Era uma vez um mouse Microsoft bege claro. O nome desse mouse era 4lX584. Talvez esse não fosse exatamente o nome dele, mas era assim que chamavam ele na fábrica. Já havia alguma semanas que 4lX584 estava na caixa, ansioso pelo momento para o qual nascera, o momento em que seria plugado no computador do seu mestre e faria tudo aquilo que estava em sua programação.
Esse dia chegou, o dia para o qual ele esperara tanto. E ele cumpriu o seu papel como poucos. Ele tirara a sorte grande. Ganhou até um nome, Davi. Seu mestre o amava, passeava com ele pela tela durante horas intermináveis e maravilhosas. Matou inimigos com a mira perfeita, juntou exércitos para atacar o inimigo, desenhou linhas e curvas perfeitas. E até tinha uma relação amigável com sua vizinha, Carla, um teclado bem do simpático na opinião de Davi.
Ele amava seu mestre. Estava sempre lá para ele, sempre disposto, sempre pronto para servir. Porém o tempo é implacável, mesmo para pequenos mouses como Davi.
A cor bege clara, quase branca, foi ficando encardida ganhando um tom amarelo meio doente. A bolinha que fazia girar as rodinhas e que era a responsável por tudo aquilo acontecer, ou seja era o coração do pequeno mouse, foi ficando gasta. Se entupia e travava com muita frequência e Davi começou a sentir que seu mestre perdia cada vez mais a paciência com ele.
Até que chegou o dia que Davi temeu a vida toda. Ele estava conectado a um computador, e era um mouse esperto, sabia do lançamento de novas tecnologias. E desde o dia em que leu sobre os novíssimos e incríveis Mouses Ópticos, ele teve medo.
Medo de ser trocado, abandonado, de não poder mais fazer aquilo que tinha nascido para fazer. Davi ainda era jovem, mas gostava de trabalhar à moda antiga. Achava esses mouses novos muito mecânicos, sabe? Ele achava eles meio robóticos demais. Não tinham o mesmo charme que ele.
Porém o dia chegou, e Davi foi realmente trocado por um mouse óptico. Seu mestre o havia abandonado e o guardado numa caixa com outros aparelhos e cabos que nunca mais seriam usados. Fez bons amigos lá.
Porém Davi não sentia mágoa nem raiva. Se sentia triste por não estar fazendo aquilo que tinha nascido para fazer. Mas ele estava pronto. Sempre esteve pronto. Para fazer aquilo que esperavam dele.
E assim, sempre pronto, Davi espera por mais uma oportunidade.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.