Descendo a maldita timeline do Facebook esses dias e dou de cara com uma matéria da Folha de S. Paulo, publicada em 18/09 e compartilhada na rede social do tio Zuckerberg:

Análise: Cânticos de torcidas expõem boca suja e preconceitos racial e sexual

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Folha analisou os cânticos das torcidas de dez dos principais times brasileiros, de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. As palavras chulas usadas, se levadas a sério, sugerem injúrias raciais, sexuais e familiares.

Os cânticos foram extraídos de um site de letras, alimentado por usuários. Dificilmente, o site inclui todas as músicas cantadas pelas torcidas e é impossível saber quantas já caíram em desuso. Mas é possível ter alguma ideia sobre o vocabulário das arquibancadas.

Nesse ranking dos bocas-sujas, feito a partir dos xingamentos de estádio mais comuns lembrados pela equipe da Folha, o time mais boca-suja é o Grêmio (82 palavras), seguido por Palmeiras (71) e São Paulo (62). Isso se deve em parte ao fato de os torcedores do Grêmio serem os mais empolgados registradores de músicas na internet, tendo publicado 143 letras.

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Torcedores de Grêmio, São Paulo e Palmeiras, que estão na frente do ranking dos bocas-sujas (Foto e legenda da publicação da Folha de S. Paulo)

Um ranking de xingamentos racistas ou homofóbicos. Uma palavra e vai-se tudo para o buraco. Mais ainda, na chamada do Facebook, que atiçava a curiosidade, algo como “A folha listou as torcidas mais boca-suja dos estádios”. No compartilhamento que vi, uma garota lamentava por seu time estar entre os primeiros (não sei qual dos times era).

“Tenho vergonha do meu time.”

Vergonha eu tenho de quem faz comparativo de intensidade para falar de preconceito, crime de racismo ou atos homofóbicos. Não existe torcida mais racista, existe torcedor racista.

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E ponto.

Fazer comparação soa muito mais mote para que torcedores acusem — em forma de brincadeiras de mal gosto — quem é mais ou menos alguma coisa. Mais ainda, incitaria — mas aí não é culpa direta da publicação, mas a responsabilidade do jornalismo manda lembranças — mais atos de preconceitos entre torcidas.

O que poderia ser uma informação útil foi só mais uma dentre tantas distrações que temos e chamamos de informação. A matéria em questão começa falando da volta do goleiro Aranha, do Santos, na arena do Grêmio, palco de ofensas racistas contra o jogador do Santos. Na partida, agora já jogada, vaias foram disparadas contra o goleiro em sinal de desaprovação.

Na saída, esse papo:

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E você? Não tem nada a ver com isso?

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados