A Moon Shaped Pool: quanta música existe no Radiohead?

Um panorama completo da banda ao longo dos anos pra entender como chegaram ao último álbum, lançado nesta semana

Nota do autor: Pra quem clicou nessa matéria única e exclusivamente pra ouvir o novo álbum do Radiohead, vou deixar o link aqui, bem na sua testa. Mas recomendo fortemente que deixe o som tocando e continue lendo daqui pra frente.

* * *

O que você pensa quando alguém diz que vai rolar um show da banda dos caras da faculdade no fim de semana? Provavelmente, prevê que será uma merda.

Vai ter meia-dúzia-de-gato-pingado, geralmente os mais chegados dos integrantes. Eles vão ficar gritando os nomes deles entre uma música e outra e fingindo estarem gostando pra caramba das distorções exageradas do guitarrista e da performance do vocalista, querendo imitar algum pica do rock de quem é fã, mas parecendo na verdade um adolescente puto, cantando na frente do espelho do banheiro com um moicano feito com a espuma do shampoo. Resumindo, você teme que o som se pareça com isso.

Mas assim, colega, melhor dar uma chance. Se o convite fosse feito em 1986 e você morasse na Inglaterra, estaria perdendo a primeira apresentação oficial da On a Friday, banda dos meninos do colégio (para rapazes) Abingdon, de Oxford.

Tudo bem, eles tinham 18 anos na ocasião, mas há de se levar em consideração sua experiência. A On a Friday era seu segundo projeto. Aos 14 anos eles tinham uma banda de punk chamada TNT. Era um prelúdio de que a qualquer momento alguma coisa podia explodir. E explodiu. E quem teve um pouco mais de paciência e menos preconceito, viu a faísca.

On a Friday?

É. Este é o nome da banda formada em 1985 por Thom Yorke, Colin Greenwood, Phil Selway, Ed O'Brien e Jonny Greenwood. O nome foi escolhido porque sexta-feira era o único dia que eles podiam ensaiar.

Thom e Colin eram do mesmo ano, Phil e Ed O’Brien eram um ano mais velhos e Jonny um ano mais novo.

http://static.stereogum.com/uploads/2015/03/onafriday.jpeg

Thom Yorke foi quem recrutou um por um. Primeiro chamou o guitarrista O’Brien, pois o achava parecido com Morrissey. O baixista Colin Greenwood foi recrutado porque, segundo Thom, se vestia estranho. Depois surgiram o baterista Phil Selway e, por último, o irmão mais novo de Colin, Jonny, que começou primeiro como tecladista e depois foi pra guitarra.

Entre outros exemplos, Tell me Bitch é um dos resultados da época. Composição de Thom Yorke, de 1990, que ficou animadaço por ter escrito uma de suas melhores letras. Vale acompanhar a letra enquanto escuta a música. Perceba o embalo grunge, gênero que explodia na época, e um pouquinho das marchinhas punk da época de TNT.

Será que ele tinha alguma ideia que mais tarde escreveria Karma Police, No Surprises e Creep?

Depois de se formarem, os cinco começaram a gravar fitas demo e fazer vários concertos pela cidade. Em um deles, na Jericho’s Tavern, mesmo lugar em que a banda tocou pela primeira vez em 86, acabaram impressionando Chris Hufford e Bryce Edge, sócios na Oxford’s Courtyard Studios, que tornaram-se seus produtores. O primeiro resultado desta parceria foram os EP’s Manic Hegehog, lançado em 1991, e Drill, lançado em 1992.

Manic Hegehog (91) inteirinho no youtube. A capa foi desenhada por Thom Yorke. É um alien com um slogan do ladinho direito da sua cabeça, escrito ‘Work Sucks’

O fim de 91 foi fundamental pra banda. Chamando atenção de tudo e todos, o burburinho sobre o Radiohead chegou aos ouvidos da poderosa gravadora EMI, que fechou contrato de seis álbuns com os músicos. Mas havia uma única exigência: que mudassem o nome, com a justificativa que era muito comum.

Então, em 1992, nasce o Radiohead, nome homenagem a uma música que aparece no álbum True Stories, do Talking Heads.

De One-hit wonder à fama: Creep e The Bends

Depois do fracasso comercial com o último EP (The Drill), a banda resolveu contratar Paul Kolderie e Sean Slade (que já tinham trabalhado com bandas como Pixies e Dinosaur Jr.) para trabalhar em Pablo Honey, o primeiro álbum de verdade da banda.

