"Olá pessoal! Vejo questões parecidas com as minhas na Mentoria PdH, mas como cada um vive uma angulação específica de certos problemas, vou trazer minha questão.
Meus pais envelheceram antes de eu poder ajudá-los, tenho 28 anos, sou gay (isso é um problema para mim na relação com eles) e moro distante, em outro estado, onde curso o doutorado com bolsa de estudos.
Desde cedo, segui meus objetivos de vida, que hoje se traduzem na carreira acadêmica (pesquisa e docência). Queria fazer isso antes que eu precisasse não apenas ser independente, mas também ajudar meus pais.
Sou filho caçula, o único dos meus pais juntos. Com outrxs companheirxs, minha mãe teve um filho e meu pai duas filhas. Sou bem mais novo que minhas irmãs. Em 2013, meu irmão faleceu, meu pai avançou na doença de Parkinson, que atualmente o tornou incapaz. Em 2016, minha mãe pediu o divórcio, que ainda está em andamento e é litigioso pelo estado de saúde dele e pelos conflitos que minhas irmãs têm com ela.
Uma de minhas irmãs cuida do meu pai. A outra irmã e eu ajudamos financeiramente. Há pouco mais de um ano, quando vim para o doutorado, vim com dificuldade financeira e, para manter os repasses mensais, tenho feito dívidas até com contas básicas (atraso em aluguel, em repasse da universidade, em conta de luz).
Agora, algumas contas já não são mais prorrogáveis, todas com juros e já tenho falhado nos repasses, o que me traz crises de ansiedade e uma vergonha que me faz até deixar de ligar para meu pai quando não repasso, com medo de cobranças, já que, quando atrasei poucos dias certa vez, minha irmã me ligou chorando e me acusando de tê-los abandonado. Meu pai mesmo não é consciente dessas situações. Só sabe que estou longe, fazendo doutorado, algo que ele incentiva e acha bom.
Financeiramente, fico pensando quantas decisões já tomei. Pedi demissão de três empregos e abri mão de dois concursos públicos em cargos efetivos para ter dedicação integral com bolsas de estudos em todas as etapas de formação até aqui. Ainda assim, sempre trabalhei durante a graduação e nos intervalos entre os cursos. Não me arrependo de ter feito assim, mas reflito que eu poderia já ter alcançado a estabilidade financeira que me falta agora que meus pais precisam, sob o custo de não fazer bem o que eu queria profissionalmente. Enfim, tomei mais decisões de risco e por intuição do que calculando onde ganharia melhor.
Nem só de finanças se faz meu conflito. Com meu primeiro namorado, em 2015, contei para minha mãe que sou gay. Até hoje ela não digeriu nem superou isso e bloqueou que eu falasse disso com outras pessoas da família, inclusive meu pai. Hoje, ele não tem mais como saber. E se eu falar, pode ou piorar seu estado emocional ou ele pode nem lembrar no dia seguinte. Fora disso, me sinto bem com minha sexualidade e gostaria de falar abertamente e normalmente sobre isso com as tias, os primos, a mãe… Mas ela exige que não, evita ao máximo falar a respeito e eu não consigo superar isso (nem deixando pra lá, nem burlando a exigência dela).
Pode parecer que não há relação entre meus pais precisarem de minha ajuda financeira enquanto eu ainda não consigo suprir e o fato de eu ser gay e não ter a aceitação deles. Mas, o que sinto é que esse é um fator central, que não me permite, se não agir financeiramente em prol deles, ser mais próximo e permitir minha presença, que deve ser ainda mais importante. Não consigo estar presente sentindo que não sou bem eu mesmo que estou ali ao lado deles, em especial agora que estão separados. Sinto que esse foi um fator que me fez ir sempre para mais longe da família, o fato da não aceitação e de eu não saber lidar com isso.
Se eu pudesse sugerir um título para meu texto, eu imaginaria uma angulação desses dois conflitos: meus pais envelheceram antes de eu poder ajudá-los e de conversarmos sobre minha sexualidade.
Como ajudar meus pais? Como lidar com a necessidade de ajudá-los financeiramente, se eu ainda preciso de ajuda e não tenho mais aberturas e proximidade na família para tratar das minhas questões de pertencimento?
Bom, escrevi muito, mas também cortei muita coisa que falaria para não tornar tão mais enfadonho. Escrever assim já foi um bom exercício para refletir, independente de ser ou não publicado.
Gratidão,
João."
Complemento sobre o assunto:
Artigo do Frederico Mattos: Sustento minha família, mas quero viver minha vida | ID #75
Como responder e ajudar no Mentoria PdH (leia para evitar ter seu comentário apagado):
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Queremos tratar também de dificuldades práticas enfrentadas por nós no dia-a-dia.
Então, quem tiver questões nessa linha, envie pra nós. Assim vamos construindo um mosaico mais amplo de assuntos com a Mentoria.
Essa Mentoria é incrível. Onde encontro as perguntas anteriores?
Basta entrar na coleção Mentoria PdH.
Mike, um presente pra você:
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