Ah… a preguiça.
Dos sete pecados mortais, esse talvez seja o mais constante no nosso cotidiano. Cá entre nós, todo mundo curte uma preguicinha de vez em quando, aqui ou lá, no sofá, na cama ou no pufe. Para alguns indivíduos, no entanto, a preguiça não é um pecado. É um estilo de vida.
Eu tenho um amigo que, basta eu dizer estar cansado, para ele retrucar: “ô Pedrão, cê nasceu cansado…”
Mas somos sobreviventes, uma espécie em extinção que perdura apesar dos constantes percalços da civilização. Ou você acha que um preguiçoso vive de sombra e água fresca? Lutamos dia a dia para permanecermos vivos e, mais que isso, autênticos. Não lutamos muito, isso é verdade, mas matamos um leão por dia.
Não. Um leão seria demais. Um camundongo.
Poxa, esses bichinhos são rápidos a beça, né. Bom, a gente não mata nada, mas poderíamos passar um dia inteiro assistindo.
Vai ver tem gente que nasce cansada mesmo. Carga de vidas passadas, sei lá. Talvez são pessoas que descobriram cedo não valer a pena viver no 220, a 200 por hora. O preguiçoso assim o é, por entender bem que as maravilhas do mundo estão nas pequenas coisas, que a beleza da vida só é vista no ponto morto.
Ponto morto, aliás, deveria ser o nome de um clube de preguiçosos, um bar ou algo do tipo. Se bem que não ia se sustentar muito. O dono abriria a birosca tarde e os clientes entenderiam que já estaria tarde demais para ir a qualquer lugar e o melhor mesmo seria ver mais um episódio de Sons of Anarchy.
Porque há poucas coisas na vida que deixam um preguiçoso mais feliz do que ver na TV ou no computador um monte de gente fazendo um monte de coisas. .
É quase aquele sentimento gostoso e quentinho que a gente tem quando vê os pais dando um esporro no irmão. Ou o chefe ralhando com algum colega de trabalho que fez merda. Aquela pontinha de felicidade de não ser com você.
Aí você pensa: e se o Um Anel fosse dado a mim? Eu iria até o outro lado do continente pra jogar esse trem na lava?
Jamais!
Se dependesse de nós, preguiçosos, não existiria a jornada do herói. Na jornada clássica de Campbell, o herói recusa o primeiro chamado da aventura, para depois embarcar nela com tudo. Na (se assim alguém o estudasse. Não eu. Outra pessoa), a gente recusa o chamado, desliga o telefone, se ajeita no sofá e termina aquela missão de coletar pedaços da espaçonave no .
O Preguiçoso é aquele cara que você nunca se recorda de ver em pé. Se está em um casamento, uma festa de 15 anos, um churrasco ou em qualquer outra porra, ele está lá, sentado. Você se lembra dele sentado no carro na ida, mas não lembra dele ir andando até a mesa. É o amigo “traz mais um”. Tudo que você pega, tem que pegar em dobro. Salgadinho, bombom, cerveja… um para você e outro para ele. Enquanto a mãe da noiva acha que você é um folgado, você está só alimentando um preguiçoso.
Não se confunda. Existe uma grande diferença entre o preguiçoso de espírito e o preguiçoso de momento. O true e o poser. E essa diferença é a habilidade com os pés. E isso não tem — em absoluto — nada a ver com futebol (falando nisso, a posição preferida do preguiçoso é a de torcedor). Tem a ver com você conseguir utilizar os pés para fazer tarefas que até Odin duvida.
Tem gente que pega talheres, controles, nenéns. há pessoas que conseguem abrir gavetas, pegar roupa e pequenos objetos do chão. Eu já descasquei um limão siciliano. Só não faço isso de novo e coloco no Youtube porque, você sabe né, dá uma preguiça do cacete filmar e editar.
Depois de alguns anos, além das habilidades físicas, desenvolvemos a maestria na evolução da preguiça. Que é procrastinar. Que é tipo o pecado como patologia. Não é por mal. Não é por bem também, isso é óbvio.
O procrastinador roots, procrastinador moleque, não é o que diz “se eu posso fazer amanhã, porque eu faria hoje?”, e sim “se eu posso fazer daqui seis meses, porque eu faria amanhã? E se posso fazer daqui seis meses, por que diabos eu preciso fazer?”.
Procrastinar é “preguiçar” 2.0
Penso cá com meus botões sobre nosso clube informal.
O Ponto Morto.
Sempre que eu vejo O Náufrago, me pergunto se algum de nós conseguiria fazer uma machadinha que seja. Eu, com certeza, ficaria maluco a ponto de ser amigo de uma bola. Mas nunca conseguiria construir uma jangada, ou aquelas cabanas maneiríssimas. Eu seria o pior náufrago de todos os tempos. Toda a galera do “Ponto Morto”.
Imagina a gente lá, todos juntos, com as mãos cruzadas nas barrigas protuberantes, reclamando que alguém devia fazer alguma coisa…
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