Quebra de sigilo

Chega a ser irônico pensar que uma das características mais ligadas à traição seja a cumplicidade.

Considerando relacionamentos monogâmicos e abraçando a generalidade (coisa da qual nos esforçamos tanto para fugir, mas que parece ser a única solução se queremos falar com mais gente), a cumplicidade precisa estar mais presente que a esperteza. Mais que a dissimulação, a falta de remorso, o impulso e todos esses outros elementos tão importantes na preparação do escapista eventual ou recorrente para o confronto com os limites do seu relacionamento.

Ela é o acordo de cavalheiros, é o "What happens in Vegas stay in Vegas" aplicado à traição. É um jogo que só pode ser jogado por dois, nunca só por um, para que haja paz de ambos os lados.

É bem simples: se você está trepando com alguém casado, e é bom, é natural querer continuar a trepar, contanto que algumas garantias sejam dadas. Agora, se você é casado e está trepando com alguém fora da sua relação, e é bom, é natural querer continuar a trepar, contanto que algumas garantias sejam dadas. Essas garantias são, na maioria das vezes, a cumplicidade: uma mão lava a outra e as duas seguem batendo palmas.

Daí meu estranhamento quando a Marie Claire premiou um texto no qual a autora conta não só que deu para um homem casado, como também dá pistas de quem ele seja, expondo a intimidade daquele acordo, dando os caminhos para "Vegas", aqueles que deveriam ficar secretos. Tão secretos, por exemplo, quanto o fato de que a autora do texto trepou com o tal roqueiro sem camisinha...

"Querida, veja aqui nessa foto como só ela me abraça. Foi só isso que rolou. O resto ela alucinou."

Mas esse assunto já está velho, né? Bom, mais ou menos: no dia 10/2 saiu uma notinha a respeito desse texto da Marie Claire em um site português. E, como aprendemos com o Vanucci, a Escócia "é logo ali". Pra alguém pinçar essa história e fazer um auê típico da imprensa do Reino Unido é daqui pr'ali...


publicado em 22 de Fevereiro de 2011, 09:37
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Pedro Jansen

Acredita que o caos alimenta a vida e que ter baixas expectativas é a melhor maneira de se surpreender todos os dias, com as menores coisas.


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