São 00h17 de segunda-feira, 18 de novembro de 2013, um bom horário para estar dormindo. Mas não estou.

Uma pergunta me atormenta.

O que significa o sentimento que parece tomar conta de toda a humanidade durante as noites de domingo? Algo que parece deixar o ar mais denso, as cabeças mais preocupadas, corações palpitantes, uma depressão instantânea e contagiosa que é potencialmente difundida como epidemia feroz pela voz de Fausto Silva, pelas vinhetas sonoras do Fantástico, pelas buzinas distantes das motocicletas que entregam pizzas e rolinhos primavera nas ruas iluminadas da zona sul. Qual é o significado disso tudo?

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Muita coisa, filosoficamente falando.

A iminência da segunda-feira, para certos cidadãos prevenidos e bem disciplinados, significa a proximidade de mais uma batalha temporária, um sacrifício momentâneo — porque, convenhamos, toda segunda-feira é uma árdua missão a ser cumprida — travado antes da aposentadoria em prol de conquistas maiores.

Esse tipo de cidadão é praticamente onipresente na atual sociedade contemporânea de classe média brasileira: nós, que não somos ricos nem pobres, trabalhamos oito horas por dia, usamos cartão de crédito para parcelar e de débito nos restaurantes do fim de semana, vamos ao cinema, ao bar, à banca de jornal, e compramos panetones nesta época do ano.

Vou fechar um pouco o foco: nós, uma nova geração ensinada a cumprir tabela em troca de um futuro promissor. Ensinada a entender que a vida aqui não é fácil – e ralar para colher uma horta gorda é a maneira mais digna para alcançar o clímax de uma existência confortável: a estabilidade.

Então, quando a segunda-feira chega para um grupo de yuppies revoltados, integrantes estreantes da famigerada geração Y, a vida vira um terror. A segunda-feira representa o fim precipitado de uma curta temporada de prazer — o fim de semana. A segunda-feira significa o início de uma luta agonizante contra as próprias vontades.

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A segunda-feira é a punição antecipada forjada para compensar o cochilo depois do almoço, o chope Brahma desenfreado, o sapato novo encaixotado, o milk shake de Ovomaltine e, mais além, a caminhada sem compromisso, a curiosidade sem resposta sobre o próximo destino, enfim, a liberdade total e absoluta.

Finalmente, leitor, a segunda-feira nada mais é do que o símbolo reluzente da nossa brutal capacidade de nos acomodar.

Inquietar-se com a iminência da segunda-feira não significa detestar a própria rotina, mas talvez seja um sintoma de que algo precisa ser ajustado. Faz algum tempo que deixei de me coçar por conta de segundas-feiras – mas, vez por outra, isso acontece. A melhor forma de encontrar a cura imediata: faça.

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O que tiver de fazer, faça.

Bruno Abbud

É repórter da revista Fluir, ex-repórter da Veja e da Band. Cruzou 400 km de moto na Tailândia, já foi DJ, garçom, faxineiro na Austrália, lavador de pratos, entregador de pizzas e colhedor de uvas. É escritor inspirado por Jack Kerouac e Gay Talese e autor do blog <a>Juventude Fugitiva</a>."