Em maio deste ano fui convidado para fazer parte da Absolut Akademi, o programa de treinamento da marca para profissionais de mídia. Nada mal, afinal de contas teria de dar um rolê pela Suécia visitando fábricas, fazendas e locais históricos com um grupo de jornalistas e blogueiros que tornaram a viagem ainda mais inesquecível.
Essa formação é um poderoso instrumento para preservar sua essência, uma vez que participamos de uma verdadeira dissecação pelas entranhas da marca, literalmente.
Åhus
Começamos pelo sul da Suécia, em uma cidade de menos de 10.000 habitantes chamada Åhus, de onde sai, pasmem!, toda Absolut consumida no mundo. São produzidas 450.000 garrafas por dia e isso corresponde a 90% da capacidade de produção da fábrica. Estamos bebendo pouco ou eles que trabalham muito?
No primeiro dia nós tivemos uma apresentação sobre como tudo começou com o Sr. Lars Olsson Smith, suequinho arretado que aos 14 anos já era conhecido como o Rei da Vodca. Na verdade, acho que ele era até mais que isso, já que o próprio monarca sueco frequentava sua casa para usar o banheiro, artigo raríssimo nos idos de 1850. Incrível perceber quanto do seu espírito empreendedor e seus ideais ainda estão presentes até hoje no mindset da marca.
L.O. Smith, como é chamado, era um obcecado pela constante melhoria dos processos. É por isso que, até hoje, a Absolut só é feita em Åhus. Um dos principais ingredientes para uma boa vodca é a água. A marca possui uma fonte puríssima longe de qualquer contato com a poluição das grandes cidades, o que assegura o padrão de sabor do produto final. Já comprovei pessoalmente a experiência de degustar uma mesma marca de bebida vinda de dois países diferentes e, por causa do teor de elementos presentes na água, é notável a diferença. Ou você acha que a água por aqui é igual à da Índia?
Depois de entender as origens deste universo fomos conhecer a fundo a personagem principal de tudo isso: a vodca. Ao contrário do que você deve estar pensando, não fomos a nenhum bar encher a lata, mas sim a uma das mais de 300 fazendas que fornecem o trigo de inverno (winter wheat) sob um rigoroso controle de qualidade e melhoramento de processos. As fazendas não pertencem à Absolut, mas ela faz de tudo para que elas produzam cada vez mais e melhor, pois é uma parceria que favorece ambos os lados. O trigo é plantado no outono, passa o rigoroso inverno sueco sob o solo congelado e volta a crescer na primavera, o que garante alta concentração de proteína. Por isso a Absolut tem um acentuado sabor de grãos.
Visitamos outra fazenda onde tivemos um toque de sofisticação ao excelente visual bucólico: um jantar-workshop que ensinava a usar vodca para criar molhos e sobremesas. Fomos divididos em três grupos, cada um responsável por uma etapa do jantar. Como caí no grupo do prato principal e ele era filé mignon de veado com cogumelos e molho com Absolut Vanilla e Peppar, fiquei encarregado de preparar os filés no melhor estilo gaúcho: na brasa. Sucesso total e um grande aprendizado para quando receber os amigos em minha casa. Tudo regado a excelentes vinhos e, óbvio, à simpatia do grande barman Bjorn, que fazia o drinque que quiséssemos no bar montado em um dos cômodos da casa. Era como um parquinho de diversões só pra você, pois é óbvio que, depois de tanta “diversão” natural, eu sentia que andava numa montanha-russa na hora de deitar.
Quando fomos conhecer a fábrica, aí sim me senti uma criança, pois pudemos ver de perto e perguntar tanto quanto quiséssemos sobre o processo de destilação contínua que garante pureza e limpidez. Fiquei particularmente interessado pela etapa de fermentação do trigo. Como craftsman que se preza, gosto muito de ver as origens do álcool. Conhecemos todo o ciclo produtivo: da moagem do trigo ao despacho das garrafas para todos os cantos do mundo, passando pelo armazenamento totalmente automatizado. Incrível como essa experiência contribuiu ainda mais para minha forma contemplativa de apreciar bebidas. Agora também fico pensando no esforço e dedicação de cada pessoa envolvida até ela chegar no meu copo.
