O árbitro levantou o braço de Ali e o campeão mantinha o cinturão. Do outro lado do ringue estava Floyd Patterson, campeão olímpico, duas vezes campeão mundial, um cavalheiro. A derrota para Ali encerrou a história nos ringues de um dos melhores pesos pesados do boxe de todos os tempos.

O jovem Floyd, sempre cavalheiro

Patterson foi um campeão que oscilou entre vitórias contundentes e derrotas memoráveis, passando longe do ordinário. Negro, nascido em uma família de 11 irmãos, Floyd cresceu na pobreza. Garoto problemático, arrumava confusão na escola e cometia furtos. Os pequenos delitos fizeram Patterson ser internado na Wiltwyck School for Boys, onde passou dois anos e foi apresentado ao boxe.

Das ruas para o pódio olímpico

Patterson venceu as três lutas que disputou na escola até que voltou para casa. Tímido e reservado, encontrou no esporte uma forma de subir na vida. Floyd voltou à Nova Iorque e passou a treinar com Cuz D’Amato, que mais tarde treinou Mike Tyson, e passou a aperfeiçoar o boxe que aprendeu em Wiltwyck. Sua primeira luta sob a tutela de D‘Amato, e a primeira derrota, foi sparring contra seu irmão, Frank. Floyd foi massacrado, mas não desistiu da luta, característica que marcaria a trajetória do pugilista.

Poucos meses depois, Floyd estreou no boxe amador com vitória e já desejava, aos 16 anos, tornar-se profissional, D’Amato não permitiu, tinha planos para Patterson.

Após 2 anos competindo amadoramente, Patterson largou a escola para se juntar a equipe olímpica dos Estados Unidos que participou das Olimpiadas de Helsinque em 1952. O boxe americano conquistou  5 ouros  naqueles Jogos Olímpicos, entre eles o de Floyd, campeão dos pesos médios com apenas 17 anos. Quando retornou de Helsinque, Floyd conquistou o Campeonato Nacional Amador e o torneio Luva de Ouro de Nova Iorque. Patterson se profissionalizou em 1952, aos 17 anos e venceu suas 13 primeiras lutas.

O caminho para o cinturão

Sua primeira grande luta profissional foi uma derrota por decisão dos árbitros para ex-campeão dos meio-pesados, Joey Maxim, em 1954. A derrota devastou o jovem Floyd, que reconheceu a vitória da experiência do ex-campeão, Floyd declarou, tempos depois, que Maxim venceu porque lutou de forma mais inteligente.

Cuz D’Amato depositava todos seus anseios no iniciante pugilista

Cuz D’Amato, entretanto, ainda tinha planos maiores para Floyd. Quando Rocky Marciano se aposentou, invicto, e abandonou o cinturão dos peso pesados, Floyd surgiu como um dos postulantes ao cinturão vago.

Em 30 de novembro de 1956, Floyd Patterson subiu no ringue para nocautear o então campeão dos pesos meio-pesados Archie Moore, se tornando o mais jovem campeão mundial peso pesado de boxe, com 21 anos e 10 meses, só foi superado Mike Tyson , e o primeiro campeão olímpico a ostentar um cinturão de campeão mundial profissional de boxe. Patterson defendeu o cinturão 4 vezes.

As sete quedas

As três lutas entre Floyd Patterson e Ingemar Johansson estão entre as mais significativas do boxe. Em 1959, quando se enfrentaram pela primeira vez, Floyd era uma grande estrela dos pesos pesados com 31 vitórias e apenas uma derrota e Johansson, um azarão que pagava 5 para 1, vinha invicto, com 21 vitórias na carreira. Os dois primeiros rounds da luta forma mornos, com os lutadores marcando distância e estudando o adversário. O terceiro round é histórico, Johansson derrubou o campeão 7 vezes até o árbitro declarar nocaute técnico.

Alguns dias depois da luta, ao ser questionado sobre ser o campeão mundial peso que mais vezes sofreu knock downs, Patterson respondeu: “eles dizem que eu fui o lutador que mais foi derrubado, mas eu também fui o que mais se levantou”.

