Nunca liguei pra velhice. Talvez porque, com 20 e poucos anos ainda, me vejo tão distante dessa fase derradeira da vida. Nunca tive encrencas com a morte (achando, como qualquer outro ser humano, que morrerei velho), sempre deixando-a como uma velha amiga que vejo de quando em quando, mas somente em situações distantes, não havendo motivo para confrontá-la e sem obrigação de ter que ligar na semana seguinte para tomar um café.
Há uns bons dois anos um grande amigo me emprestou um livro. O título era Homem Comum, do escritor velho e americano Philip Roth. Era pra ser um romance breve, de nem 200 páginas. Daqueles livros que eu leio analisando a escrita, pra ver o que pode me deixar absorver para a minha própria escrita. “Lê isso aqui”, disso o grande amigo, “essa porra vai te deixar deliciado”.
Deliciado o caralho!
O Homem Comum é um desabafo tardio de um publicitário e artista plástico frustrado sobre a vida besta. Com uma escrita foderosa, o judeu Philip Roth me mostrou que a velhice, aquela distante conhecida que insisti em ignorar, pode ser muito mais triste do que imaginava a minha ingênua juventude. Solidão, arrependimento, complicações da idade, constatação da merda que a vida pode ser, do atraso da tal morte em resolver de modo pacífico uma tal angústia que teima em pesar sobre os ombros cansados.
Fiquei com um baita medo de ficar velho. De lidar sozinho com uma caralhada de coisas que, hoje, não conseguiria carregar nem acompanhado. Ficar velho é ficar só. Não tem dessa de ter amigos, de ter família, de ter companheira(o). Você envelhece sozinho e morre sozinho.
Cacete, a morte!
Meu avô paterno morreu com pra lá de 70 anos. A mamãe estava lá ao lado dele no momento. Um suspiro, olhos vagos e estúpidos e voilà, não há mais vida. Só saudades de um velhote bom de papo e bom de sorriso. Teimo em pensar que meu avô morreu só. Aquele último suspiro, aquele pedido de ajuda no olhar opaco, aquele é o milésimo de segundo em que se está só. Morreremos todos sozinhos. Meu amigo, aquele grande amigo que me emprestou o livro Homem Comum, ele tem uma tatuagem que diz memento mori, ou, em bom português, “lembre-se de que irá morrer”. Não vou esquecer-me disso não, amigo.
A vida corre. É uma bandida que bate, que assopra, mas que no final te abandona. Pega tudo o que você tem e parte. Bandida…
E daí que, depois de me conformar que, na melhor das hipóteses, ficarei velho e morrerei sozinho (assim como você, na melhor das tuas hipóteses), encontrei um tumblr interessante. Falar de tumblr já me dá uma sensação de jovialidade, me distancia desse destino insólito.
Não, não acho que todos ficam velhos, tristes e sozinhos. São recortes da vida que mostram que há essas possibilidades. Não serei tão pragmático. Voltando.
O nome do tumblr é Fucked Up Youth (algo como “juventude fodida”) e exibe fotos de jovens em momentos… de jovens. Daqueles jovens que não pensam em velhice ou morte, mas apenas em como fazer pra trepar no fim da noite. Jovens que usam drogas, que se vestem como jovens que pouco de importam com o que pensam de suas vestimentas, de jovens que se embebedam para… ué, para ficar bêbados.
E daí me lembrei de todo esse papo daí de cima e entendi que se foda a porra da velhice!
Se é pra viver, se é pra levar tapas e sopros de desculpa dessa bandida que é a vida, então que seja de um bom jeito. Que, ao chegar à tal velhice, com toda a melancolia e falta de tempo pra qualquer redenção, se tenham ótimas histórias do tempo em que se era jovem e nem se pensava em ficar velho.
Aproveitemos a juventude, amigos lenhadores. Um dia ela se vai.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.