One hit Wonders é o termo usado pra definir bandas que só conseguem emplacar um sucesso. E durante muito tempo foi assim que Pablo Honey foi visto: aquele álbum que toca Creep. Em pouco tempo, a banda também foi se transformando ‘naquela banda que toca Creep’.

Creep foi escrita depois de Thom Yorke ter sido rejeitado por uma garota na época da faculdade, quando trabalhava em um hospital psiquiátrico como assistente hospitalar. Jonny Greenwood até falou sobre o caso: “Thom estava mortificado, porque ele nunca tinha falado ou feito algo com ela. Ele a seguiu durante dias, semanas e já faz tipo uns três anos. E aqui estava ela. Thom estava muito perturbado depois disso”.

93: ano de Creep e do cabelinho miojo

Mesmo com Creep ganhando destaque, a revista NME descreveu a banda como ‘uma farsa’ e a música-do-álbum acabou sendo censurada na BBC e em praticamente todas as rádios norte-americanas porque era considerada “depressiva demais”.

Para espantar os fantasmas de ser one-hit wonder, de Creep e da garota da faculdade, Radiohead apostou em The Bends (1995), que trazia músicas mais competitivas entre si, emplacando vários sucessos, como High and Dry, Fake Plastic Trees, Just, My Iron Lung e Street Spirit (Fade Out) e eleito, em 2003, o 110º melhor álbum da lista de 500 melhores álbuns de todos os tempos, pela Revista Rolling Stones.

A temática central também deixou de ser cotidiana e passou a falar mais sobre a sociedade como um todo, abordando temas existencialistas – o que inspirou o restante dos álbuns da banda, principalmente seu sucessor.

BOOM! Ok Computer

O Dark Side of The Moon dos anos 90. Foi assim que muitos fãs e críticos intitularam o álbum messiânico da banda britânica, que no seu lançamento ficou entre os 5 discos mais tocados em 6 países diferentes, com destaque para a Inglaterra, onde ficou em primeiro lugar – os outros países são Canadá, França, Nova Zelândia, Suécia e Países Baixos.

A obra também foi a mais premiada da história do Radiohead. Ganhou como melhor álbum internacional no Danish Music Award; melhor LP no Prêmio NME e melhor álbum de música alternativa no Grammy Award, onde competiu com The Chemical Brotheres, The Prodigy, Bjork e com a aposta Earthling, álbum de David Bowie. Ano passado, Ok Computer foi considerado patrimônio histórico pela National Recording Story.

Herdando o viés crítico do seu antecessor, Ok Computer é altamente politizado e o primeiro álbum-conceito da banda, com uma mensagem clara do começo ao fim: a relação desenfreada que estava acontecendo no finalzinho do século passado entre homem e tecnologia.

Nas letras, encontra-se um Thom Yorke irritado, pessimista e simulando muitas vezes uma voz robótica. Isso combinado à instrumentalização excessiva, com muita sujeira e melodias futuristas, dá a impressão que entramos numa máquina do tempo e fomos direto para o futuro (um não muito promissor).

Capa feita pelo designer britânico Stanley Donwood. Segundo Thom Yorke, eis o significado da capa: "É algo a ser vendido a quem não quer realmente comprar, e alguém sendo amigável somente porque quer vender algo”

A sociedade distópica (mas nem tanto) criada pela banda foi inspirada em obras como 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Musicalmente, doses de música eletrônica vanguarda, como Kraftwerk e Dj Shadow, o pós-punk de Joy Division, os álbuns da segunda fase dos Beatles, o jazz de Charles Mingus e a fase fusion de Miles Davis também influenciaram a criação do álbum.

Paranoid Android foi emplacada nesse álbum, talvez a música mais relevante da história da banda. O título é uma referência ao Marvin, androide deprimido do Guia do Mochileiro das Galáxias. Bob Dylan (com Subterranean Homesick Alien) e Shakesapeare (com Exit Music (for a Film), que acabou virando trilha do filme Romeo + Julieta, do diretor australiano Baz Luhrmann) também são homenageados.

Kid A e Amnesiac (a não-música)

Com uma explosão grande demais, Ok Computer deixou sequelas. O Radiohead estava sendo idolatrado mais que nunca ao redor do mundo, o que jogou Thom Yorke em depressão profunda e deixou a produção do próximo álbum (neste caso, o Kid A) em forte pressão emocional. Horrorizado com a ideia de ser um rock star, Thom Yorke desmoronou.

Dezoito meses depois, o novo álbum estava pronto e vinha com a essência de ser algo completamente diferente. O Radiohead estava cansado de fazer rock – queriam apenas fazer música. E responderam desta forma: lançando a antítese do que era considerado música. Uma antítese com o nome de Kid A.

