O surf é um esporte de verão, significativamente falando.
Mesmo sabendo que boas ondas não dependem do calor, a imagem histórica que temos é de um esporte praticado sob o sol escaldante que deixa viva as mexas loiras da Califórnia. Bermuda, músculos bronzeados em atividade, aquele som quente de trilha sonora. Havaí, hula hula dançada com folhas nos braços, flores na cabeça e nas estampas das camisas.
Pensar em surf é imaginar mormaço, calidez, ardência, fervor. Essas são as qualidades significativas do surf.
Por isso seria do mais interessante pensamento recortá-lo e colocá-lo em outro cenário, bem diferente desse que está enraizado em nossas cabeças. É assim que pensa o fotógrafo Chris Bukard, residente da ensolarada Califórnia. Para tornar tudo mais atraente, ele escolhe filmar e fotografar surfistas em regiões geladas, que pouco lembram os cenários tropicais típicos. Primeiro foi a Islândia, ao norte do Atlântico. Praias cinzas, pedras de gelo antes mesmo da rebentação. O cenário é muito não-convidativo para se atirar com prancha e tudo no mar. Mas assim o fizeram.
Dessa vez, a escolha foi ainda mais inóspita e, acreditem, de uma beleza ainda mais estonteante: o Círculo Polar Ártico.
Para conseguir sair com o carro, antes é preciso passar uma hora retirando a neve que cai constantemente em volta de tudo, inclusive dos veículos. Todo o cenário é de um encanto áspero, rústico e verdadeiro. E deve meter um medo danado. Um dos surfistas diz que “me sinto como se tivesse indo para a aguerra, colocando minha farda e tudo o mais”.
O medo da natureza.
O mar é crespo, a água entra dentro da roupa que supostamente protegeria os esportistas da baixíssima temperatura do ambiente.
O encontro encantador com a natureza. Para onde se olha, tudo é belo e sensorial. Perfeito para filmar, perfeito para fotografar. Chris diz que fica “imerso em sentimentos”.
É a quebrar se sentidos e significados e o desafio de fazer o que ainda não foi feito, além de aproveitar ao máximo o chamado da natureza.
Eu estou aqui, também, imerso em sentimentos.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.