Eu nasci sem essa parte do cérebro.
Eu olho para uma garota e penso “não, ela não deve querer nada comigo, óbvio que não”. Seja ela quem for. Mas, para o bem da humanidade, há o corretor do Word e outros caras que pensem diferente de mim. Outros caras olham pra uma garota e pensam “opa!”.
Quando eu escuto histórias que começam com “e então eu olhei pra ela e ‘opa'”, eu penso “mas que merda, como é que ele consegue?”.
Enfim. Esse cara, que foi privilegiado com a função encefálica que eu não fui, entrou no metrô na estação do Rossio (em Lisboa, onde vivo), viu uma moça com traços orientais carregando uma mala com a etiqueta escrito LIS e foi conversar com ela, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Depois de uns “where are you from?“, eles trocaram telefones, antes de chegarem à Alameda, cinco estações depois do Rossio.
Era sábado.
No domingo, conversaram pela internet e na segunda foram ao Bairro Alto. Eram ainda sete e pouco da noite de um dia de outono. Não havia nada aberto lá. Caminharam até a esquina do Erasmus e compraram uma ginjinha no copo de chocolate. Continuaram caminhando pelas labirínticas ruas da boemia lisboeta até que ela parou, bebeu um gole da ginjinha e encostou as costas em uma parede, dobrando uma das pernas para apoiar-se talvez (ou para que a cena parecesse mais cinematográfica do que o usual).
E ele, como não era eu, entendeu aquilo como um “vamos lá, cara”. E foi.
Poderia ser só mais uma história de um cara e uma garota que se conheceram e simplesmente ficaram porque se acharam interessantes o suficiente pra isso. Mas, nossa!, como isso é difícil. Talvez para a maioria não, porém, o dar-se que às mulheres cabe é muito mais simples do que o aventurar-se na conquista de nós, homens.
E não saber os inícios, meios e, principalmente, fins dessa aventura, é sufocante.
A moça de traços orientais foi embora no dia seguinte e o nosso protagonista me contou essa história no Zeitnot, entre uma interrupção e outra de um jogador de sinuca holandês, novo na cidade.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.