Recentemente, resgatamos um tema bastante discutido por especialistas, mas pouco debatido entre os homens: a disfunção erétil. Nesse texto, falamos um pouco sobre a dificuldade de ereção de maneira geral: qual o percentual de homens atingidos, quais as possíveis causas, caminhos para tratamento entre outras coisas.
Neste texto queremos aprofundar num ponto específico: a prótese peniana como uma alternativa para gerar a ereção. Queremos puxar um papo mais aberto sobre os implantes: quem precisa de prótese? Quais tipos existem? Como cada uma funciona? E como fica o prazer?
O que é uma prótese peniana?
Prótese peniana é um dos tipos de tratamento para a disfunção erétil. Geralmente feita de silicone (algumas contém metal), a prótese é inserida no corpo cavernoso, localizado na área dorsal do pênis, e tem a função de mantê-lo ereto para possibilitar que haja penetração numa relação sexual.
Como funcionam e quais os tipos de próteses?
Atualmente existem três tipos disponíveis no mercado, são elas:
Maleáveis ou semirrígidas: é inserida uma haste no corpo cavernoso, parte do pênis que armazena o sangue para gerar uma ereção. Esse tipo de prótese é relativamente firme e mantém uma rigidez constante do pênis, o qual pode ficar levemente dobrado ao longo do dia e pode ser esticado para os momentos de relação sexual.
Articuláveis: seguem a mesma forma de aplicação dos implantes maleáveis, porém com a diferença de que tem outro mecanismo para serem dobradas quando a pessoa não estiver em um ato sexual.
Hidráulicas ou infláveis: diferente das anteriores, estas contém válvulas hidráulicas. São inseridos dois cilindros no pênis, também no corpo cavernoso, um “pump” – uma bomba – na bolsa escrotal, e um repositório de líquido próximo a bexiga. Ao acionar a bomba pelos testículos, os cilindros são preenchidos com soro fisiológico, deixando o pênis rígido. Ao final, basta dobrar o pênis ou acionar uma outra parte da bomba para esvaziar os cilindros, deixando o pênis flácido novamente.
As próteses hidráulicas “imitam” o funcionamento natural do pênis e os pacientes recebem orientações de como acionar o dispositivo de forma discreta. Nenhum dos três tipos são perceptíveis visualmente.
Quer entender melhor?
Para entender melhor como as próteses funcionam, vamos deixar aqui um vídeo do Dr. Valter Javaroni detalhando as características físicas e de aplicação de cada uma das próteses.
Quem usa prótese, ejacula?
A função da prótese é manter o pênis ereto possibilitando a penetração. Para cada pessoa as possibilidades serão diferentes e dependerão do nível de sensibilidade. A prótese em si não altera a capacidade de ejaculação e não diminui a sensibilidade do pênis. No entanto, caso já exista uma perda de sensibilidade, a prótese também não trará uma melhora desta.
Quais os riscos?
A cirurgia para implante da prótese é bastante segura, sendo realizada desde a década de 1960. No procedimento, que dura entre 40 e 75 minutos e é feito com o paciente sob anestesia, é retirada uma pequena parte do tecido cavernoso, somente o suficiente para inserção das hastes ou cilindros — a maior parte do tecido é conservada. A internação varia entre 12 e 24h e o pós-operatório de 30 a 60 dias.
O tipo de prótese a ser utilizada dependerá de uma série de condições a serem conversadas entre médico e paciente.
Por ser considerada como tratamento funcional, a cirurgia também está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e é indicada para pacientes entre 21 e 92 anos. Para aqueles que dependem do SUS para realizarem o procedimento, precisam considerar uma possível demora na aprovação e realização, devido ao grande volume de procura do sistema de saúde pública. É importante saber também que o tipo de prótese disponibilizada pelo SUS é a maleável ou semirrígida.
Será que funciona, mesmo?
Segundo o Dr. Marco Túlio Cavalcanti, urologista e andrologista, o índice (médio) de aprovação da prótese peniana inflável é de 98% tanto para quem utiliza como para suas parceiras ou parceiros. Já a satisfação daqueles que utilizam a prótese maleável chega a 85%.