Estocolmo
Manjando tudo da história e da produção de Absolut, era hora de voar pra Estocolmo curtir um pouco de jetset com mais drinques, baladas e muita, muita arte. Ao sair do aeroporto já fiquei pagando pau para a capital sueca: uma cidade com arquitetura e design apurados e reconhecidos mundialmente, ruas limpas e uma quantidade incontável de bicicletas na ruas convivendo harmonicamente com os carros. Em passeios noturnos cheguei a ver centenas de bicicletas estacionadas sem cadeado. Ô inveja…
Assim que saímos do avião fomos direto para o Icebar Stockholm tomar os drinques de boas vindas. Um belo lugar a -5°C onde até os copos são feitos de gelo e as paredes são esculpidas por artistas locais. No dia seguinte, participamos de um workshop de drinques em um bar “escondido” no restaurante 1900 com outro bartender que também chama-se Bjorn, onde ele apresentou clássicos revisitados com xaropes homemade e vodcas flavorizadas.
A trip ainda teve uma visita exclusiva à coleção de arte de Absolut. Manja todas aquelas obras que vemos nos anúncios? Todas lá, em um lugar que mais parecia um bunker. Extremamente bem trancados, estavam ali para nossa apreciação Andy Warhol, Keith Haring, Helmut Newton, entre muitos outros que, do final dos anos 1970 para cá, estiveram (ou estão) no topo da apreciação mundial quando se fala em arte.
Por falar em arte, também estivemos no Atelier Absolut, um espaço montado no coração de Estocolmo para fomentar a criação, a inspiração e o cultivo de boas ideias, para uma sessão de cinema do filme I’m here, de Spike Jonze, patrocinado pela marca.
Fomos a alguns bares, tantos que nem dá pra citar, e a uma balada em especial, onde tínhamos um camarote, várias garrafas de vodca (adivinhe qual?) e alguns mixers. O instinto de bartender falou mais alto e me encarreguei de manter todos os copos cheios e os rostos sorridentes. Depois só colhi os elogios. O único percalço dessa noite foi quando chegamos ao limite de consumo de garrafas permitido por lei, pois a Suécia tem severas leis para não ter problemas sociais com a bebida, já que o país é um dos maiores exportadores de vodca do mundo. Num determinado momento, não podíamos mais pedir garrafas. Note bem, não podíamos mais pedir garrafas de vodca. Então usei a astúcia criativa típica dos brasileiros e pedi 15 copos para continuar animando a galera. Daí tudo bem, a lei só fala de garrafas mesmo.
No nosso último dia em terras suecas tivemos uma sessão de análise sensorial ministrada por Per Hermanssson, o homem que cria todos os sabores da marca, conhecido como “Per Ception”. O cara nos deu uma verdadeira aula sobre como funcionam nossos sentidos, fez algumas experiências para que entendêssemos como olfato e paladar se complementam para formar o que conhecemos por aroma, o que é diferente de “cheiro”. Após essa instrução, fizemos uma sessão de degustação para entender as diferentes características das vodcas a partir de suas matérias primas: grãos, trigo e frutas. Encerrando a tarde tivemos a “cerimônia de formatura” na Absolut Akademi, onde recebemos nossos diplomas de graduação alcoólica.
De volta ao Brasil e à cachaça brasileira
Após uma semana imerso nesse universo fascinante, voltei para casa cheio de boas histórias e com a plena certeza de que ainda temos muita oportunidade no Brasil, se pensarmos que temos uma bebida legitimamente nossa que é tão discriminada e marginalizada. A forma como a “civilização brasileira” surgiu explorada inescrupulosamente se reflete até hoje na forma como a maioria das cachaças são feitas por aqui: visando somente o lucro e a vantagem pessoal. Adoraria ver pelo menos um Lars Olsson Smith por aqui, para que também tivéssemos uma marca mundialmente reconhecida por sua qualidade e mindset.
O caminho está aberto. Quem se anima?
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