos futuros. Isadora estava em processo de divórcio, havia sido traída. E eu, que sempre fui bom ouvinte, senti que naquele momento aquilo me ajudou muito.
No dia seguinte, acordamos, tomamos café da manhã e, logo depois, me vesti e disse que precisava ir. Ela me pagou e me pediu meu celular.
Foi tudo muito de repente. Num instante, estávamos numa balada no centro; pouco depois estávamos na cama dela.
De certa forma, criamos um vínculo. Ela me ligava esporadicamente e sempre me pagava. No começo, neguei, disse que pensava nela como amiga, mas Isadora insistiu. E dinheiro não se nega demais.
Com o tempo, foi me indicando para amigas, a maioria casada e na mesma faixa etária, entre 45 e 55 anos.
Quando dei por mim, já era um GP, com uma clientela fixa na zona sul do Rio.
Para onde envio meu currículo?
A maioria dos GPs que conheci, quase todos apresentados por Isadora, eram caras sarados. Somente eu e uns poucos eram medianos.
Não há uma regra clara para o cara que queira ser um GP.
Em primeiro lugar, é preciso gostar muito de mulher. Várias vezes você terá que satisfazer uma mulher que não lhe dá tesão e, não adianta, o negócio vai ter que subir.
Aí é que está o grande problema da maioria dos GPs. É difícil às vezes sentir tesão por uma mulher que tem o corpo da sua mãe. Por isso, muitos recorrem a remédios, às vezes em excesso, o que pode causar impotência ou riscos ainda mais sérios à saúde. Sem falar que muitos já tomam suplementos para manter o porte sarado, uma combinação que pode ser letal.
Outro problema: você terá de ser discreto e aprender a controlar os sentimentos. É muito difícil conciliar o trabalho com um relacionamento, principalmente se o cara for muito requisitado. As clientes em geral não têm uma flexibilidade grande e você tem que ir ao dia e horário em que é requisitado. Se mostrar indisponibilidade muitas vezes, é apagado da agenda.
Além disso, claro, a sociedade em si não vê esta profissão com bons olhos, então você não poderá sair por aí anunciando que é um GP.
Os ganhos podem ser altos e sedutores, mas já vi muitos caras chorarem, se desesperarem, afogarem as mágoas em porres homéricos. A maioria entra, curte e sai logo. É interessante como experiência, mas para seguir nessa vida é preciso ter culhões.
Um corno atrapalha muita gente
Em quatro anos de carreira, não encarei muitos perrengues.
Um dos mais comuns são clientes apaixonadas, ciumentas, possessivas. Já ouvi histórias de GPs que tiveram suas vidas infernizadas, perderam namoradas, um inferno. Mas não foi meu caso.
Para mim, o maior inimigo do GP é o corno.
Eu ia fazer um programa com uma cliente, e marcamos um jantar antes. Lógico, num lugar afastado de sua casa, pois era casada e não queria ser vista. Tudo estava ótimo, o jantar maravilhoso, o lugar discreto, as carícias rolando por debaixo da mesa, até que em certo momento ela gelou e disse “vamos embora”. Fiquei surpreso, mas obedeci.
Um dos clientes que acabara de chegar nos seguiu e chamou seu nome. Ela não olhou para trás, pegou o carro e acelerou. O desgraçado era amigo do marido.
Vinte minutos depois, no carro, o celular dela começou a tocar. Era o marido, ligando de São Paulo. Ela ficou desesperada: não atendeu, me deixou num ponto de ônibus e foi embora.
Dois dias depois, recebo uma ligação no celular, curta e grossa:
“Filho da puta, eu vou te matar!”
Felizmente, não passou disso. Nunca mais soube dele, nem dela. Mas até hoje tenho medo e evito os lugares que frequentamos juntos. Tive que trocar meu número de celular, o que me fez perder clientes.
Foi a pior situação que passei.
Quem contrata garotos de programa
A clientela dos GPs é bem diversa, mas posso destacar três grupos principais:
Casada carente ou viúva solitária
Essa é a clientela mais comum, na faixa etária de 30 a 60 anos. Algumas buscando sexo, outras conversa e carinho, dependendo do que está faltando no casamento. Mais propensas a se tornarem clientes fixas, comportam-se com muita discrição e, por isso, acabam optando por GPs mais velhos.
Chifruda
São as mulheres que foram corneadas e, agora, querem se vingar do marido e pagá-los na mesma moeda. A faixa etária é diversa. Este o grupo é o mais perigoso, pois para uma traição servir como vingança é preciso que ela seja descoberta. Resultado: muitas vezes, o telefone do garoto de programa pode acabar caindo no colo do marido.
Curiosa
São aquelas que leram em algum lugar ou têm uma amiga que experimentou e agora querem saber como é. Às vezes, incluem mulheres bem gostosas, mais atraídas por GPs sarados. Raramente se tornam clientes fixas, e acontece de se arrependem do programa. Esse grupo também inclui as mais taradas na cama. Com o GP, querem fazer tudo aquilo que o pudor ou a moral as impede de fazer com o marido, por medo de serem taxadas de putas.
Oi, sou homem, quero te contratar
Não são só as mulheres que buscam serviços de GPs.
Alguns homens querem ser comidos por outro homem. Por outro homem mesmo, nada de passivo ou ativo. Conheço poucos GPs que atendem esse tipo de cliente. Eu mesmo não atendo.
Outros caras têm fetiche em ver sua mulher ser comida por outro cara. Já fiz um programa assim, e não me agradou muito. No meio de tudo, o cara quis participar, me tocar, e não me senti bem. Ser assistido por outro cara também me deixou um pouco incomodado. Não recomendo, mas vai de cada um.
Alguém se habilita?
Atualmente, estou mais concentrado em terminar minha pós do que em meu “emprego alternativo” – embora este emprego muitas vezes sirva de válvula de escape para os estresses do dia a dia.
Além do mais, quem não gosta de se sentir desejado, de ter mulheres ligando para foder com ele (no bom sentido) e ainda por cima pagarem por isso? Para não falar nos jantares em lugares caros, passeios, etc.
Cultivei muitas amizades. Algumas clientes viraram amigas e, hoje em dia, estão até mais felizes em seus casamentos. Ser comidas direito acabou fazendo com que recuperassem sua auto-estima, se cuidassem mais, se amassem mais. E, naturalmente, isso fez com que seus maridos cornos passassem a olhá-las de outra maneira. Talvez devessem me agradecer por ter salvo seus casamentos e por meus bons serviços à comunidade.
Dentro em breve, pretendo pendurar as chuteiras, me relacionar com alguém, voltar a viver um pouco uma relação normal.
Então, meus caros, teremos uma vaga no mundo dos GPs, e a demanda é grande.
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