O álbum foi lançado em outubro de 2000 e chegou a ser chamado por críticos de ‘suicídio comercial’. Os instrumentos orgânicos, que já não eram tão protagonistas assim, deixaram de aparecer de vez, e a composição feita com sintetizadores e baterias eletrônicas conduziram o disco.

A voz de Thom Yorke virou nuances, melodias. As músicas trazem um climão pesado pós-apocalíptico, provável desfecho da batalha entre homens e máquinas travada no álbum anterior (Ok Computer).

How to Disappear Completely, quarta faixa do álbum, sintetiza bem quais forças empurram Radiohead para concluir a produção, com frases como “I’m not here, this isn’t happening” (eu não estou aqui / isso não está acontecendo).

Fato curiosidade: a letra desta música foi escrita por Thom Yorke, a partir de conselhos do seu amigo íntimo e vocalista do REM Michael Stipe.

Desafio: enviar nos comentários cinco fotos do Thom Yorke feliz

Nem a crítica negativa nem o próprio Radiohead conseguiram impedir o sucesso de Kid A. Mesmo com sua estratégia anticomercial, a banda alcançou o primeiro lugar do US Billboard 200 pela primeira vez. No começo de 2001, assim como tinha ocorrido com a Ok Computer, Kid A ganhou um Grammy de melhor álbum alternativo e foi indicado para melhor álbum do ano. Ironia ou profecia, o disco é o maior sucesso comercial deles até hoje.

E quem achou que alguma mudança brusca aconteceria no próximo álbum, como foi da passagem Ok Computer para Kid A, se enganou!

Amnesiac (2001) segue a mesma linha criativa de Kid A, inclusive carregando material que iria inicialmente ser lançado junto com seu antecessor. Há quem diga que o disco é uma espécie de ‘sobra’. Outros dizem que é um Kid A melhorado. Tomando partido, fico com a segunda opção. Até o protagonista da banda saiu em defesa da obra. Thom Yorke disse que “em Kid A” vê fogo na floresta. Em “Amnesiac”, se está na floresta”.

Em tempos de pirataria, Radiohead foi pioneiro

Quais são os melhores cursos de marketing do mundo? Um deles com certeza é a faculdade Radiohead de Marketing, que desde 2007, ano de lançamento do In Rainbows, vem dando aula gratuita (ou quanto você puder pagar).

2007 foi um ano de discussões intensas no mercado da música. O motivo? A internet e a pirataria estava tomando conta de tudo. Ninguém mais precisava comprar um CD, bastava baixá-lo pelo Ares ou Kazaa. E o Radiohead cagou tudo de vez quando decidiu, assim como no caso do Kid A, dar o que todos achavam que seriam outro tiro no pé: as faixas do In Rainbows, lançado em outubro naquele ano, foram distribuídas no site. O download tava lá, gratuito, e os fãs pagariam apenas se quisessem (e o quanto quisessem).

Dois meses depois, a banda lançou no mesmo site uma edição de luxo contendo a obra ‘In Rainbows’ em vinil duplo e CD, além de um disco extra com faixas não incluídas no álbum digital, desta vez precificada: 40 libras (na época uns R$ 160,00).

$0,00 pelo InRainbows? Tudo bem, você quem sabe

Dia primeiro de janeiro de 2008, o álbum é lançado nas lojas. Em uma semana, vende 122 mil cópias, tornando-se a segunda melhor estreia do Radiohead, atrás apenas de Kid A (com 207 mil em uma semana).

Na época, a Revista Rolling Stones qualificou o In Rainbows com quatro estrelas e meia, e o autor da resenha, Rob Sheffiel, disse que “tudo é incrível; nada ali soa como qualquer outra banda da Terra; entrega uma tamanha pancada emocional que prova que os outros roqueiros nos devem um pedido de desculpas". O disco ainda conquistou os Grammy de melhor álbum de música alternativa e melhor disco em edição especial limitada.

Neste ano, a cena se repetiu. Para o lançamento de A Moon Shaped Pool, os integrantes resolveram agir de forma inusitada: primeiramente, houve um apagão! Todos os perfis sociais (incluindo o da banda) foram apagados ou foram limpos, ficando em branco, dando um tremendo cagaço em todo mundo.

No dia anterior, os fãs receberam flyers com os versos "Sing a song sixpence that goes/ Burn the Witch/ We know where you live" (cante uma canção de seis centavos/ queime a bruxa/ sabemos onde você mora), o que só dois dias depois ia se descobrir ser o re-lançamento da primeira música do novo álbum: Burn the Witch.

