Reciclagem, reaproveitamento, upcycle e o que o Bill Gates tem a ver com o seu lixo

Temos muito lixo, pouca água e problemas com a energia elétrica. Aqui, três opções para começar a mudar esse quadro

Dia desses fui presenteado - é provável que você também tenha sido - com o vídeo em que o bilionário Bill Gates, o fundador da lendária Microsoft, mandava para dentro um copaço cheio d’água produzida a partir de fezes humanas. 

Sem cara feia. Sem medo de ser feliz. Tudo na raça. 

É um desses dias em que, do nada, o mundo nos dá a chance de digitar as palavras “Gates”, “water” e “poop” no buscador do YouTube. Se não quiser ir até lá, dá para conferir tudinho aqui embaixo:

De quebra, como se já não fosse o suficiente, o vídeo nos explica que o processo para a produção do líquido mais precioso do universo acaba por gerar energia elétrica. 


B-I-N-G-O.

Pode parecer lorota, história da carochinha, mas vocês viram. Está tudo documentado. Talvez tenha passado despercebido por muita gente, mas não seria esse o ápice científico em matéria de reaproveitamento e reciclagem?

E nesses tempos de racionamento de energia e da reserva do Cantareira escorrendo pelo ralo para escapar da compreensão humana (surgiu um terceiro nível do volume morto agora, sabe-se lá de onde), o gênio que já estava em nossas vidas há tanto tempo (saudades, Windows 95) parece ter encontrado uma imensa mina de ouro no projeto-piloto financiado pela fundação que leva seu nome e está instalada lá em Dakar, no Senegal.

Em frentes diferentes é verdade, mas muitos por aqui também estão tentando pensar o assunto. É o caso do Ceará e o desconto nas contas de luz para quem troca recicláveis e o uso massivo de óleo de cozinha para produzir matéria-prima para o biodiesel. A Lei dos Resíduos Sólidos é realidade e as empresas precisam começar a fazer, de uma forma ou de outra, a sua parte. 

Mas não custa perguntar: quer dar uma passada por São Paulo, Sr. Gates? Se preferir outras paisagens, temos outros nove estados e o Distrito Federal precisando de uma mãozinha sua.

É fácil sentar no sofá e ver as mais variadas esferas de poder ruindo. Mas eu, você e principalmente a vizinha que insiste em lavar a calçada com mangueira temos tudo a ver com o problema. 

Abre aspas para a Mariana Roquette, aqui no próprio PdH:

Produzimos 1.2 kg dele (por dia e por habitante) no Brasil. A cidade de São Paulo é o terceiro maior polo gerador de resíduos do mundo, apesar de ser a 11ª ou 12ª economia, como mostra esse documento do Lixo Zero 2013 , do Instituto Ethos. 

Dá para incluir outros números nessa conta.  

Segundo um estudo divulgado pelo Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), mais de 24 mil toneladas de lixo deixam de ser coletados e são descartados de forma irregular diariamente no Brasil, fruto da falta de coleta regular (87,4% da população estão cobertas com o serviço). A pesquisa bianual Ciclosoft mostra que apenas 766 municípios brasileiros (14%) contam com coleta seletiva. Por fim, diz o IPEA, que todo esse gargalo faça com que o país perca R$ 8 bilhões todos os anos com o descarte incorreto de resíduos. 

Hora de libertar o Bill Gates que vive em você 

Basicamente, existem três principais formas de transformar os objetos que você descarta: reciclar (transformar algum material, o plástico, por exemplo, num outro material que passa a ser usado do zero), reaproveitar (produzir adubo a partir de cascas de frutas) e upcycle (desconstruir um antigo móvel e transformá-lo num mobiliário totalmente diferente). 

Então, vamos para ideias simples, realizáveis e de (pouco o quase nenhum) sofrimento na execução. 

1. Reciclagem

Se você fizer a sua parte, os lixões e aterros sanitários passam a não ser obrigatoriamente o único destino para o lixo doméstico que é gerado dia após dia. A prefeitura de São Paulo quer incentivar a medida e o site do projeto tem altas dicas maneiras de como ajudar a sua cidade a se livrar dessa enorme quantidade de entulho que é gerada.

Mas se você está fora da capital ou não quer esperar para receber o material cedido pelo município, dá para aprender a como botar a mão na massa e montar sua composteira.

2. Reaproveitamento

Um dos traços que une a geração nascida no final dos anos 80 é que boa parte dessas pessoas passaram pela experiência de ter um enorme computador em casa e ter convivido com essa coisa jurássica chamada disquetes. Não sei se você se livrou da suas enormes estações, mas talvez tenha sobrado um monitor sem uso com seus tios ou até na casa de seus avós. 

Bem, ele pode dar origem a isso aqui: 

Nada pessoal, Bill. Era a foto mais bacana.

Mas, de repente, sobrou aquela TV dos anos 70 que milagrosamente ainda funciona e você tem dó de dar embora:

Foi aqui que seu pai viu o Pelé dar aquele drible no goleiro do Uruguai na Copa do México

O disquete pode virar arte. Que tal a ideia do Nick Gentry?

3. Upcycle

Por último, mas não menos importante, o upcycle. É aqui que entra realmente toda a sua criatividade que permaneceu escondida durante todos esses anos. 

Ok, não vamos mentir. 

É tudo muito mais complexo do que a cama de gatos (e pequenos cães) reutilizando um antigo e abandonado monitor ou televisão. Mas se você é fascinado por ressignificar objetos, esse é o seu ramo.

Que tal criar um sofá a partir de uma banheira velha e que já ninguém quer mais? Tem todo o passo-a-passo no site Instructables e, por favor, caso alguém finalize uma belezinha dessas, nos mande as fotos.

Outro desafio digno de todos os esforços, mas que pode se tornar a menina dos olhos da sua vida é a produção de instrumentos musicais a partir de produtos recicláveis. O pessoal da Atlanta Symphony disponibilizou em PDF  uma série de tutoriais para você criar o seu.

De boas aqui tocando um Mozart com o meu violino estilizado

Aliás, tem esse projeto dos catadores paraguaios que criaram uma orquestra depois de passar a transformar lixo em instrumentos. Saca só:

Curtiu? 

Então a gente se vê por aí. Quem sabe numa orquestra reciclável ou num vernissage com água do Bill Gates.


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publicado em 23 de Janeiro de 2015, 00:00
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Rafael Nardini

Torcedor de arquibancada, vegetariano e vive de escrever. Cobriu eleições, Olimpíadas e crê que Kendrick Lamar é o Bob Dylan da era 2010-2020.


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