Há tempos eu queria escrever sobre pênis para o Papo de Homem. Aqui já existem vários textos sobre o tema, como este, da Redação, e este, da Gabriella Feola, mas as dúvidas continuam em conversas com amigos e nos emails que recebo de leitores – e não têm só a ver com tamanho. Desta vez, traremos algumas perguntas e respostas sobre a genitália masculina,  uma espécie de FAQ (Frequently Asked Questions) sobre pênis e escroto.

Antes de mais nada, é preciso lembrar que a masculinidade hegemônica e o patriarcado estão ligados a uma cultura falocêntrica, onde quem tem pau, tem razão, e quanto maior, melhor. Esse é um modelo que oprime as mulheres e traz muita ansiedade e insegurança aos homens, comprometendo sua autoestima e impedindo a entrega necessária para que o sexo se torne uma ligação com o invisível.

As perguntas abaixo foram sugeridas por amigos, amigas e leitores. Outras dúvidas são bem-vindas nos comentários ou por email!

1. O pênis pode quebrar?

Muito resumidamente, o pênis é um conjunto de três “cilindros retráteis” dispostos em um triângulo invertido: dois corpos cavernosos em cima, e um corpo esponjoso embaixo, por dentro do qual passa a uretra. Quando há um estímulo adequado para a ereção, os corpos cavernosos se enchem de sangue e crescem. A túnica albugínea, uma capa fibrosa que envolve os corpos cavernosos, acaba comprimindo as veias do pênis, impedindo o sangue de voltar e mantendo a ereção.

FONTE: https://www.anatomiadocorpo.com/penis/

É essa capa que, muito raramente, pode dobrar e “quebrar”, geralmente durante uma relação sexual. Quando isso ocorre, o homem costuma sentir um estalo no pênis, seguido de flacidez, dor e hematoma.

A fratura peniana é uma emergência médica, geralmente exigindo cirurgia, que busca evitar sequelas como disfunção erétil, desvios permanentes e ereções dolorosas.

2. Por que alguns homens tiram o prepúcio?

O prepúcio é a “pelinha” que cobre a glande, e ela pode ser retirada na infância por motivos culturais ou religiosos – quando é mais conhecida como circuncisão. Outro motivo comum para uma postectomia (retirada do prepúcio) é a fimose, situação na qual a pele não é capaz de abrir o suficiente para expor a glande, causando dor e infecções locais, por vezes recorrentes. A parafimose, por sua vez, é quando o prepúcio consegue retrair e expor a glande, mas não consegue voltar e recobri-la; a pele fica então “esganando” o pênis e causando dor e inchaço. Quando isso ocorre, é necessário procurar rapidamente um médico, que irá aplicar gelo ou drenar o inchaço e, se necessário, realizar uma postectomia.

Alguns homens também buscam a retirada do prepúcio por questões de higiene. O prepúcio deve ser cuidadosamente lavado no banho, e a má higiene está relacionada a maior risco de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e câncer de pênis.

3. Tirar o prepúcio diminui a sensibilidade? Pode prejudicar o sexo?

Depois de tirar o prepúcio, a glande fica mais sensível por alguns dias, depois volta ao normal. Com o tempo, a pele da glande fica um pouco mais ressecada e sua sensibilidade pode mudar, mas isso não atrapalha o prazer sexual ou a capacidade de ter e manter uma ereção.

4. Meu pênis é pequeno?

Essa dúvida é bastante comum, e sua resposta mais usual é que “tamanho não é documento”. Sempre entendi que se falava de um documento de identidade, algo com dados, foto e assinatura, que identifica alguém em uma comunidade. Hoje percebo como esse tipo de identidade não cabe em um contexto complexo e essencialmente relacional, de conhecimento íntimo entre duas (ou mais) pessoas. Sexo não se trata de uma boa apresentação, mas de um bom encontro.

Uma pesquisa estadunidense de 1942, talvez a primeira sobre o tema, mostrou que a média de comprimento peniano entre adultos era de 13,3 cm, variando 1,6 cm para mais ou para menos. É importante assinalar que essas medidas, assim como em pesquisas mais recentes, são feitas com o pênis flácido, tracionado pela glande até o máximo tolerável, e considerando a distância entre a base e a ponta do órgão (sem incluir o prepúcio).

Essas medidas podem variar conforme a etnia e a região. Um estudo com crianças e adolescentes búlgaros publicado em 2010 mostrou que, aos 19 anos, a média de comprimento era de 9,46 cm, variando 1,12 cm para mais ou para menos. Depois dos 16 anos, não há um ganho significativo no comprimento. Outra pesquisa com crianças e adolescentes, dessa vez feita no Brasil e publicada em 2007, encontrou uma média de 14,5 cm (variando 1,6 cm para mais ou para menos) entre jovens de 18 anos – uma faixa bastante razoável.

Para a Medicina, os pênis realmente pequenos são aqueles menores que 2,5 desvios-padrão da média para a idade – considerando 13,3 cm para um adulto, essa medida seria de 9,3 cm. O chamado micropênis não é uma doença em si, mas geralmente o sintoma de algum problema genético ou endócrino –quando não se trata, na verdade, de uma pessoa obesa e um erro de medida (falaremos disso abaixo). O problema pode ser diagnosticado ainda na infância, por observação dos pais, e o tratamento pode envolver desde reposição hormonal até cirurgia.