Outro dia se passou e foi a vez de Daydreaming aparecer em forma de clipe.

Até que finalmente A Moon Shaped Pool surgiu, com outra estrategia maravilhosa de marketing, chamando atenção da mídia nacional e internacional, voltando os olhos do mundo todo para seu lançamento.

Quem é Thom Yorke?

“O que esse cara tem no olho?”

Thom nasceu assim, com o olho paralisado. Foi submetido a cinco operações de correções nos seus cinco primeiros anos. A última quase tirou a visão do olho esquerdo totalmente e acabou resultando no seu ‘olho-caído’. O que fez com que o pequeno Thom fosse apelidado de ‘Salamandra’ durante a infância e a adolescência (e muitos outros de lá até aqui).

Com tudo o que já disse aqui, dá pra pensar que a trajetória da banda é, consequentemente, a trajetória de Thom Yorke, já que ele estava lá, presente do começo ao fim com o restante dos músicos do Radiohead e pronto, é isso. Thom Yorke é o Radiohead.

Bem, não é bem assim.

O cara é onisciente! A quantidade de coisas que ele faz, os projetos em que participa, a carreira solo paralela à banda, sua outra banda paralela a Radiohead e as dezenas de participações em shows de outros músicos dão a impressão que o cara tem mais que dois braços, como se fosse um polvo do mundo da música. Ou o Goro.

Thom Yorke é, na verdade, Thomas Edward Thom Yorke, um coroa britânico que completará 48 esse ano. Pai de dois filhos e recentemente divorciado. Por volta dos sete, oito anos de idade, Thom ganhou sua primeira guitarra e a primeira referência: queria tocar como o Brian May, guitarrista do Queen. Aos 14, fundou a TNT, aos 18 a On a Friday e daí pra frente você já sabe da história, ou pelo menos a metade.

Enquanto Radiohead escolheu um caminho pra seguir, Thom Yorke escolheu dois. O músico resolveu criar uma carreira musical para além da banda. E tudo começou em 2006, com o lançamento de The Eraser, uma prova-viva da sua predileção pela condução ‘computadorizada’ da música ao invés dos instrumentos que, segundo ele, dão muito mais controle da produção (se vocês quiserem ver o Thom Yorke mandando a ver no PCzão, atacando de DJ, tá aqui o link de um Boiler Room dele). O álbum é lindo e a atmosfera lembra só de raspão o Radiohead daquela época, mostrando que a banda britânica não era monopolizada pelas ideias do vocalista.

Em 2009, ele se junta a Flea (do Red Hot Chili Peppers), Nigel Godrich, o  brasileiro Mauro Refosco e Joey Waronker pra criar um supergrupo de rock alternativo, o Atoms for Peace, e lançando o álbum Amok, com um Thom Yorke munido de vários falsetes absurdos contrastando com o baixo do Flea.

Prefiro ouvir as músicas deles rolando ao vivo, e este show aqui explica o porquê. Mas o que eu vou deixar mesmo pra darem o play aqui é esta performance maravilhosa de Ingenue (com o próprio Thom Yorke), música principal do álbum do Atoms for Peace.

Em 2014, é lançado Tomorrow’s Modern Boxes, o primeiro torrent pago da história, que em uma única semana rendeu mais de 1,3 milhão de downloads. Mais uma tacada de marketing. Com uma atmosfera digital, o álbum parece uma evolução do que foi The Eraser, com atmosferas melhor desenvolvidas e planejadas. As músicas do álbum podiam ser ouvidas dois meses antes do lançamento do álbum, no aplicativo lançado pelo Radiohead, PolyFauna.

Além de toda a vida musical, Thom Yorke também é ativista, ligado fortemente aos direitos humanos e os movimentos ambientalista e antiguerra, amigo de Noam Chomsky e do ecologista e jornalista George Monbiot.

Este lado político pode ser visto inclusive no Radiohead, com o álbum Hail to the Thief (2003). O título é uma crítica a George W. Bush e as músicas, que saíram da fase Kid A - Amnesiac e passaram a misturar orgânico e sintético, são em sua maioria voltadas à temática da guerra entre Estados Unidos e Oriente Médio, que foi intensificada a partir dos ataques às Torres Gêmeas.

Também vale citar que tem um posicionamento forte em relação à glamourização dos artistas. Thom é conhecido por não se relacionar com gente famosa. Kelly Jones, Jack Black, Miley Cirus e Kayne West já criticaram sua postura, mas essa parece ser uma de suas leis próprias.