Sexo é só penetração?
Uma das características da sociedade atual é o chamado falocentrismo, onde boa parte dos comportamentos masculinos — a própria masculinidade, em si — giram em torno do pênis. Esse comportamento interfere também nos hábitos sexuais cujo prazer dependerá sempre de uma ereção. Será que sexo é só penetração? Será que não existem outras formas de sentir e dar prazer? Discutir disfunção erétil e utilização de próteses é uma possibilidade de repensar também esses aspectos.
Homens trans usam prótese peniana?
Para além dos homens com pênis que buscam a prótese para conseguir uma ereção, podemos falar também dos homens trans — os quais não nasceram com pênis — e que podem optar pelo uso de prótese como alternativa para a cirurgia de redesignação sexual (também conhecida como cirurgia de mudança de sexo).
Nem todos os homens trans optam por fazer a cirurgia de redesignação sexual. Muitos não têm essa vontade e há outros que são desaconselhados, por alguma questão de saúde.
Para aqueles que queiram, existe a opção de usar o packer, um pênis de silicone que não depende de implante. É um acessório externo que pode ser acoplado ao corpo quando a pessoa quiser. Além do volume, o packer possui as funções normais de um pênis, possibilitando a homens trans urinar em pé e também transar — o “pack” possui uma anatomia que permite que ambas as pessoas sintam prazer.
É fundamental ressaltar que as masculinidades vão muito além do pênis e da ereção. Ser homem não se resume a ter ou não ter um pênis biológico, ter ou não ter uma ereção orgânica.
Masculinidade biônica?
Os avanços tecnológicos estão presentes em tudo. Ações como voar de avião, viajar ao espaço ou mesmo as telecomunicações da forma como temos hoje, talvez fossem impensáveis há 200 anos atrás. Da mesma maneira, questões naturais como nascer, acordar e se alimentar, foram ressignificadas pela tecnologia. O que é natural e o que não é? Uma ereção com ajuda de prótese é uma ereção real? Natural e tecnológico não precisam ser contrapontos quando o assunto é bem estar.
Uma pessoa que volta a andar com ajuda de prótese é menos humana do que aquela que não utiliza desse artifício?
Não. Da mesma forma, o uso de prótese para a ereção não faz da relação sexual menos real.
Masculinidade: uma construção diária
Neste texto buscamos apresentar mais detalhes sobre as próteses penianas com o objetivo de fazer com que mais pessoas saibam das alternativas e possibilidades que existem dentro do campo de saúde sexual.
Entender essas questões também nos ajuda a refletir sobre nossa relação com o corpo e com o prazer. Se você está com disfunção erétil e pensa em colocar uma prótese, consideramos que algumas perguntas são importantes: qual o real objetivo por trás dessa decisão? É uma necessidade sua ou uma resposta às pressões que sofremos — mídia, amigos, parceiros e parceiras — todos os dias? Para a maioria das pessoas, de certo modo, o sexo proporciona bem estar. Já se perguntou o que te proporciona bem estar e satisfação sexual para além da ereção?
Colocar uma prótese te proporcionará uma vida sexual com mais qualidade? Será que outros aspectos da sua vida sexual, para além da ereção, não precisam ser revistos? Estamos muito focados no pênis e na penetração? Podemos pensar nossa sexualidade indo além disso?
Outra questão a se pensar é sobre a construção da masculinidade — enquanto homens somos plurais e não dá para obedecer a uma única, hegemônica.
Existem infinitas possibilidades de masculinidades, pois cada um é homem do seu jeito, a partir de diversos fatores e para além do que nos foi ensinado desde crianças. Você já se perguntou quem realmente é? Do que realmente gosta? O que de verdade gostaria de fazer e como gostaria de ser e agir?
Ponderar sobre si mesmo ajudará a responder tanto a essas como a diversas outras questões, inclusive sobre colocar ou não uma prótese peniana. O tempo passa e nós continuamos com as mesmas crenças, inclusive nos limitamos a acreditar que só seremos homens enquanto tivermos ereções.
publicado em 22 de Fevereiro de 2023, 20:25