Sempre que se fala de tamanho do pênis, se esquece novamente de que o sexo é uma relação. A vagina (palavra que, em latim, significa bainha, o lugar onde se guarda uma espada!) tem cerca de 8 a 12 cm de profundidade em média e pode chegar a 15 cm quando a mulher está excitada. As fontes consultadas davam conta de diversas médias, mas o mais importante é que o formato e o comprimento da vagina variam de acordo com a mulher, a etnia, a região do planeta e a própria relação sexual.

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No caso do sexo anal, ainda há outras questões em jogo, como a dilatação dos músculos do ânus, o reflexo de evacuação e a sensação de “vazio” do reto. Assim, uma penetração mais superficial pode ser bem mais gostosa para os dois que uma penetração mais profunda e cinematográfica.

Conversei com muitas amigas sobre tamanho, e elas me contaram de suas experiências e de outras amigas. Dessas conversas, concluí duas coisas: os homens se importam muito mais que as mulheres com o tamanho do pênis, e o problema para elas são os extremos – ou seja, aquele rapaz de boina e toalha dos memes de WhatsApp deve se divertir menos que você. É claro que alguns homens e mulheres preferem parceiros com pênis bem maiores que a média, mas tudo bem. Tem gente que não vai gostar de você ter cachorro, tem gente que não vai gostar de você ser corintiano, tem gente que não vai gostar do sexo que rolou – não dá pra agradar todo mundo.

Enquanto escrevia esse texto, uma amiga me deu a seguinte opinião: “a mulher gosta do cara onde o pênis se localiza. Pra escolher tamanho, circunferência, cor, textura, tem o vibrador. E o cara tem que saber o que fazer com o negócio, e não ter vergonha do negócio”. Ser um cara legal, um parceiro sexual atencioso e não se deter apenas na penetração vaginal (veja algumas dicas para um bom sexo oral aqui e aqui parecem ser mais importantes que a fita métrica.

5. O pênis dos obesos é menor?

Espero já ter mostrado como a preocupação exagerada com medidas é desnecessária, mas sei que essa é outra dúvida das pessoas.

Um amigo cunhou a frase “cinco quilos, um centímetro”. Não acho que a conta seja exatamente essa, mas o excesso de gordura abdominal e púbica cobre a base do pênis, tornando-o visualmente menor. Alguns homens recorrem à lipoaspiração da região púbica, mas posições sexuais específicas podem contornar essa questão, e perder peso aumentaria o pênis e a saúde no geral.

Por curiosidade, ouvi recentemente que alguns homens têm se depilado em busca de um “visual maior”.

6. Existe um autoexame dos testículos, como o autoexame das mamas?

Duas mamas, dois testículos, uma preocupação: detectar o câncer precocemente.

Em primeiro lugar, tanto o autoexame das mamas quanto a própria mamografia de rotina têm sido questionadas por médicos e pesquisadores, na medida em que produzem muitos diagnósticos falsos-positivos e procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários.

Especificamente sobre palpar os próprios testículos regularmente em busca de câncer, o United States Preventive Services Task Force, instituição estadunidense que revisa pesquisas científicas em busca das melhores recomendações sobre prevenção, afirma que há moderada certeza de que essa prática não é eficiente.

Palpe seu saco e seus testículos de vez em quando – não por vigilância, mas porque esse é seu corpo. Sinta se o tamanho das bolas é parecido. Lembre-se do epidídimo, uma espécie de “gordurinha” colada no testículo, de onde sai o cordão que o liga ao abdome. Veja se não há manchas, feridas, verrugas ou caroços na pele e se não há ínguas nas virilhas. Achou algo diferente? Procure um médico.

7. Calça apertada faz mal para os homens?

Meu primeiro impulso é perguntar por que alguém usaria uma calça muito apertada. Nas mulheres, esse tipo de roupa comprime e abafa a vagina, favorecendo irritações e corrimento, especialmente candidíase.

Nos homens, elas também favorecem candidíase (que normalmente acarreta lesões avermelhadas ou esbranquiçadas e fissuras na glande ou no prepúcio, com ardência e/ou coceira), além de micose nas virilhas. Calças apertadas comprimem os testículos, o que é bastante incômodo e os deixa mais quentes do que deveriam ficar: os testículos devem estar a uma temperatura um pouco mais baixa que a do corpo, para que os espermatozoides sejam viáveis. É por isso que o saco estica quando está quente e encolhe quando está frio, embora ele também possa encolher em situações de medo ou vergonha –  um reflexo para proteger os testículos de algum trauma.

Pensando bem, os testículos são mais um motivo para que os homens usassem saias.

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Nota do autor: Olá, pessoal! Como vocês já sabem, sou médico e estou escrevendo aqui na coluna Consultório, de duas em duas semanas, às terças. 😉

A ideia é que a nossa coluna atenda às dúvidas e perguntas sobre saúde do homem que surgirem aqui nos comentários, mas também estamos monitorando as buscas que trazem acessos ao site (Google, confessionário da vida moderna) e, se não quiser se indentificar, pode mandar perguntas para o meu e-mail: aadmodesto@gmail.com.

Abraços e até daqui a 15 dias!

Antônio Modesto

Médico de Família e Comunidade e doutor em Medicina Preventiva pela USP. Professor na Faculdade de Medicina da Unicid. Carioca de sotaque e paulistano de coração, toca cinco instrumentos mas nenhum bem. Tem estudado gênero, saúde dos homens e medicalização da vida.