Outro dia, estava eu no ônibus, e entrou um fiscal.

Ao ver que o pneu estava muito desgastado, disse aos passageiros que o carro não tinha como continuar viagem e que deveríamos descer e esperar pelo próximo ônibus.

Um dos passageiros começou a reclamar com o fiscal, dizendo que o ônibus tinha rodado até ali sem mais problemas e que não iria descer, porque estava atrasado para seu serviço, com o risco até de perder o emprego.

O fiscal explicou que o pneu estava em péssimas condições, que o ônibus nem deveria ter sido usado e, por questões de segurança, era melhor embarcar no próximo. Como o sujeito continuava discutindo, o fiscal acabou perguntando:

– O que é mais importante, seu emprego ou sua vida?

– Meu emprego, lógico!

Fui olhar pessoalmente o estado do pneu. Estava mesmo muito careca. De tão usado, já deixava à mostra sua fibra, que é o material que fica no meio da borracha. Nunca tinha visto um pneu tão desgastado como aquele.

E o sujeito continuava discutindo com o fiscal.

Em três minutos, já tinha chegado um outro ônibus. Todos nós, passageiros, alguns ainda reclamando, embarcamos pela porta de trás, para não pagar outra passagem.

Enquanto isso, o primeiro passageiro estava falando com o atendimento da empresa pelo telefone celular, revoltado com o fiscal que estragara sua viagem.

Quem é seu fiscal?

As pessoas parecem não saber mais lidar com seus contratempos. Ao se verem forçadas a sair de suas áreas de conforto, colocam a culpa no fiscal, que estava apenas fazendo seu trabalho e, pior, tentando protegê-las.

Às vezes, inclusive, o fiscal somos nós mesmos.