"A diferença entre mim e Bono Vox é que ele fica completamente feliz em elogiar pessoas para conseguir o que ele quer, e ele é muito bom nisso, mas eu simplesmente não posso fazer isso. Eu provavelmente acabaria dando um murro na cara deles em vez de apertar as suas mãos, mas isso é melhor do que ficar fora do caminho deles. Eu não posso simpatizar com esse nível de besteira. É uma vergonha, verdade, e num caminho isso pode ajudar se eu quiser, mas eu não posso. Eu admiro o fato de Bono poder, e poder caminhar através disso cheirando a rosas."

A Moon Shaped Pool

Depois de um hiato de cinco anos, desde o ‘diferentão’ King of Limbs, que tinha a mesma pegada de Kid A e Amnesiac e com uma das faixas mais belas da discografia do Radiohead (Lotus Flower, que tem esse vídeo maravilhoso do Thom Yorke dançando muito), foi lançado A Moon Shaped Pool, através de uma estratégia de marketing impecável, que conseguiu a atenção que eles precisavam pra jogar no nosso peito mais uma bomba.

Em matéria de densidade, o disco não deve nada a nenhum outro feito pelo Radiohead. Pelo contrário, parece que dentro da mecânica de produção, esta densidade está mais controlada e equilibrada do que nunca, parece que de uma vez por todas a música não está mais engolindo ninguém, mas dada a nós na palma da mão para escolhermos se queremos ou não imergir nela.

http://static.independent.co.uk/s3fs-public/styles/article_large/public/thumbnails/image/2016/05/09/11/moon-shaped-pool-radiohead.jpg

A tristeza que ele traz (quase indissociável do Radiohead) é mais calejada e bonita, se parecendo menos com a de um jovem frustrado com o peso do mundo e mais com a de um senhor que anda devagar na rua, em um dia nublado, com um cachimbo na boca.

Burn the Witch abre o álbum, com uma pegada mais pop e dançante. Daydreaming é uma ambientação dos tempos do PolyFauna, belíssimo, encaixaria muito bem em um filme com a pegada do Her, por exemplo.

Tem até uma teoria rolando lá no Reddit de que o clipe dessa música é uma visita de Thom Yorke ao passado da banda, caminhando por cenários que se parecem com capas e clipes de músicas antigas.

Decks Dark e Desert Island Disk matam aquela saudade dos instrumentos, desta vez muito mais maduros. Quando Thom Yorke tocou Desert Island Disk, Numbers e Present Tense em Paris, cinco meses trás, respeitando o ritual da banda, que sempre apresenta algumas músicas de um novo lançamento em show, eu já esperava coisa boa. Mas no álbum ficou muito melhor! O violão é um soco.

Mas o destaque do álbum fica por conta de Identik, outra música dançante, que lembra muito que lembra muito Separator, do álbum King of Limbs, e Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief, com um coral arregaçando tudo cantando “broken hearts make it rain” (Corações partidos, façam chover), que recorda o coral do finzinho de Demon Days, do Gorillaz.

A impressão final do álbum é um pouco o que a teoria do Reddit propõe: um retorno ao passado, um refazer de tudo o que já foi feito, de forma mais madura, sem a possibilidade (e, às vezes, a glória) de erros. A música final, True Love Waits, também reciclada (o álbum começa e termina com duas regravações), deixa aquele sentimento que todo fim de álbum da banda britânica deixa: o de vazio e impotência. Mas sobretudo a mensagem de que o amor verdadeiro espera, assim como esperamos 5 anos pra experimentar mais um pouco de toda essa música que existe no Radiohead.

***

Depois de re-ouvir toda a discografia do Radiohead (inclusive o A Moon Shaped Pool) enquanto escrevia a matéria, decidi fazer uma espécie de ranking com meus álbuns preferidos, em ordem decrescente. Levei em consideração, claro, questões histórias, mas principalmente o quesito musical. Claro, essa é só a minha opinião hoje. Amanhã, talvez, eu mude. Gostaria de ver a de vocês nos comentários.

  • Amnesiac
  • In Rainbows
  • Kid A
  • Ok Computer
  • A Moon Shapeed Pool
  • King of Limbs
  • Hail to the Thief
  • The Bends
  • Pablo Honey

publicado em 12 de Maio de 2016, 10:30
1pdwpgh

Giovanni Arceno

Giovanni Arceno é estudante de jornalismo. Tem mais amor pela literatura que amor próprio.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura