Na minha rua, tem um chaveiro.
Quando ele sai para atender alguém, deixa o quiosque aberto, como se tivesse ido só ali na esquina, mas ainda de olho, já voltando.
As pessoas aparecem para contratá-lo, veem tudo aberto e olham em volta — ele deve estar vindo, não?
Mas ninguém chega.
Aí perguntam pro garçom do boteco em frente:
"Cadê o chaveiro?"
"Deve estar atendendo alguém."
"Mas deixou tudo assim aberto e destrancado?! O chaveiro?"
"Pra senhora ver!"
As quase-clientes bufam as ventas, circundam o quiosque, batem o pé: não sabem se ficam ou se saem, se guardam o forte ou se quebram tudo. Acabam sempre indo embora, frustradas. Onde já se viu!?
Daqui a pouco, o chaveiro volta, senta lá dentro e espera, plácido, como um mestre zen dentro do seu koan, ensinando uma lição que ninguém compreende.
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