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A revanche

Um ano depois, Johansson e Patterson se enfrentaram novamente, no Egito, pelo título mundial. Durante esse ano, Patterson sofreu com insônia e depressão, empenhou todas as suas energias em conseguir uma revanche com Johansson. No combate, Floyd derrubou o adversário no quinto assalto, Johansson precisou de cinco minutos para se levantar. A conquista do título transformou Patterson no primeiro lutador a ganhar duas vezes o título de campeão mundial de boxe.

Floyd Patterson cai diante de Johansson na primeira luta,. As outras duas não seriam fáceis assim não

A motivação para a revanche, entretanto, não foi algo que Patterson se orgulhou, ódio. Em entrevista, a revista Sports Illustrated, Patterson disse: “eu estava cheio de ódio, e eu não gostaria de sentir isso novamente”.

Johansson e Patterson se enfrentaram mais uma vez, em 1961, com nova vitória de Patterson, por nocaute no sexto round. Essas derrotas foram as únicas da carreira de Johansson.

Patterson era um lutador mirrado na categoria peso pesado, com 1,83 de altura e por volta de 84 quilos, Floyd era pequeno perto da nova geração de pesos pesados.  Patterson perdeu novamente o título mundial, com uma derrota por nocaute para Sonny Liston. Liston, 10 quilos mais pesado, foi o primeiro lutador nocautear o campeão dos pesos pesados no primeiro assalto. Patterson pediu a revanche e novamente foi derrotado.

Boxe é como estar apaixonado por uma mulher. Ela pode ser infiel, ela pode ser má, ela pode ser crual, mas isso não importa. Se você a  ama, você a quer, mesmo que ela posse te trazer todas as formas de sofrimento. É a mesma com o boxe. Ele pode me trazer todo tipo de sofrimento, mas eu o amo.

Disputas de cinturão

Após as duas derrotas para Liston, muitos decretaram o fim da carreira de Patterson. Ser criticado e ter a competência posta a prova, e mostrar que estão todos errados parecia ser uma constante na vida do lutador.  Floyd venceu mais cinco lutas pelo direito de desafiar o jovem Muhammad Ali em 65. Ali venceu por nocaute técnico no 12º assalto de 15 previstos.

Floyd foi derrotado em outras duas disputas de cinturão, para Jimmy Ellis, em 68, e novamente para Ali, última luta da carreira de Floyd Patterson, em 1972.

A carreira do pugilista foi marcada por vitórias e derrotas impressionates. O boxeador se aposentou com um cartel de 55 vitórias, sendo 40 por nocaute, 8 derrotas – seis deles em disputas de títulos mundiais e uma luta terminou empatada.

Floyd vs Ali: pela cara do Muhammad, não foi lá das lutas mais simples

“É fácil fazer qualquer coisa na vitória, é na derrota que o homem se revela”.

Campeão, estrela e negro

Uma das mais violentas lutas que Floyd Patterson travou fora do ringue.

O lutador acreditava estar no controle do seu destino no mundo do boxe. Entretanto, os Estados Unidos ainda vivia sobre forte influência do racismo e Patterson se deparou com várias dessas situações enquanto competia no circuito. Floyd, como outros negros, eram impedidos de comer nos restaurantes de Baltimore e Kansas City.

De saco cheio do racismo que o cercava, Patterson jurou que nunca mais lutaria para uma platéia segregada. Floyd insistia que os promotores impedissem a segregação de lugares nas suas lutas e não o colocassem em trens com lugares separados para negros e brancos. Patterson se tornou inimigo da separação por raças e lutou por seus direitos dentro e fora dos ringues.

Diego Dubard

Jornalista nascido em Recife, vive em Brasília desde 2007 e quer se mudar em 2012, antes que o mundo acabe. Escreve porque precisa ganhar a vida e joga rugby por paixão. Twitter: <a>@ddubard</a>."