Eu sei que você vai me julgar, vai falar que eu pirei na batatinha (se você realmente falar isso, me explica, por favor, de onde vem a expressão?), vai falar que eu traí o movimento. Eu sei. Num primeiro momento fiquei meio envergonhado, “O que as pessoas vão pensar?”.

Coitada da minha mãe. Cidade pequena, vão falar até. Depois de ficar com a consciência pesada, por fim relaxei. A merda já estava feita.

Caro leitor, eu confesso. Comprei uma versão original do Windows. Com direito a um serial original só meu, direto do site da Microsoft. Coisa fina. Meu “eu” do início dos anos 2000 iria olhar com essa mesma expressão de completa incredulidade que você está olhando agora.

“Pedro Américo, you broke my heart”

Não me olhe assim, eu sei que é estranho no início, mas você acaba aceitando que algumas pessoas sejam diferentes assim. Você acostuma.

Mas a confissão não acaba aqui. Ainda tem mais. Muito mais

Nunca fiz jailbreak do iPhone, compro jogos originais para o PS3, assisto séries apenas no Netflix, compro jogos nas promoções sensacionais do Steam (em reais caro leitor, em reais!), filmes só no cinema, no Blu-ray, ou no pay-per-view, passei a comprar quadrinhos direto do app do ComiXology, livros já já eu compro na loja do iBooks, agora com livros em português, filmes antigos legais para assistir no Crackle.

Eu sei o que você está pensando está aí, levantando suas muralhas, chamando suas tropas e preparando a sua defesa. Dedos em riste para contra atacar a minha recente caretice.

“Mas nós não temos opção”
“Não tenho dinheiro para pagar”
“Tudo é tão caro”
“Baixar e tão fácil”

As opções você já viu lá em cima. Sem contar que a Amazon tá vindo com tudo pro Brasil. Sobre os outros argumentos…

Já pensou em quanto vale em dinheiro uma hora do seu dia? Duas horas? Um dia inteiro? Faça um cálculo rápido aí, pegue o quanto você ganha por 8 horas na “firma”, divida por 8 e voilá.

Esse é o montante que você leitor vale por hora.

Agora calcule quanto tempo você gasta para baixar um filme em qualidade Full HD, depois o tempo procurando legenda, depois o tempo ligando os cabos ou a forma qualquer que você usa para ver o filme na TV. Coloque variáveis tais como a internet que você “gastou”, energia para deixar o computador ligado e etc.

Me diz. Vale realmente a pena baixar o filme ou comprar um ingresso no cinema? Comprar o Blu-ray com certeza é mais barato. Quiçá a edição especial ainda. Quando eu fiz a conta nunca mais baixei filme. E isso já faz bem uns 3 anos. Além do mais, eu sou viciado em embalagem. O livrinho, o cheiro. Até aquele plastiquinho maldito tem lá seu charme.

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Não é panfletagem

Que fique claro que eu não estou aqui fazendo um discurso sobre como piratear é isso ou aquilo.

“Você não faria o download de um carro”

Nada disso. Só estou compartilhando como que, na maioria das vezes, compensa muito mais adquirir da maneira legal certos prazeres. O Brasil está recebendo muita atenção da indústria de entretenimento de forma em geral, o que facilita e muito.

Eu sei que, no fim das contas, pelos meios errados eu estou aos poucos abandonando a pirataria. Não sou hipócrita, não estou fazendo isso por alguma ideologia, pelo menos não de início. A preguiça monumental que tenho me levou para isso.

Dá muito, mas muito menos trabalho comprar a obra original. O bom é que, além de alimentar minha preguiça, alimento a indústria. Quanto mais a pirataria diminuir, mais atrativo se torna o nosso mercado, preços vão ficando mais baixos, coisas bacanas serão lançadas aqui e por aí vai.

Na lista de eliminação da pirataria, só falta música e os softwares gráficos, conhecidos como “Pacote Adobe”, ou Creative Suite, se você prefere. Para comprar, é um preço absurdo, mas existe já um sistema de assinatura, pagamento mensal que me chamou a atenção.

Música eu já não baixo há muito tempo, por preguiça mesmo (olha a danada aí de novo). Preguiça de caçar o torrent, ver se tem “sementes” suficientes e aquela chatice toda. Outro dia quase comprei um disco no iTunes. Mas achei que comprar o Windows original e baixar um disco inteiro legalmente na mesma semana seria chocante demais.

Imagina eu chegando e contando no almoço de domingo para o meu pai.

— Pai, comprei o Windows original

— CUMÉQUIÉ?

— Comprei a discografia inteira do AC/DC no iTune…Pai? PAI?

Nenhum pai quer ouvir isso assim, num almoço de domingo.

Pedro Turambar

Pedro tinha 25 anos e já foi publicitário. Ganha a vida fazendo layouts, sonha em poder continuar escrevendo e, quem sabe, ganhar algum dinheiro com isso. Fundou o blog <a>O Crepúsculo</a> e tem que aguentar as piadinhas até hoje. No Twitter