Há algumas semanas contamos as conclusões da Experiência de Milgram e mostramos como nós gostamos de atribuir a responsabilidade de nossas decisões a terceiros.

Antes disso, já tínhamos explicado as consequências da Síndrome de Solomon e mostrado como a opinião dos outros pode influenciar nossas escolhas.

Na "teleaula de hoje", chegou a vez de fazer mais um avanço no campo da Psicologia Social, explicando o conceito já bastante difundido de Efeito Manada e mostrando alguns exemplos práticos.

"Aonde a vaca vai, o boi vai atrás"

É difícil afirmar com certeza quando foi a primeira vez que o termo Efeito Manada foi usado em contextos acadêmicos. Porém, por dedução é fácil dizer que ele surgiu a partir da observação de animais que andam em grupos.

Bichos como o elefante, por exemplo, tiveram que aprender "na raça" que a força que seu tamanho lhe concebia não era suficiente para compensar sua lentidão na tentativa de fugir de predadores. Assim, o processo evolutivo ensinou que eles aumentavam consideravelmente suas chances de sobreviver se fizessem grupos: o que, neste caso, se chama manada.

Se aplicarmos essa ideia aos seres humanos que viviam em ambientes hostis como a natureza selvagem, pertencer a um grupo de indivíduos da sua mesma espécia segue sendo bastante válido. Mas se considerarmos que hoje em dia vivemos em ambientes "controlados e seguros" como grandes cidades, será que a necessidade de pertencer a um grupo se mantém?

A resposta é definitivamente sim.

"Maria vai com as outras"

O Efeito Manada aplicado à psicologia contemporânea se relaciona bastante com a ideia de Conformidade Social. Se considerarmos que nossa espécie tem algumas centenas de milhares de anos e que nós só passamos a viver em ambientes urbanos há pouco mais de dois séculos, não podemos descartar a hipótese de que talvez nós estejamos perdendo esse "hábito" de pertencer a grupos. Mas até por isso, podemos afirmar com certeza que se estamos caminhando pra isso, ainda estamos bem longe de chegar no objetivo final. Quer ver?

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Neste vídeo, a experiência feita na sala de espera de um consultório médico ratifica como nosso comportamento é influenciado pelos demais indivíduos e como incorporamos hábitos que nem sabemos justificar, passando a reproduzi-los cegamente.

Segundo os psicólogos isso acontece porque, assim como no caso da Síndrome de Solomon, nós não queremos ser apontados como os "diferentões", a menos que "diferentões" seja um grupo que está na moda por mais paradoxal que isso possa parecer.

Voltando a teoria evolutiva, nossa espécie ainda reproduz o instinto de sobrevivência da selva fazendo-nos a optar pela opção mais segura. E a opção mais segura quase sempre nos parece ser a opção da maioria, por dois motivos:

1. Se estivermos certos: parabéns! Você acertou junto com o resto.

2. Se estivermos errados: tudo bem. O grupo inteiro errou junto.

Dessa forma, tanto acertando quanto errando a opção majoritária nos parece mais confortável do que a minoritária. É claro que quanto maior a confiança que você tem na sua escolha, menor a chance de você mudar de ideia "só porque os outros pensam diferente". Acontece que decisões importantes quase sempre envolvem tantos fatores que é difícil ter 100% de certeza. Ciente disso, tem gente usando isso em benefício próprio.

"Me diga com quem andas que eu te direi quem és"

Atualmente, quando falamos em Efeito Manada, o exemplo mais comum é o de pesquisas eleitorais. Em geral, eleitores sem uma opinião fechada sobre em que candidato devem votar deixam-se influenciar pela intenção de voto dos outros. Se colocarmos essa variável isolada, o candidato que está na frente tende a ganhar mais votos apenas porque está na frente e mais pessoas querem fazer parte deste grupo: seja para aumentar a chance de 'fazer a escolha certa', seja para minimizar a responsabilidade de 'fazer a escolha errada'.

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Ainda mais recentemente (nas últimas décadas) o que começou-se a observar também é que, considerando mais variáveis nessa conta, o melhor que pode acontecer para um candidato é estar em viés de alta nas vésperas da eleição.

Dessa forma, o Efeito Manada vai se encarregar de fazer com que mais pessoas mudem de voto só porque muitas pessoas estão mudando de voto numa curva exponencial que explica, parcialmente, a diferença entre os resultados de algumas pesquisas e o resultado final de uma eleição: as forças estão constantemente em movimento e a pesquisa é apenas uma fotografia disso tudo.

Fora da política, porém, quem está acostumado com o mercado financeiro vive isso diariamente. Ações em alta tendem a ficar cada vez mais em alta e ações em baixa cada vez mais em baixa, numa proporção inversamente proporcional à quantidade de informação disponível, e até que um fator externo seja capaz de reverter esse viés, ainda que seja apenas um outro Efeito Manada.

Numa situação ainda mais banal, imagine alguém procurando um bom restaurante. Ao perceber que uma das opções têm fila e outra não, é possível que esta pessoa assuma que aquele que está cheio seja melhor, afinal de contas, muitas pessoas escolhem ir nele, então opta por ir nele também, reforçando essa mesma hipótese para indivíduos que surgirem depois e levarem o mesmo raciocínio em consideração. Até que, involuntariamente, a manada inteira escolheu o restaurante A, ao invés do B, só porque a maioria escolheu o A e não o B inicialmente.

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Antes de encerrarmos, vale a pena lembrar: ser influenciado pelos outros nem sempre é ruim. Basta lembrar que isso é um instinto de sobrevivência, de segurança. Mas como escapar da inúmeras vezes em que somos influenciados a fazer algo negativo?

Como brigar com milhares de anos de evolução é difícil a dica é tentar minimizá-lo e fazemos isso ouvindo novas perspectivas sobre um fato, procurando saber o que pessoas que não estão "seguindo o grupo" enxergam ou pensam para tomar tal atitude. Quanto mais pessoas discordantes você ouvir, maior é sua chance de minimizar os efeitos da manada.

Além disso, para evitar que você tenha que fazer uma ampla pesquisa cada vez que quiser entender seu comportamento a respeito de alguma coisa, vale a pena se cercar de pessoas que tenham o mesmo objetivo e valorizem as mesmas coisas que você. Nem sempre elas estarão certas, mas quanto mais pessoas 'de confiança' você tiver ao seu redor, maior as chances da sua manada estar te levando pro bom caminho.

Agora, sabe qual a conclusão mais importante do conceito de hoje? Perceber que quando você falava pra sua mãe "todo mundo vai" e ela respondia "você não é todo mundo" ou "se todo mundo se jogar de baixo do carro, você também vai?", ela tinha lá sua razão…

Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a <a>Jornalismo Júnior</a>